Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A POESIA QUE NÃO LI


   Os avanços dos gênios da ciência e tecnologia e de mentes privilegiadas que se dedicaram aos demais campos do conhecimento humano, pouco contribuiram para reafirmar a importância dos valores cristãos.
O homem descobre outros mundos mas continua a não entender o seu próprio.
Os atos falhos, inconsebíveis, provam que não absorvemos a formação e a informação que nos foram dadas , desde o berço materno.
   Comecei a perceber ,já faz algum tempo, que as imposições da vida que levamos, em busca da sobrevivência, nos tornam seres alienados e sombras de nós mesmos.
Mas, misteriosamente, por vezes, nos é dado o tempo para chegar ao devido arrependimento. E a serenidade devolve o equilíbrio e restabelece o bom senso.
   Certa manhã, caminhava, apressada, quando avistei um homem alto, magro, com gestos nervosos, balançando algumas folhas em sua mão.
Ao chegar mais perto percebi se tratar de um pequeno caderno que era apresentado a cada transeunte e tratei de apressar o passo.
Mesmo assim, o homem veio em minha direção e disse:
-Senhora: veja, leia, me dê uma força!
-Não repare, outro dia leio sua propaganda.
Ao ouvir minhas palavras o rosto do homem adquiriu uma expressão tristonha e o deixei gesticulando, aflito, com as folhas na mão.
Como se advinhasse, voltei meus os olhos para traz e consegui ler o título do caderno, em letras grandes que se estendiam, nítidas, pela primeira página.
Lá estava escrito:  Minhas Poesias.
   Tomara que não tivesse uma família a depender de seu sustento, pensei.
Eu estava me sentindo desconfortável e inconsolável.
Tudo o que o homem queria é que lessem suas poesias, as quais oferecia por qualquer trocado.
Do dinheiro arrecadado, separaria uma parte para se alimentar, outra, para retornar à casa e outra para imprimir cópias
dos poemas, para tentar a sorte a cada novo dia.
Tratava-se de um poeta de rua, sensível, como são todos eles. Ainda esperançoso, embora tivesse observado que a desesperança habita o coração dos homens.
A tristeza de seu olhar era a mesma do meu. Meu arrependimento se fez sentir de imediato.
Mas não servia de consolo : não voltei para adquirir os poemas.
Se os comprasse faria uma boa ação, como daria ao poeta um motivo de satisfação e reconhecimento pelo seu trabalho.
Cada vez que deixamos de prestigiar o trabalho de um poeta de rua, estamos jogando fora seus sonhos. As palavras
ficarão nas linhas de um papel, que envelhecerá, sem cumprir seu destino. E os poemas não produzirão frutos.
Mais do que isso, deixamos de exercer nosso senso de humanidade.
Ao não ler os poemas, inconscientemente, estamos salientando a insensibilidade de nossas almas e a prioridade que costumamos dar aos bens materiais.
E questionando a mim mesma, compreendi, que , pelo menos, se tivesse parado para ler uma só página, o poeta perceberia meu apreço.
O dinheiro, mesmo indispensável ao sustento, não traz o conforto que uma palavra amiga transmite.
Não nos leva a voltar os olhos para as necessidades de nossos semelhantes.
Prometi a mim mesma não incorrer no mesmo erro.
  Principalmente porque amo poesias.
Especialmente porque tenho a oportunidade  de escrevê-las para serem lidas por um público seleto e que me prestigia.
  A poesia que não li poderia ser a mais sincera; poderia revelar a ternura da alma do poeta.
A poesia que não li poderia ser de uma inocência pueril.
A poesia que não li só não poderia se transformar num pesado fardo , cujo peso fosse maior que o do próprio poeta.
Mas poderia se trasformar, indiscutivelmente, como se transformou, numa lição de vida, na medida que me fez assimilar e perceber uma singela verdade:
-Enquanto houver um homem insensível, haverá um poeta incansável.

Dedico essa crônica a todos os poetas, para que repensem seus valores ,suavisem seus gestos e acolham, com amor,
seus semelhantes.
                                                katia / CASA DO POETA
 

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