Aquarela de poesias

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Poesias para você

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PARABÉNS AOS CUIDADORES !

                           CUIDADORES !

Cuidadores são pessoas especiais que se dedicam aos idosos com alguma doença grave que os debilite, ou degenerativas até a fase terminal, bem como aos velhos e deficientes.
Não é uma simples profissão, é sim, uma missão que só cabe aos sensíveis aos males de seus semelhantes. O que menos importa é tirar boas notas no curso de formação específica. O fundamental é abrir as veias do coração e abdicar das horas de sono ininterruptas, em prol do zelo pelo idoso. Quando não mais é possível mantê-los em casa, os cuidadores os atendem em clínicas especializadas.
Vou me deter no paciente que tem o mal de Alzheimer. A doença apresenta diversas fases. Um dos sinais é a repetição dos fatos, por diversas vezes, porque os esquecem. A doença evolui até que o paciente perde a deglutição e fecha a boca e se recusa a comer. Não que não tenha fome, mas porque percebe que a comida não passa pelo canal e vem o refluxo em consequência disso. Chega ao ponto de não conseguir beber um copo de água. Na fase do esquecimento dos fatos recentes, pergunta várias vezes a mesma coisa e é preciso que se repita, sem ficar contrariando.
Nunca se deve dizer : 
-Já se esqueceu ? acabei de falar.
Nada disso. É preciso ser paciente e não chamar atenção para não magoar. Quando o doente usa a linguagem monossilábica, ou quando pronuncia só a metade da palavra, devemos agir com habilidade, intuir o que quer dizer e responder prontamente.
Então a postura do cuidador exige que ele seja mais carinhoso, nesse momento, abrace e beije o doente, muitas vezes.
Nunca se revida o doente na hora da crise, onde ele grita e se mostra agressivo, talvez porque, inconscientemente, perceba sua dependência. E isso, por si só, é muito triste. Essa é uma característica de uma das fases da doença. Mas a crise passa logo e o doente, repentinamente, é capaz de dar um sorriso para o cuidador. Aos poucos, o doente de Alzheimer perde a consciência e fica como se fosse autista, fixando um ponto cego. Se torna incapaz de assistir televisão, ler a hora no relógio, ler o jornal, assinar a folha do seu talão de cheque ou discar um número de telefone. Cria um mundo só seu e impenetrável.
Os cuidadores devem tentar manter uma conversação normal, o que tornará o doente mais tranquilo. E jamais falar mal dele, em sua presença, com outras pessoas. Dizem os estudiosos que não é possível saber quando , exatamente, o cérebro para de raciocinar, totalmente, sendo provável que o doente possa entender o que falam dele, quando pensamos que nada mais entende.
Deve o cuidador, cuidar do passeio matinal para que o doente tome sol, falar pausadamente, passar a mão no rosto ou no cabelo para acariciar.
É preciso lembrar que o doente perde a possibilidade de falar e já não pode pedir um cobertor, um agasalho durante o dia, um copo de água ou um alimento que goste de comer. Isso quer dizer que os cuidadores devem estar bem atentos para tentar suprir todas essas necessidades. E para isso é necessário ternura e bom senso. É preciso orientar a família para que haja um revesamento nas visitas, de modo que o doente não permaneça dias e dias sem ver nenhum ente querido. É comum a doença de Alzheimer iniciar com uma forte depressão, em razão do indivíduo se sentir em estado de solidão .Começa a se isolar do grupo e a ficar trancado no quarto, no escuro.
No horário do banho o cuidador pode ligar o rádio e escolher boa música para distrair o seu paciente. É muito provável que o doente se recuse a tomar banho.
Sabemos que a música é a última referência a deixar o ser humano.
Quando o cérebro quase não dá sinais de vida e os neurônios vão morrendo, ainda assim a música é percebida e acalma.
Cuidei de minha mãe com Alzheimer e por algum tempo pousava com ela. No domingo pela manhã eu ligava a televisão no programa de Inesita Barroso e depois no Som Brasil, de Rolando Boldrin. E minha mãe me olhava sorrindo porque eu cantava junto, todas as modas de viola. Eu morei em São Paulo, no interior, e as rádios só tocavam músicas sertanejas. Eu tenho certeza de que se pudesse me falar diria :
-Há quanto tempo não ouço Asa Branca !
Certa ocasião, na praia de Torres, fizemos uma reunião pelo aniversário dela e uma das convidadas cantou músicas italianas e francesas. Minha mãe se transfigurou e, por um breve instante, prestou toda atenção e era só sorrisos para a cantora. Eu contava para mamãe como tinha sido sua infância, as travessuras que fazia, lembrava que ela cuidava dos irmãos por ser a a mais velha. E dizia que minha vó, sua mãe, a elogiava por dar banho e vestir todos os irmãos. Depois falava da estância onde foi criada, dos afazeres de cada um deles, dos passeios pelo campo. 
Mamãe me contava que gostava muito de subir nas árvores e que vovó se preocupava e sempre estava atrás dela para que não fizesse tantas travessuras. 
Voltando aos cuidadores devo dizer que devem ser essencialmente humanitários e exercitar a empatia para dar um mínimo de conforto aos pacientes de doenças degenerativas.
Acho que eles são talhados no céu para se dedicarem aos idosos com desprendimento e muito carinho. Esse exercício de solidariedade já merece um diploma especial e um troféu simbólico de agradecimento. Certamente Deus os recompensará pelas horas sem preço e sem contagem de tempo. E, por tantas vezes de sono interrompido, por serviços prestados, inclusive exigindo força e disponibilidade para levar o paciente da cadeira para a cama, ou para trocar de posição, a todo momento, para evitas as escaras.
Resta-me agradecer aos quatro cuidadores que trabalharam nos cuidados com minha mãe, sem faltar nenhum dia, incluindo feriados e domingos e comparecendo até por ocasião das festas de Natal e Ano Novo.
Lembro-me dela todos os dias porque tenho a certeza de ter sido sua melhor cuidadora. Nada lhe faltou durante todo o tempo da triste doença que a levou de mim.
E sempre desejei que meu pai, que faleceu bem antes dela, tenha se preparado para recebê-la de braços abertos.
Porque meu pai sempre cuidou de mamãe, de mim e de meu irmão  com impecável postura : foi nosso cuidador enquanto viveu. 

                                   KATIA CHIAPPINI





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