Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

terça-feira, 26 de novembro de 2019

TININHA!

                               TININHA




                                      TININHA
Tinha o cabelo cortado
Parecia ser um menino-a pobre-
Não teve vestido bordado
Nem um simples anel de cobre

Fazia as lidas da casa
E as lições da escola também
A mãe lhe " cortava as asas"
Não brincava com ninguém

A menina cresceu e um dia
A mãe casou-a como convém
O marido lhe deu regalias
E uma boa mesada também

Era suave e carismática
Católica, gentil e envolvente
Mas consumir era sua prática
Dirigia-se às compras diariamente

Em pouco tempo abarrotou
A casa de três andares
Enfeites e bonecas colocou
No sofá, nas escadas, aos pares

Os brinquedos tinham voz e luzes
O anjo e o Papai Noel de pilhas
Conversavam com Tininha-cruzes!
Substituindo as inexistentes filhas

Mesmo com quartos espaçosos
Tininha foi parar num quartinho
Os bibelôs lhe acenavam preguiçosos
E em todos os espaços faziam ninho

Os filhos de corda e botão
Aprisionaram há muito Tininha
Sua carência gerou compulsão
Já não é mais do lar a rainha

Sem que percebesse a inutilidade
A vida lhe fugiu- que ironia-
Por inconsequência, não por maldade
Sem deixar rastros -só agonia-

Imagino que em sua última hora
E na ausência de amizades sinceras
Abraçada às bonecas diga a N.Senhora:
- Perdão, troquei minha vida por quimera

                                  Kátia Chiappini

5 comentários: