LENDO POEMAS
Conheço uma senhora que já completou 88 anos. É uma das minhas amigas mais maduras, entre outras com as quais me relaciono.
Ela me espera em sua casa, com estilo. Dispõe de guloseimas que coloca sobre a mesa da sala de jantar, bem como uma guarnição de chá para me oferecer.
Ao chegar me dirijo a ela com um abraço e um beijo.
Temos, ela e eu, um rito a observar.
Ela se acomoda na cadeira preguiçosa para ouvir uns poemas que escrevo e compartilha nessas visitas.
Entre um e outro poema, ela faz questão de comentar, fazer perguntas , até se certificar que entendeu a mensagem deixada em cada estrofe dos referidos versos.
Na pausa, lá pelo meio da tarde, paramos para beber um licor e saborear uma porção de castanhas de caju que ela não deixa faltar.
Logo, seguimos, completando a segunda parte da sessão de leitura e comentários sobre os temas abordados nos poemas.
Ao mesmo tempo que leio, observo a expressão facial de minha amiga, a ruga na testa, um sorriso velado, um olhar de surpresa, movimentos esses, que servem para exteriorizar todos os sentimentos que exalam dessa leitura
Minha amiga aprecia a leitura de poemas românticos, talvez porque se distraiu, deixou a vida passar e nunca teve um namorado. Ela disse que desde cedo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa .
Os poemas traziam à tona seus sonhos de adolescência, tais como, abraços e beijos que nunca recebeu, bem como perfumes, flores e bombons. com os quais gostaria de ter sido presenteada.
Nesses instantes sua alma se ilumina, a imaginação trabalha, a face fica rubra, por um breve lapso de tempo.
Ao término desses encontros, ela se despede e me faz prometer que não irei me ausentar por muito tempo.
Além dessa querida amiga, tenho outras 5 senhoras idosas que visito.
Uma delas tem um piano na sala e me pede para tocar algumas valsas, boleros e tangos que aprecia.
E cantamos juntas as letras bem construídas, junto às melodias que encantam pela harmonia e singeleza.
Sem querer, e não tendo como fugir desses encontros, sinto que faço um voluntariado literário, além de estreitar os laços de amizade com essas carinhosas velhinhas.
E me gratifica perceber a recepção que tenho, o convívio hospitaleiro, a hora prazerosa, regada a petiscos diferenciados.
Há muitas maneiras de sermos solidárias.
Eu já encontrei a minha, e faço desse compromisso, minha prioridade da semana.
E não vou abandonar minhas velhinhas de estimação, que há muito, moram em meu coração.
KATIA CHIAPPINI
LENDO POEMAS
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