Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 4 de março de 2013

SEMANA DA MULHER : TININHA

                   A MULHER COMPULSIVA

Não teve infância a menina
Mas conservou o brilho no olhar
Trabalhou desde pequenina
Sem boneca para brincar

Cresceu com o dinheiro contado
Nada comprava -era pobre -
Não teve um vestido bordado
Nem um simples anel de cobre

Fazia as lidas da casa
E as lições da escola também
A mãe lhe ''cortava as asas''
Não brincava com ninguém

A menina Tininha um dia
Cresceu, casou como convém
O marido lhe deu regalias
E uma boa mesada também

Então se pôs a gastar
Frequentava jantares e festanças
Viajou por céu e por mar
Trouxe raridades como lembrança

Era suave e carismática
Católica, gentil, envolvente
Mas o consumo era sua prática
Dirigia-se às lojas diariamente

Em pouco tempo abarrotou
A casa de três andares
Bichinhos e bonecas colocou
No sofá , nas escadas, aos pares

Construiu outra casa -pasmem -
Com enfeites de todo o lado
Na geladeira, na pia, na garagem
Até o gato se sentiu ameaçado

Os brinquedos têm voz, tem luzes
O anjo e o Papai Noel  de pilhas
Conversam com Tininha -cruzes -
Substituem as inexistentes filhas

Tininha a casa eletrificou
Furtaram o sapo de pedra da entrada
E se levassem os cactus -pensou-
Ou as miniaturas importadas ?

Com a penão de juiz de carreira
Tininha lucrou mais uma vez
Já não era sem ''eira nem beira''
Compraria o baú chinês

É pena não dividir o quinhão
O apego não a deixa crescer
Mora nos fundos, por opção
Deita na cama estreita pra adormecer

Cozinha no fogão de duas bocas
- Os outros portam enfeites -
Pares de sapatos, bolsas e toucas,
Cabides de roupa, são o seu deleite

Tendo duas casas espaçosas
Ela foi parar num quartinho
Os bichos na cadeira preguiçosa
Estão confortáveis no ninho

Os filhos de corda e botão
Aprisionaram, há muito,Tininha
Sua carência virou compulsão
Já nem é mais do lar a rainha

Sem que percebesse a inutilidade
A vida lhe fugiu -que ironia -
Por inconsequência, não por maldade
Sem deixar rastros, marcas ou saudade

Imagino que em sua última hora
E na ausência de amizades sinceras
Abraçada às bonecas diga à Nossa Senhora :
- Perdão, troquei a vida por quimeras

KATIA CHIAPPINI

Esse relato é baseado em fatos reais.

Email: katia_fachinello42@hotmail.com





2 comentários:

  1. A COMPULSÃO NECESSITA DE TRATAMENTO MÉDICO E O APOIO DA FAMÍLIA QUANTO À ANSIEDADE LATENTE.

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