Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012


MÃOS

                                                     
                        
                         POEMA DAS MÃOS


                A mão prepara o nascimento
                Rega a planta, veste o filho
                Dá alimento ao pobre, ao relento
                Colhe alface, tomate, milho

                Leva frutas ao asilo
                E provisões ao prisioneiro
                Maquia o personagem, com estilo
                Lava roupa o ano inteiro

                Balança ao vento, nervosa
                Porta cartazes rua a fora
                Gesticula, ansiosa
                A mão que faz a hora

                Existe a mão que castiga
                E a que ferir não esquece
                Não teve outra mão amiga
                A unir as suas em prece

                Há mão que destroi a terra
                Que porta arma também
                Não promove paz e sim guerra
                A mão que não ama ningúem

                Há outro tipo de mão
                Que você vai conhecer
                Ela serve a emoção
                E você sorve o prazer

                É a mão que serve o vinho
                É a que acende a vela
                É a que ajeita o ninho
                Para ele e para ela

                Essa é a mão  mais amorosa
                Alcança a rosa e o perfume
                A que faz você dengosa
                Que abraça, aperta e une

                É a mão do amado, da amada
                Que faz carinho e transporta
                Que se move desesperada
                Na rede ou atrás da porta

                É o jogo das mãos ,o mais certeiro
                Das nossas que se expressam
                Jogo de dama e de cavalheiro
                Que o jardim das delícias, acessam !

                   katia
                   Praia de Torres/fevereiro/2012

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

DEFINIÇÕES

                      
                                                                         

                                                                         POESIA

                                     Poesia é para mim uma força propulsora de vivência e sobrevivência aos conflitos
                                    do tempo e do espaço, o melhor lenitivo, o maior indulto para os meus erros
                                    nessa ou noutra existência

                                       
                                                                   
                                                                      A MÚSICA

                                     A música é o alongamento da alma; o prolongamento da melhor hora;
                                     a antítese do sofrimento e, tal qual precioso néctar, é da vida o alimento enterno.



                     
                                                                  O  AMOR

                                 O amor pode ser de um azul celestial com a arte do encontro ou de um vermelho infernal com a permanência do desencontro


                     
                                                                 A FAMÍLIA

                              A família é uma ponte que une passado e futuro. Sem ela serias como uma ponte partida e submersa no mar implacável e sepultarias, por certo, tuas ilusões                                       

domingo, 26 de fevereiro de 2012

                                         
     QUATROCENTOS!!!!!


 400                                            400 
     400                                  400
          400                        400
               400              400
                    400    400
                         400    I  T  Ó  R  I  A !

PENSAMENTOS MEUS PARA VOCÊ!

PENSAMENTOS SÃO COMO PEQUENAS GOTAS ,QUE PINGAM, AOS POUCOS ,PARA QUE  SORVAS, COM LENTIDÃO, QUANDO PRECISARES TE FORTALECER E SEGUIR TUA TRAJETÓRIA, MAS CONFIA  EM  TUA CAPACIDADE DE TRANSFORMAR MÁGOAS EM EXPERIÊNCIAS QUE FORTALECERÃO TEU  ESPIRITO.


NÃO TE ESCONDAS NA SOMBRA DE TEU PRÓXIMO.A NATUREZA TE CONVIDA A BRILHAR COMO O SOL QUE RENASCE A CADA DIA

NÃO SERÁS TRATADO COMO UM SER INFERIOR A MENOS QUE O PERMITAS

 CARREGARÁS SOZINHO O PESO DE TUA DECISÃO

ESCUTA TUA MÚSICA FAVORITA : ALIMENTA A TUA ALMA E NÃO A DEIXES SUCUMBIR NUM MUNDO INSENSÍVEL QUE NÃO É O TEU.

CULTIVA, COM AMOR, AS HORAS DE SILÊNCIO PARA AMPLIAR TEU CAMPO DE PERCEPÇÃO

EMBORA IMPERFEITOS DEVEMOS CULTIVAR A SABEDORIA, A HUMILDADE ,A PERSEVERANÇA, NA BUSCA CONSTANTE DA PRÓPRIA IDENTIDADE, COMO UM PROCESSO DINÃMICO

O HOMEM VALE PELO QUE, EFETIVAMENTE FEZ ,E NÃO PELO QUE PENSA FAZER .AS BOAS AÇÕES SÓ SERÃO INCORPORADAS QUANDO SAÍREM DO CAMPO DAS BOAS INTENÇÕES

AQUECE TUA ALMA COM OS SONHOS MAS NÃO CULTIVES SÓ ILUSÕES, PARA QUE NÃO ENTERRES A REALIDADE E TUA PRÓPRIA VIDA

A PALAVRA FERE COMO FERRO EM BRASA. ENTÃO, FALA PARA SUGERIR  OU ACRESCENTAR. DO CONTRÁRIO, CONVIVERÁS  COM PESSOAS INTERESSEIRAS E NÃO CONHECERÁS O VERDADEIRO AMIGO. SE FORES DISCRIMINAR OU JULGAR ,TROCA TUA FALA PELO SILÊNCIO QUE FAZ REFLETIR

TRILHA O PRÓPRIO CAMINHO SEM MANCHAS DE LAMA.NÃO TE CUSTARÁ
LIMPAR OS RASTROS E RECOMEÇAR

O SILÊNCIO É O TERMÔMETRO DO AMOR: CULTIVA-O

SE NÃO EXERCERES O ATO DE PERDOAR, MUITO ANTES DE TE BENEFICIARES COM O SABOR DA VINGANÇA, PERDERÁS TUA PAZ

QUEM PROCURA ENGANAR O OUTRO ENGANA ANTES A SI MESMO E SE ENGANA,NOVAMENTE,SE PENSAR QUE PODERÁ ENGANAR,DEFINITIVA E PERMANENTEMENTE

PENSAR EM SILÊNCIO TRAZ A POSSIBILIDADE DE MODIFICAR O COMPORTAMENTO

SE TEU FILHO AMADO SE REDIMIR E PEDIR TEU PERDÃO, DÁ UM TEMPO PARA ELE PROVAR O QUE DIZ E APROVEITA ESSE MESMO TEMPO ,PARA ABRIR TEU CORAÇÃO
E RECEBÊ-LO DE VOLTA À CASA-LAR

QUEM CONHECE A SI MESMO SE TORNA MAIS TOLERANTE PARA COM SEU PRÓXIMO

DESVIA AS PEDRAS DE TEU CAMINHO E NÃO TE PERMITAS SER MENOS DO QUE DESEJAS SER.

DECLAMA TUA POESIA : ÚLTIMO ALENTO NUM MUNDO DESATENTO

NÃO TE CONSERVES NA IGNORÂNCIA PORQUE SERÁS ALVO DE UM MUNDO ADVERSO E SUCUMBIRÁS NAS MÃOS DE OPORTUNISTAS

A HUMILDADE É A PREMISSA DO HOMEM SÁBIO. AO EXERCITÁ-LA SE TORNARÁ MAIS SÁBIO E SÓ ASSIM,VERDADEIRO

QUEM FEZ DA VIDA UMA PRECE TRANSPÔS OS LIMITES DO INDIVIDUALISMO PARA TRANSFORMAR SUA SINGULARIDADE EM PLURAL

QUEM TIVER COMO ÚLTIMA VISÃO O TETO DE SEU PRÓPRIO LAR, COMO DERRADEIRO ABRIGO, VIAJARÁ COM A FACE SORRIDENTE, UNINDO AS MÃOS EM PRECE,COMO SINAL DE PAZ. E TERÁ OS ENTES QUERIDOS AO SEU REDOR

OS TESOUROS QUE PERMANECEM APÓS NOSSA MORTE SÃO NOSSOS ATOS E NOSSA PRÓPRIA VIDA, SE PUDEREM SERVIR DE EXEMPLO

SOMOS POEIRA ERGUIDA E AO PÓ VOLTAREMOS SEM GUARIDA

NÃO CHORO POR SUA MORTE PORQUE MELHOR TERIA SIDO CHORAR POR SEU NASCIMENTO

A POESIA ESTÁ PARA MIM COMO AS PENAS ESTÃO PARA O PÁSSARO,COMO A CHUVA PARA A COLHEITA,COMO O LUAR PARA O SERTÃO

SEJAMOS UM POUCO CRIANÇAS PARA QUE HAJA  SEMPRE UMA DOSE DE ESPERANÇA NAS ANDANÇAS

 ACEITAR O DESAFIO DE VIVER É SUPERAR A NÓS MESMOS E CONTINUAR A JORNADA.DO CONTRÁRIO ESTAREMOS MORTOS MUITO ANTES DO ÚLTIMO SUSPIRO

QUEM ESCREVE SEUS MALES PRESCREVE  ( PARODIANDO: QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA )

NÃO PERMITAS QUE APRISIONEM TUA FÉ COMO QUISERAM FAZER COM A FÉ DE CRISTO QUE ATÉ HOJE NÃO SE LIBERTOU DA CRUZ, NELA PERMANECENDO DE BRAÇOS ABERTOS, SEM PODER MOVÊ-LOS ,PARA ABRAÇAR A HUMANIDADE, QUE ALIÁS, AINDA NÃO O RECONHECEU

COM CARINHO: KATIA

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012




                300   300   300  

                 UM BRINDE !!!!!!

PENSANDO , SONHANDO ,MEDITANDO.

                                                 PENSAMENTOS QUE A VIDA ME INSPIRA :

NÃO FAÇAS DA VIDA UM FUNERAL DE ILUSÕES

PERDOA. O DESEJO DE VINGANÇA MINA A ALMA E NÃO NOS PERMITE HARMONIZAR COM NOSSOS SEMELHANTES.

CULTIVA O SORRISO QUE POUPA A LÁGRIMA

ACOLHE, RECOLHE E TRANSFORMA TEUS CONFLITOS, DÚVIDAS E IMPERFEIÇÕES EM MOLAS PROPULSORAS NA BUSCA DE TEU MELHOR MOMENTO

QUANDO A VIDA TE PARECER INJUSTA, AÍ TE FARÁ JUSTIÇA PORQUE ESTARÁ TE DESAFIANDO A VENCER AS VICISSITUDES

A VIRTUDE TE PARECERÁ VIL QUANDO SUPLANTADA PELA VAIDADE

PARA TRANSFORMAR AS HORAS AMARGAS DE TUA VIDA NAS DE MELHOR COLHEITA, COLHE UM AMIGO

A VIRTUDE SE DESVIRTUA QUANDO ENALTECE O PRÓPRIO EGO

OBSERVA TUA CARA METADE OU TUA METADE  ''MUI'' CARA . SE REVELAR SEU AMOR SÓ NA BONANÇA, REVELARÁ DESAMOR NA TEMPESTADE

CERTA É A INCERTEZA DE CADA DIA TORNANDO O MISTÉRIO DA VIDA A PRÓPRIA ESSÊNCIA DO HOMEM

O POLÍTICO PORTA CURTA MEMÓRIA E VÃS PROMESSAS PROVENIENTES DE UM LINGUAJAR SEM ALMA

VIVE DE MODO QUE POSSAS SER PLATÉIA DE TI MESMO

DESCOBRE O ENCANTO DA POESIA MESMO QUE TE DESCUBRAS AOS PRANTOS

A ILUSÃO DA MENTIRA  AFASTARÁ O SABOR DA VITÓRIA

QUEM VIVE A ALEGRIA EM VIDA NÃO LAMENTA A TRISTEZA DA MORTE

A VIDA É UMA AULA DE MUSCULAÇÃO : SEGURA A TUA BARRA

SE A ESPERANÇA TE PARECER UM FAROL CUIDA PARA QUE BRILHE; SE TE PARECER FOGO CUIDA PARA CONSERVAR AS BRASAS INCANDESCENTES

RETIRA AS FERIDAS DA ALMA QUE DESTILAM GOTAS DE SANGUE. ANTES ACOLHE AS GOTAS DE ORVALHO QUE FECUNDAM A TERRA E OS SENTIMENTOS

ONDAS,VENTOS E TEMPESTADES NOS IMPULSIONAM PARA A LUTA E NOS FORTALECEM A VONTADE, PORQUE EMBORA NÁUFRAGOS, BUSCAMOS UM PORTO SEGURO.

NÃO QUEIRAS SER TEMIDO : OBTERÁS O MESMO RESPEITO SE TE FIZERES AMAR

O ESPÍRITO NÃO DEVE NAUFRAGAR NA INVEJA, NA COBIÇA. ELE É UM DOM DIVINO A NOS CONDUZIR, PERMANENTEMENTE, PARA A OBTENÇÃO DA PAZ INTERIOR

O CÁLICE DE CRISTAL QUE OSTENTAS COM ORGULHO, SE QUEBRAR, NÃO PASSARÁ DE UM ENTULHO; SE NÃO QUEBRAR, ZELA POR ESSE BELO ADORNO NÃO MAIS DO QUE PELA TUA VIDA, POIS O ESSENCIAL É SACIAR A SEDE COM A ÁGUA QUE SORVES NELE

EMBORA FILHOS GOSTARÍAMOS DE SER NETOS PARA MAIS AMOR PODER APRISIONAR

SÓ VALE A PENA ACUMULAR SABEDORIA SE A COLOCARMOS A SERVIÇO DA SOLIDARIEDADE

OS FILHOS SÃO PRECIOSOS E CADA QUAL TEM SEU BRILHO : PRATA, OURO, DIAMANTE? POUCO IMPORTA SE CADA QUAL DESCOBRIR O PRÓPRIO TALENTO E EXIGIR DE SI O MELHOR

O AMOR LIBERTA TANTO QUANTO O ÓDIO APRISIONA

NÃO IMPORTA SER PODEROSO E SIM DOMINAR A PRÓPRIA FORÇA PARA NÃO FERIR.
NÃO IMPORTA SER SÁBIO E SIM DIFUNDIR O SABER.
NÃO IMPORTA APRENDER ARTES MARCIAIS E SIM DISCIPLINÁ-LA PARA SER USADA NO MOMENTO CERTO
E SE O HOMEM FOR SÁBIO, PODEROSO E FORTE, DEVE AINDA BUSCAR A HUMILDADE POIS SÓ ASSIM SE LIVRARÁ DA ESTUPIDEZ.

APRENDE A OCULTAR A PALAVRA QUE ANULA E A CULTIVAR A QUE VALORIZA

NÃO DELEGUES A OUTRO O ENCARGO DE CARREGAR A TUA CRUZ. ESTARIAS ACRESCENTANDO UM NOVO FARDO À CRUZ DE TEU PRÓXIMO. E NÃO SERIA JUSTO DEIXÁ-LO SUCUMBIR POR TUA CAUSA

A VIDA É UMA MOEDA DE DUAS FACES: CARA OU COROA. SE NÃO TIVERES BOM SENSO DARÁS A CARA PARA APANHAR E SE O TIVERES, AINDA ASSIM, PODERÁS RECEBER UMA COROA DE ESPINHOS



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pepita

Cheia de graça, pelo negro, focinho empenado e orelhas atentas, lépida e faceira, é pepita, uma linda cadelinha. Se não fosse pura de raça o seria de sentimentos.
Depositária de todas as atenções de um casal e suas crianças, conserva-se tanto fiel como companheira .Em sua desenvoltura e percepção apurada, dispensa o uso da coleira. Quando vai passear , se aloja sob o banco do motorista, se sair de carro. Exercita-se todo o dia porque acompanha as voltas de rua e vai passear na praça com as crianças .Seus donos, quando vão às compras, não a deixam em casa. Certa ocasião roubou a cena quando se encontrava numa galeria de lojas de roupas e calçados, bem como de máquinas eletrônicas ,que fazem a alegria dos adolescentes. Com seus jogos de lutas terrestres ou espaciais, corridas de carro e toda sorte de brincadeiras virtuais ,as máquinas eram o alvo das atenções dos frequentadores da galeria.
Pepita, também frequentadora do local, observava uma das máquinas, em especial, onde se podia dançar, sendo que os passos exigiam uma sincronia perfeita ,incluindo piruetas e , a certa altura, simulavam um sapateado. A música ia do erudito ao popular, passando por variações de ritmo e de som. Podia se ouvir Beethoven, Mozart, Vivaldi, Bach, em temas conhecidos.
Bastava colocar a ficha na máquina e observar as setas que indicavam a coreografia que exigia passos lentos em seu início, para logo apresentar maiores dificuldades. Havia mesas e cadeiras para acomodar as pessoas, que podiam aproveitar a ocasião para lanchar , se quisessem. Os bailarinos jovens se sucediam ,individualmente ou aos pares ,executando com precisão os movimentos e eram aplaudidos ao final da dança.
Pepita observou essa cena durante alguns dias consecutivos junto com seus donos que elogiavam a beleza plástica dos participantes. E eis que resolveu revelar sua linda figura, por inteiro.
Em instantes desafiou toda a platéia e saiu, como num passo de mágica, da observação para a ação. Não demorou para se fazer notar e provocar o riso das pessoas. Os donos de Pepita, olhando ao redor, viram com surpresa, o espetáculo que a cadelinha oferecia ao público.
Logo mostrou-se gigante, majestosa e empinada, sustentando-se nas patinhas traseiras e latindo alto como se cantasse. O som lembrou o uivar do lobo, agudo e prolongado.
O corpinho faceiro saltitava e rodopiava, em frenesí, rápido como a lebre, ainda apoiado nas duas patinhas, desafiando qualquer lei de física.
Por muito tempo permaneceu em sua dança triunfal ,tanto quanto durou a execucão da Marcha Triunfal de Verdi, motivo de sua inspiraçao e de seu momento de fama.
E dessa vez, os bailarinos da máquina não ouviram os aplausos. Pepita os mereceu, sendo o centro das atenções.
Formou-se um círculo ao seu redor e as cadeiras ficaram vazias, pois ninguém queria perder os detalhes dessa insólita façanha.
A natureza animal preparou o cénário que transformou em poesia o dia das pessoas presentes.
Pepita nada exigiu e nada cobrou para celebrar a vida. Depois disso, quando escuta música, Pepita late, se agita,se requebra e se empina, para traz, dando a si mesma um fragmento da alegria que sentiu e guardou, nem sei onde, nem porque, nem por quanto tempo.
Mas o fato é que Pepita, hoje, não pode passar perto de uma pessoa de triste fisionomia.
Ela levanta a patinha e acaricia a perna da pessoa, como se suplicasse um sorriso , que para o animalzinho , é a melhor dádiva.
E quero crer que se pudesse perguntaria:
-Há quanto tempo você não dança?

KATIA CHIAPPINI

                  

Pepita

Cheia de graça, pelo negro, focinho empenado e orelhas atentas, lépida e faceira, é pepita, uma linda cadelinha. Se não fosse pura de raça o seria de sentimentos.
Depositária de todas as atenções de um casal e suas crianças, conserva-se tanto fiel como companheira .Em sua desenvoltura e percepção apurada, dispensa o uso da coleira. Quando vai passear , se aloja sob o banco do motorista, se sair de carro. Exercita-se todo o dia porque acompanha as voltas de rua e vai passear na praça com as crianças .Seus donos, quando vão às compras, não a deixam em casa. Certa ocasião roubou a cena quando se encontrava numa galeria de lojas de roupas e calçados, bem como de máquinas eletrônicas ,que fazem a alegria dos adolescentes. Com seus jogos de lutas terrestres ou espaciais, corridas de carro e toda sorte de brincadeiras virtuais ,as máquinas eram o alvo das atenções dos frequentadores da galeria.
Pepita, também frequentadora do local, observava uma das máquinas, em especial, onde se podia dançar, sendo que os passos exigiam uma sincronia perfeita ,incluindo piruetas e , a certa altura, simulavam um sapateado. A música ia do erudito ao popular, passando por variações de ritmo e de som. Podia se ouvir Beethoven, Mozart, Vivaldi, Bach, em temas conhecidos.
Bastava colocar a ficha na máquina e observar as setas que indicavam a coreografia que exigia passos lentos em seu início, para logo apresentar maiores dificuldades. Havia mesas e cadeiras para acomodar as pessoas, que podiam aproveitar a ocasião para lanchar , se quisessem. Os bailarinos jovens se sucediam ,individualmente ou aos pares ,executando com precisão os movimentos e eram aplaudidos ao final da dança.
Pepita observou essa cena durante alguns dias consecutivos junto com seus donos que elogiavam a beleza plástica dos participantes. E eis que resolveu revelar sua linda figura, por inteiro.
Em instantes desafiou toda a platéia e saiu, como num passo de mágica, da observação para a ação. Não demorou para se fazer notar e provocar o riso das pessoas. Os donos de Pepita, olhando ao redor, viram com surpresa, o espetáculo que a cadelinha oferecia ao público.
Logo mostrou-se gigante, majestosa e empinada, sustentando-se nas patinhas traseiras e latindo alto como se cantasse. O som lembrou o uivar do lobo, agudo e prolongado.
O corpinho faceiro saltitava e rodopiava, em frenesí, rápido como a lebre, ainda apoiado nas duas patinhas, desafiando qualquer lei de física.
Por muito tempo permaneceu em sua dança triunfal ,tanto quanto durou a execucão da Marcha Triunfal de Verdi, motivo de sua inspiraçao e de seu momento de fama.
E dessa vez, os bailarinos da máquina não ouviram os aplausos. Pepita os mereceu, sendo o centro das atenções.
Formou-se um círculo ao seu redor e as cadeiras ficaram vazias, pois ninguém queria perder os detalhes dessa insólita façanha.
A natureza animal preparou o cénário que transformou em poesia o dia das pessoas presentes.
Pepita nada exigiu e nada cobrou para celebrar a vida. Depois disso, quando escuta música, Pepita late, se agita,se requebra e se empina, para traz, dando a si mesma um fragmento da alegria que sentiu e guardou, nem sei onde, nem porque, nem por quanto tempo.
Mas o fato é que Pepita, hoje, não pode passar perto de uma pessoa de triste fisionomia.
Ela levanta a patinha e acaricia a perna da pessoa, como se suplicasse um sorriso , que para o animalzinho , é a melhor dádiva.
E quero crer que se pudesse perguntaria:
-Há quanto tempo você não dança?

KATIA CHIAPPINI

                  

MEDALHAS

MEDALHAS!

Nessa existência de perdas e ganhos, gravamos na mente, ao longo dos anos, saldos negativos que nos surpreendem, pelo fato de surgirem, sem que possamos prever ou imaginar.
     Um desses acontecimentos foi motivo dessas linhas, as quais tomarão forma, na sequência do relato.
Nos tempos idos de minha infância e adolescência, eu estudava no colégio Nossa Senhora Do Bom Conselho. Praticávamos esporte no turno da tarde, após cumprido o turno das aulas. Fundamos o time de vôlei para competir com outras escolas ,  por ocasião das férias escolares. A capitã do time preparava a levantadora para que fizesse o passe da bola , pressupondo as cortadas certeiras , no time adversário. Por ocasião das festas juninas,  outras escolas  mandavam seus times para jogar com a nossa , sendo esse, um momento de descontração. Recebíamos a aprovação da torcida a cada ponto garantido por um saque bem colocado, que estourava no campo adversário, sem que ninguém conseguisse rebatê-lo.
O time evoluia. Analizávamos as falhas seguindo a orientação do técnico. Reformular posições na quadra, dialogar, manter a calma, dispensar maior tempo para os treinos, eram algumas de nossas preocupacões. Os ensaios eram feitos diariamente e não faltava o espírito de equipe. O técnico, sempre atento, aplicava as regras e exigia que se cumprissem os horários pré-estabelecidos  para os treinos.
    Jogávamos vôlei com o time do colégio Sévignè, com os clubes União e Sogipa.  Além dos treinos diários de segunda a sexta- feira, combinávamos jogos aos sábados,  para que estivésemos em prontidão para competir.
 A madre superiora exigia que tirássemos boas notas nos estudos para que tivéssemos o direito de participar das competições.
     Durante as férias de julho de 1965, vencemos o torneio inter-séries e nos inscrevemos para competir com as outras escolas da capital.
O jogo final que decidiria o título de Campeã ficou entre minha escola , Bom Conselho, e Sogipa.
A escola toda estava convidada para assistir a decisão do campeonato e as torcidas portavam faixas,bandeiras e cartazes confeccionados especialmente para a ocasião. No local havia cobertura, arquibancadas, o quadro para marcar os pontos obtidos , um juíz escalado , a quadra de vôlei reformada, e uma rêde nova bem  estendida, 
O momento estava próximo e nós do Bom -Conselho aguardávamos ansiosas o dia do jogo, que seria num sábado à tarde, na Sogipa. Não víamos a hora passar,absortas pelos treinos, mas já visualizávamos as torcidas ocupando as arquibancadas.
Finalmente ,chegou o dia do jogo: um grande dia para nós.
Frequentávamos as aulas pela manhã e , assim, fomos para o clube na primeira hora da tarde. Antes de entrar na quadra, enquanto estávamos concentradas com o técnico, espiamos o local que já estava lotado. Procuramos nossas posições na quadra, fomos nos colocando nelas, esperando o apito que daria início ao jogo.
Lutamos os dois tempos , bravamente, contando um a um os pontos suados que se alternavam entre um e outro time, quase sempre empates.
Faltando só um ponto para obter a vitória, em determinado momento, nos concentramos no saque e fizemos o melhor. A bola percorreu um e outro lado e a equipe da Sogipa, de posse da mesma, tentou uma cortada decisiva, no canto esquerdo, ao fundo de nossa quadra, onde não havia cobertura.  Se conseguíssemos rebater essa cortada, sem que ninguém a defendesse, no time adversário, ganharíamos o jogo.
Nesse instante me atirei, como cobra rastejante, num só bote, conseguindo salvar a bola, quando me foi possível rebatê-la, com a mão fechada, para o outro time. Esta caiu próxima à rede, onde encontrou uma área desprotegida, rolando limpa no chão para nos dar a vitória.
Então, surpresa, ouví a torcida de minha escola gritar, em uníssono, o meu nome, repetidas vezes , e sentí a vibração daquele momento ímpar.  E em nenhum dia de minha vida, sentí, como nesse, igual manifestação pública de apreço..
Eram os brados da vitória, da alegria,  e a demonstração da crença em nossos
 esforços. E meu nome permaneceu vibrando no ar por alguns minutos, não menos  do que meu coração e do que minha face, onde os olhos, cheios de lágrimas, deixaram transparecer as emoções.
Logo a seguir me ví envolta em abraços e beijos e sentí que me carregaram até um pequeno palco, onde seria feita a entrega das medalhas personalizadas e um troféu para a escola.
Agora, já estávamos em fila, aguardando o início do Hino Nacional, que daria prosseguimento à cerimônia.
Entoamos o Hino com os braços perfilados e o corpo ereto, junto a um grande coro de vozes emocionadas. Terminado o Hino a diretora de nossa escola foi chamada para proceder a entrega das medalhas, as minhas colegas de equipe. Quando chegou a minha vez pareceu nervosa, confusa. Olhou para as próprias mãos, para o chão, falou baixinho com o técnico de nosso time e aproximou-se de mim para surpeender-me com um eufórico abraço .Esta fora uma maneira delicada de me consolar e meu único prêmio naquele dia. A medalha que deveria ser minha não deu o ar de sua graça, deixando-me, isso sim, às traças.
Por ironia do destino a medalha que me coube não estava alí por não ter sido confeccionada-um lapso lamentável.
E meus olhos úmidos denunciavam a desolação. Eu recebera a medalha de direito mas não de fato.
E esse, aliás, era um fato consumado, irreversível mas não conclusivo.
Se me debrussasse novamente sobre  o acontecido, talvez me reconfortasse pensar que acrescentando aquela jogada decisiva ao meu time, já fora premiada pelo destino, antecipadamente, pois o calor humano recebido e o fato de ter dado a vitória para munha escola, falavam mais alto.
Este mesmo calor humano,  que tanto me comoveu, permaneceria bem guardado do lado de dentro de meu ser, junto ao coração.
E a medalha , presa do lado de fora do peito, de minhas colegas de equipe, teria a mesma sorte? E se fosse vítima de alguma intempérie?ou caísse num ralo?ou sofresse um furto?ou perdesse o brilho?
Definitivamente, segundo os preceitos da filosofia, chego a conclusão de que vale mais a pena vir a ser do que vir a ter medalhas.

                                 katia chiappini

MEDALHAS

MEDALHAS!

Nessa existência de perdas e ganhos, gravamos na mente, ao longo dos anos, saldos negativos que nos surpreendem, pelo fato de surgirem, sem que possamos prever ou imaginar.
     Um desses acontecimentos foi motivo dessas linhas, as quais tomarão forma, na sequência do relato.
Nos tempos idos de minha infância e adolescência, eu estudava no colégio Nossa Senhora Do Bom Conselho. Praticávamos esporte no turno da tarde, após cumprido o turno das aulas. Fundamos o time de vôlei para competir com outras escolas ,  por ocasião das férias escolares. A capitã do time preparava a levantadora para que fizesse o passe da bola , pressupondo as cortadas certeiras , no time adversário. Por ocasião das festas juninas,  outras escolas  mandavam seus times para jogar com a nossa , sendo esse, um momento de descontração. Recebíamos a aprovação da torcida a cada ponto garantido por um saque bem colocado, que estourava no campo adversário, sem que ninguém conseguisse rebatê-lo.
O time evoluia. Analizávamos as falhas seguindo a orientação do técnico. Reformular posições na quadra, dialogar, manter a calma, dispensar maior tempo para os treinos, eram algumas de nossas preocupacões. Os ensaios eram feitos diariamente e não faltava o espírito de equipe. O técnico, sempre atento, aplicava as regras e exigia que se cumprissem os horários pré-estabelecidos  para os treinos.
    Jogávamos vôlei com o time do colégio Sévignè, com os clubes União e Sogipa.  Além dos treinos diários de segunda a sexta- feira, combinávamos jogos aos sábados,  para que estivésemos em prontidão para competir.
 A madre superiora exigia que tirássemos boas notas nos estudos para que tivéssemos o direito de participar das competições.
     Durante as férias de julho de 1965, vencemos o torneio inter-séries e nos inscrevemos para competir com as outras escolas da capital.
O jogo final que decidiria o título de Campeã ficou entre minha escola , Bom Conselho, e Sogipa.
A escola toda estava convidada para assistir a decisão do campeonato e as torcidas portavam faixas,bandeiras e cartazes confeccionados especialmente para a ocasião. No local havia cobertura, arquibancadas, o quadro para marcar os pontos obtidos , um juíz escalado , a quadra de vôlei reformada, e uma rêde nova bem  estendida, 
O momento estava próximo e nós do Bom -Conselho aguardávamos ansiosas o dia do jogo, que seria num sábado à tarde, na Sogipa. Não víamos a hora passar,absortas pelos treinos, mas já visualizávamos as torcidas ocupando as arquibancadas.
Finalmente ,chegou o dia do jogo: um grande dia para nós.
Frequentávamos as aulas pela manhã e , assim, fomos para o clube na primeira hora da tarde. Antes de entrar na quadra, enquanto estávamos concentradas com o técnico, espiamos o local que já estava lotado. Procuramos nossas posições na quadra, fomos nos colocando nelas, esperando o apito que daria início ao jogo.
Lutamos os dois tempos , bravamente, contando um a um os pontos suados que se alternavam entre um e outro time, quase sempre empates.
Faltando só um ponto para obter a vitória, em determinado momento, nos concentramos no saque e fizemos o melhor. A bola percorreu um e outro lado e a equipe da Sogipa, de posse da mesma, tentou uma cortada decisiva, no canto esquerdo, ao fundo de nossa quadra, onde não havia cobertura.  Se conseguíssemos rebater essa cortada, sem que ninguém a defendesse, no time adversário, ganharíamos o jogo.
Nesse instante me atirei, como cobra rastejante, num só bote, conseguindo salvar a bola, quando me foi possível rebatê-la, com a mão fechada, para o outro time. Esta caiu próxima à rede, onde encontrou uma área desprotegida, rolando limpa no chão para nos dar a vitória.
Então, surpresa, ouví a torcida de minha escola gritar, em uníssono, o meu nome, repetidas vezes , e sentí a vibração daquele momento ímpar.  E em nenhum dia de minha vida, sentí, como nesse, igual manifestação pública de apreço..
Eram os brados da vitória, da alegria,  e a demonstração da crença em nossos
 esforços. E meu nome permaneceu vibrando no ar por alguns minutos, não menos  do que meu coração e do que minha face, onde os olhos, cheios de lágrimas, deixaram transparecer as emoções.
Logo a seguir me ví envolta em abraços e beijos e sentí que me carregaram até um pequeno palco, onde seria feita a entrega das medalhas personalizadas e um troféu para a escola.
Agora, já estávamos em fila, aguardando o início do Hino Nacional, que daria prosseguimento à cerimônia.
Entoamos o Hino com os braços perfilados e o corpo ereto, junto a um grande coro de vozes emocionadas. Terminado o Hino a diretora de nossa escola foi chamada para proceder a entrega das medalhas, as minhas colegas de equipe. Quando chegou a minha vez pareceu nervosa, confusa. Olhou para as próprias mãos, para o chão, falou baixinho com o técnico de nosso time e aproximou-se de mim para surpeender-me com um eufórico abraço .Esta fora uma maneira delicada de me consolar e meu único prêmio naquele dia. A medalha que deveria ser minha não deu o ar de sua graça, deixando-me, isso sim, às traças.
Por ironia do destino a medalha que me coube não estava alí por não ter sido confeccionada-um lapso lamentável.
E meus olhos úmidos denunciavam a desolação. Eu recebera a medalha de direito mas não de fato.
E esse, aliás, era um fato consumado, irreversível mas não conclusivo.
Se me debrussasse novamente sobre  o acontecido, talvez me reconfortasse pensar que acrescentando aquela jogada decisiva ao meu time, já fora premiada pelo destino, antecipadamente, pois o calor humano recebido e o fato de ter dado a vitória para munha escola, falavam mais alto.
Este mesmo calor humano,  que tanto me comoveu, permaneceria bem guardado do lado de dentro de meu ser, junto ao coração.
E a medalha , presa do lado de fora do peito, de minhas colegas de equipe, teria a mesma sorte? E se fosse vítima de alguma intempérie?ou caísse num ralo?ou sofresse um furto?ou perdesse o brilho?
Definitivamente, segundo os preceitos da filosofia, chego a conclusão de que vale mais a pena vir a ser do que vir a ter medalhas.

                                 katia chiappini

O MAR EU

O MAR DA BÍBLIA, COM MOISÉS; O DA MITOLOGIA, COM ULISSES; O DA MÚSICA, COM CAYMMI; O DA LITERATURA , COM HEMINGWAY; O MAR DOS CONQUISTADORES E DESBRAVADORES DE TERRAS LONGÍNQUAS; É UMA FORÇA  DA NATUREZA, INDISPENSÁVEL À VIDA.
OS MARES TRANSBORDAM EM FERTILIDADE E SÃO FONTES DE INSPIRAÇÃO PARA O ENSAIO LITERÁRIO E PARA AS CANÇÕES QUE EXALTAM SUA EXUBERÂNCIA.
PODEMOS DESFRUTÁ-LO PELOS SENSORES DA RAZÃO OU DO CORAÇÃO.
SOU UMA TERRESTRE MARÍTIMA PORQUE DESDE PEQUENA TENHO FASCINAÇÃO PELO MAR. VERANEIO, DESDE PEQUENA, NA PRAIA DE TORRES, A RAINHA DO LITORAL.
HOJE, MÃE E AVÓ, AINDA TENHO A MESMA ALEGRIA AO CAMINHAR NA AREIA, AO ME BANHAR NAS ÁGUAS E AO SENTAR NO BANCO, PRÓXIMO AO MAR, PARA ME DELICIAR COM A NATUREZA PRÓDIGA, QUE TRAZ O VENTO PARA BRINCAR COM MEUS CABELOS, ENQUANTO A IMENSIDÃO DO MAR SE MOSTRA EM MINHA DIREÇÃO.
CONVERSO COM O MAR COMO FALO COM MINHAS PLANTAS.  FIXO O OLHAR EM TODAS AS DIREÇÕES E ME INEBRIO COM A PAISAGEM AO LONGO DA PRAIA, AO MESMO TEMPO QUE OUÇO O SOM DAS ÁGUAS INQUIETAS E IMPONENTES.
O  MAR É VERDE COMO SÃO OS MEUS OLHOS. DESDE MENINA DIGO QUE ELE É MEU IRMÃO.  GOSTO DE PENSAR NELE COM ESSA  IMAGEM DE AMOR FRATERNAL .
AGORA VOU CONVERSAR COM ESSE AMIGO ESPECIAL. AJEITO MINHA CADEIRA PREGUIÇOSA À BEIRA-MAR, PREPARO A ÁGUA DE CÔCO, E ENTRE UM E OUTRO GOLE, INICIO O SEGUINTE DIÁLOGO:
-BOM DIA MAR!
-BOM DIA, SEJA BENVINDA!
-VOCÊ ONTEM VIU UM BARCO?
-VEJO PASSAR INÚMEROS.
-MAS NESSE QUE FALO, HAVIA UM HOMEM DE CORPO BRONZEADO, OLHOS ESVERDEADOS E COM UM LARGO SORRISO, PORQUE AMA VOCÊ
-E VOCÊ O CONHECE?
-LEMBRA ALGUÉM QUE ME DISSE QUE A MELHOR SENSAÇÃO DE LIBERDADE É A QUE LHE INVADE , QUANDO NAVEGA NOS
 MARES DO SUL.
-E ELE LHE TRAZ BOAS RECORDAÇÕES?
-SIM, DEIXOU MARCAS PROFUNDAS.
-E O QUE HOUVE?
-O TEMPO SE ENCARREGOU DE  DAR INÍCIO, MEIO E FIM AO RELACIONAMENTO.
-PORQUE VOCÊ GOSTA DE ME OBSERVAR?
-PORQUE VOCÊ CUMPRE SEU DESTINO E SE CONSTITUI UM EXEMPLO DE VIDA ÚTIL.
-NÃO MAIS DO QUE VOCÊ.
-DIGAMOS QUE VOCÊ E EU, CADA UM A SEU MODO, TENTAMOS VENCER AS ONDAS.
-ESTOU NA NATUREZA PORQUE SOU ESSENCIAL À VIDA DO PLANETA E ESTOU PREDESTINADO A ALIMENTAR O HOMEM DO FUTURO.
-E EU, ESTOU VIVENDO, PORQUE ME COUBE A MISSÃO DE CONSTITUIR UMA FAMÍLIA, TAREFA ESSA, DA QUAL POSSO ME ORGULHAR.
-EU ENTRISTEÇO PORQUE ESTÃO MATANDO AS BALEIAS, COM OS DEJETOS PLÁSTICOS, JOGADOS EM MINHA SUPERFÍCIE, ENVENENANDO MINHAS ÁGUAS E ROUBANDO MINHA SOBERANIA.
-EU ENTRISTEÇO PORQUE NÃO REALIZEI , AINDA, UM DE MEUS SONHOS.
-O QUE VOCÊ DESEJA?
-TALVEZ AMAR NOVAMENTE E CONSERVAR ESSE SENTIMENTO SEM ME DESCUIDAR DE CULTIVÁ-LO.
-EU OBSERVO CRIANÇAS E VELHOS MOLHANDO OS PÉS, JOVENS BRINCANDO DE PIRÂMIDE HUMANA, PAIS CONSTRUINDO CASTELOS NA AREIA COM SEUS FILHOS.
-VOCÊ NÃO OBSERVA A ALEGRIA DOS CASAIS DE NAMORADOS QUE SE ABRAÇAM E BEIJAM, ENQUANTO SE BANHAM?
-SIM, MAS ME ENCANTAM OS PESCADORES, OS SURFISTAS, AS FAMÍLIAS PULANDO EM MINHAS ONDAS, AS CRIANÇAS JOGANDO BOLA E AS PESSOAS IDOSAS E SORRIDENTES, SENDO CONDUZIDAS COM CARINHO.
-COMO É SEU TRABALHO DO DIA A DIA?
-EU PEÇO PARA MINHAS ONDAS LEVAREM A SUJEIRA PARA A SUPERFÍCIE E ME PREOCUPO EM ESTAR LIMPO.
-EU VIVO O PRESENTE E ESTOU CONSTANTEMENTE ME DESFAZENDO DAS IMPUREZAS DA ALMA PARA DAR LUGAR A NOVOS DESAFIOS PORQUE A VIDA É FEITA DE MUDANÇAS.
-EU TRANSBORDO EM FORMA DE ENCHENTES E TORMENTAS, SOU IMPERFEITO.
-EU TAMBÉM TRANSBORDO EM LÁGRIMAS: O CORAÇÃO ME TRAI.
-EU VIVEREI SEMPRE: SOU ETERNO E INFINITO.
-E EU, VIVEREI ENQUANTO FOR LEMBRADA PELAS PESSOAS QUE AMO E AS QUAIS ME DEDICO. E PEÇO A DEUS PARA QUE ME TRANSFORME, QUANDO EU PARTIR, NUMA ESTRELA EM FORMA DE CORAÇÃO, CUJA PULSAÇÃO SEJA SUBSTITUÍDA POR UM INTENSO BRILHO, PARA QUE OS ENTES QUERIDOS ME RECONHEÇAM NO HORIZONTE. VELAREI O SONO DE TODOS ELES.
 O MAR SURPRESO ME PERGUNTOU:
-VAI SE LEMBRAR DE MIM TAMBÉM?
-NÃO SEJA INJUSTO. ABRAÇO E BEIJO VOCÊ TODOS OS VERÕES E ME ENTREGO A SEUS ENCANTOS.
-COMO POSSO SABER QUE GOSTA DE MIM?
-É FÁCIL, OBSERVE QUE RECOLHO SUAS CONCHAS E FAÇO COLARES PARA ME ENFEITAR, MERGULHO EM SUAS ÁGUAS PARA
BRINCAR DE ESCONDER COM VOCÊ. E QUANDO VEJO QUE AMANHECE ,ASSIM ,BEM TRANSPARENTE, RETIRO CARDUMES DE PEIXES DE SUAS ONDAS, PARA COLOCAR NUM BALDE COM ÁGUA PARA MEUS NETOS BRINCAREM. E ENSINO QUE DEVEM DEVOLVÊ-LOS A VOCÊ.
-MAS POSSO ESCLARECER UMA DÚVIDA?
-SIM, O QUE DESEJA SABER?
-ONDE ESTÁ O NAVEGADOR DOS MARES DO SUL?
-TALVEZ VOLTE NO PRÓXIMO VERÃO SE O BARCO DO DESTINO SEGUIR A DIREÇÃO DA BÚSSOLA DOS SENTIMENTOS.
-E SE NÃO VOLTAR?
-ENTÃO ENSAIAREI OUTRA CENA PARA VIVER NO PALCO DA VIDA. NASCER NÃO É ESTAR VIVA, SIMPLESMENTE: É ANTES UM ATO FISIOLÓGICO QUE NOS FAZ RESPIRAR.
COMO VOCÊ, MEU QUERIDO MAR,  NASCER É TRANSBORDAR DE MIM MESMA, QUANTAS VEZES SE FIZEREM NECESSÁRIAS
 PARA VENCER AS MARÉS.
 MAS ,SE O ACASO TROUXER AO MAR DE MEUS SONHOS UM VULTO SINGRANDO AS ÁGUAS, QUERO CRER QUE SE TRATE DE UM SINAL ,QUE TRARÁ CONSIGO, UMA TÊNUE ESPERANÇA AO MEU CORAÇÃO: A DE ENCONTRAR O NAVEGADOR NAS ONDAS DO TEMPO A QUALQUER TEMPO.



  KATIA/CASA DO POETA.                                         TORRES/2010.