Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

segunda-feira, 30 de abril de 2012

UMA CENA FAMILIAR


                           MEU PAI!
 Papai era uma pessoa iluminada ,feliz, de bom coração e a melhor e mais paciente pessoa que conheci.
Meu  avô costumava dizer a mamãe que gostava dele como se fosse um de seus filhos.
Papai tinha o hábito de não discutir com mamãe. Ela era temperamental, firme em suas opiniões e pouco flexível, embora de excelentes princípios. Papai sabia como lidar com ela e preservava o bom relacionamento familiar.
Certa ocasião pediu que eu fosse procurá-lo em seu trabalho. Ele trabalhava no Banco do Brasil, junto á gerência. Chegando lá papai foi ao meu encontro, levou-me até sua sala, ofereceu-me um cafezinho, perguntou sobre meus alunos e aguardou que o ambiente estivesse em perfeita calma e então falou:
-Minha filha, está sem saber porque a chamei?
-Sim, meu pai.
-Chamei para pedir um favor:
-Fale, papai.
-A mãe reclamou que você discutiu com ela.
-Meu pai, eu queria estudar na casa de minha colega
-Sim, mas ela prefere que você convide sua colega para vir a nossa casa.
-Mas pai, um dia ou outro, vou brigar pelo mesmo motivo e nem entendo essa atitude de mamãe.
-Sim filha, mas evite incomodar sua mãe.
-Mas pai, faço as reinvindicações por mim e por meu irmão.
-Sim filha, mas evite o atrito.
-Papai, nem sempre é possível não entrar em atrito e , além disso, mamãe precisa me dar liberdade.
-Mas aí, minha filha, eu perco a minha.
-Como papai?
-Simples, enquanto você se beneficia  dessa liberdade eu tenho a minha cerciada.
-Explique-se, meu pai.
-É que depois do trabalho necessito de sossego.
-Sim, mas o que quer dizer com isso?
-Quero dizer que a mãe não me deixa dormir porque fica falando em meus ouvidos e contando essas teimas do dia a dia.
-Mas pai, as vezes. não posso evitar.
-Sim, mas lembre-se de que você pode se deitar e dormir e eu fico me revirando de um lado para outro, sem pegar no sono. E a mãe até me acorda porque fica nervosa e quer argumentar mais e mais sobre a teimosia.
-Mas papai, como quer que eu resolva isso?
-Você não precisa discutir, mas faça o que tiver que ser feito, com responsabiliade.
-É  mas  depois...
-Aí quando eu chegar em casa, nos reuniremos ao redor da mesa da sala de jantar para votar.
-Votar ,papai?
-Sim, eu , seu irmão e você vamos formar a mesma opinião e a mãe vai ter que aceitar nossa idéia porque se nos unirmos a votação vai ser 3 a 1.
-E se mamãe aceitar, no momento, e depois ficar magoada?
-Filha, até lá,já terei imaginado outra estratégia.
-Como assim? qual seria a alternativa?
-Fácil , minha filha: faça qualquer coisa, sem contrariá-la
E assim dizendo contou-me o seguinte:
Um dia desses, a mãe reclamou da fumaça nas cortinas da sala, enquanto eu estava fumando.
-Antônio, acabei de lavar e pendurar as cortinas e vão ficar com cheiro de cigarro?
-Não, Eulália, pode ficar tranquila.
E assim dizendo, filha, eu fui buscar um banquinho da cozinha e o coloquei na área dos fundos, me acomodei, junto a brisa da tarde, fumei meu cigarro na mais santa paz do Senhor.
-Está bem,  papai, entendi o recado.
Dizendo isso, dei um beijo em meu pai e voltei para casa pensando em sua admirável postura, seu bom humor e sabedoria.
Hoje vivo com a certeza de que papai fez o melhor pela família.
E, principalmente, por minha mãe.
KATIA
Email:k.treen2@hotmail.com
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domingo, 29 de abril de 2012

CONVERSE COM SEU FILHO


                 O PODER DA PALAVRA

Uma criança mimada e filha única ganhou de seu pai uma barra de chocolate. Ao levar a guloseima a sua boca mordeu o primeiro pedaço, após colocar no chão a embalagem, fez uma careta e gritou:
-Que nojo, pai!
-Como assim?
-Está muito ruim o gosto desse chocolate. E assim dizendo jogou o resto da barra no chão junto ao papel da embalagem e já ia saindo do lugar quando seu pai chamou:
-Venha Tina, tire essa sujeira do chão
-Não vou limpar
-Mas precisa, você foi quem jogou no chão.
-Mas estava ruim
-Sim, mas o lugar disso é na lata de lixo.
O pai e a filha continuaram a discutir e o pai reconheceu que não estava conseguindo lidar com a situação.
Deu uma volta pela casa e ficou imaginando o que faria. Ou colocaria a filha de castigo,em sua cadeirinha, ou não a deixaria ver seus desenhos na televisão, ou ainda, quem sabe, uma palmada poderia ser a solução.
Voltou os olhos para a filha que ainda chorava, sentada no primeiro degrau da escada:
-Chegue mais para o lado, vou sentar com você
-Você não cabe, pai, suas pernas vão ficar encolhidas.
-Mas fico pouco tempo, só o suficiente para falar com você. 
-Sente-se , então
-Obrigada, vamos conversar.
E assim dizendo o pai apertou uma das mãos da filha entre as suas e explicou que não podemos, nos momentos de contrariedade, demonstrar uma raiva desproporcional que nos faça esquecer nossos princípios e a boa educação.
Falou que antes de colocar o chocolate no chão, poderia ter guardado a barra para oferecer ao menino de rua que nem tinha alimento suficiente para ficar bem nutrido. O pai lembrou que se a barra ficasse alí jogada, poderia chamar as formigas ,que sentindo o cheiro de doce, tratariam de se dirigir ao local, rápidas.
Mostrou para a filha, na Internet, a quantidade de lixo que fica nas ruas e que os trabalhadores de rua precisam recolher com o caminhão. A menina viu os garis de uniforme, saindo em grupos, com seus carros, para juntar restos de comida, casca de frutas, papéis, cacos de vidro, tudo jogado no chão ,sem embalar em sacos apropriados. Mostrou fotos do fundo dos riachos contendo até móveis, latas, pneus e toda sorte de sucata.
Depois olhou para a filha e falou:
-Se você não fizer a sua parte, os garis vão precisar trabalhar em dobro.
-É papai?
-Sim, aprenda que quando sair para a rua não se joga nada fora dos latões de lixo.
O pai continuou explicando que enquanto ela, Tina, estivesse deitada no sofá de sua casa, ao anoitecer, nesse mesmo instante, os garis estariam trabalhando e andando pelas ruas, cansados , suados e chegando ao término do trabalho com sacrifício.
A menina Tina já estava calma e tinha parado com o choro.
Olhou para seu pai, ainda ao seu lado, sentado na escada e disse:
-Papai, nem tinha pensado no trabalhador de rua.
-Então valeu minha explicação sobre o trabalho dos garis?
O pai aguardou a resposta, mas ao olhar ao redor, nem notou que a filha já nem estava na escada. Mas viu que já estava de volta com uma vassoura e uma pá de limpeza. Resolveu limpar a sujeira que fizera
Entusiasmado o pai olhou para a filha e disse;
-Parabéns, fico feliz que tenha pensado nos garis.

-Nem é isso pai, estou pensando em você
-Em mim?
-Sim papai,muito simples
-Diga-me, filha, o que pensou?
-Amo você, papai.

KATIA
Email:k.treen2@hotmail.com

sábado, 28 de abril de 2012

AUXILIAR DE TODAS NÓS!


 27  ABRIL
 DIA DA EMPREGADA DOMÉSTICA
 PARABÉNS!


                         AUXILIAR AFETIVA
Conhecemos a auxiliar do lar como uma secretária eficiente e capacitada para cozinhar, passar e lavar roupa, limpar a casa e acompanhar nossos filhos no turno inverso ao do período de aula.
É um ser dedicado a uma família e que torna possível, à dona da casa, acumular funções de esposa, mãe e profissional inserida no mercado de trabalho.
Depois de um longo tempo na mesma família a auxiliar do lar é promovida à auxiliar afetiva.
Então recebemos o café na cama, de surpresa. Ou, ao chegar do trabalho, tomamos consciência de que nossa auxiliar acabou de chegar do pediatra e já com a medicação que nosso filho precisa tomar.
A auxiliar afetiva se torna querida da família e a todos convida para um churrasco, em seu modesto lar.
E se nos vê adoentada, ela se prontifica para ir ao Banco, fazer os devidos pagamentos, bem como as compras do rancho semanal. E quando nos damos conta , nossos filhos já estão de banho tomado e com os temas escolares feitos.
A minha auxiliar do lar ,e definitivamente afetiva, se chama Marta. Quando minha filha teve seus dois filhos, ela se mudou, temporariamente para lá e criou ambos até a adolescência.
Em certa ocasião levei-a para realizar um procedimento cirúrgico ao qual deveria se submeter.
Depois levei-a para minha casa e preparei uma sopa de legumes para a janta e ela foi dormir. Só ao raiar do outro dia seu marido veio buscá-la para que permanecesse em repouso em seu próprio lar.
Éra a mim que Marta fazia confidências. Tomávamos, juntas, o café da manhã e o da tarde, antes que fosse para a casa. 
Eu desejaria que todas as auxiliares afetivas tivessem o merecido reconhecimento de suas patroas.
Minha tia Bebê, minha segunda mãe, aposentou Tina por apelido e Vicentina por sobrenome, após 45 anos de dedicação a sua família. E o fez sob protesto porque ela, quase cega, não queria entender porque minha tia havia contratado outra pessoa para desempenhar as tarefas que eram de sua competência. Minha tia argumentou com ela e tomou as providências necessárias para que se aposentasse. Mas completou esse valor, regiamente , para que não lhe faltassem os remédios que precisava tomar e nem o sustento básico. E até o final da vida de Tina, a cada dia 5 do mês ,tia Bebê ia levar a complementação da aposentadoria e passar uma parte da tarde com ela. Levava uma cuca e uns biscoitos e tomava um café com ela.
Minha mãe também teve uma excelente auxiliar afetiva, Sovina por apelido e Etelvina por nome. Era uma baiana de dotes culinários preciosos e , mais que isso, companheira nas brincadeiras. Ela e eu fazíamos roupas para minhas bonecas  para podermos brincar de desfile. Sovina me levava ao pátio da casa, antes de sua hora de sair .E ficava brincando comigo e meus gatos de estimação que eram em grande número.
Todas essas lembranças me levam ao desejo de fazer uma pequena homenagem às auxiliares afetivas e dedicar esse trabalho a elas, com a esperança de ver, por parte de seus patrões, o reconhecimento por tantos trabalhos prestados e tanta dedicação levada a termo, dia a dia, a qualquer tempo.
Então dedico esse texto também  a  Ana, Vera, Irene, Marlene, Lourdes, Diles, entre outras auxiliares que me prestaram inestimáveis serviços.
Sem elas, eu não poderia lecionar por tantos anos e me aposentar com duas promoções . Essas me foram conferidas por merecimento :  por trabalhos prestados à Educação e por não ter faltado ao serviço, sem que estivesse de licença maternidade. 
Mas não estou esquecendo de minha auxiliar afetiva ,Marta, que me enterneceu quando, uma tarde dessas se chegou a mim e perguntou;
-Dona Katia, quem vai cuidar da senhora na velhice? 
-Báh! Marta, nem pensei nisso ainda.
-Mas eu já pensei...
-Sim?
-Eu faço questão de lhe cuidar.
-Mas e as casas de geriatria, Marta?
-Nem pense nisso!
-Mas, pode ser muito trabalhoso e podes estar cansada,Marta!
-Vou estar com a senhora do mesmo modo que sempre esteve ao meu lado, D.Katia, e aperte forte minha mão entre as suas para que eu saiba que está se despedindo...


KATIA
Email:k.treen2@hotmail.com




sexta-feira, 27 de abril de 2012

UMA FÁBULA!


                                                                  FÁBULA                   
Uma gata manhosa e de pelo dourado pediu a Afrodite que a transformasse em uma linda mulher.
Afrodite se compadeceu da gata e atendeu ao seu desejo.
A gata foi dormir e ao acordar tinha se transformado numa jovem deslumbrante.
Encontrar um príncipe encantado foi apenas um abrir e fechar de olhos. E o príncipe por ela se apaixonou
Marcaram o casamento. Na noite de núpcias Afrodite quis experimentar o sucesso ou não de sua magia.
Então colocou um rato na cama do casal.Quando o príncipe levou sua princesa para o quarto nupcial essa esqueceu  sua nova condição e com seu instinto felino, ao ver o rato, se atirou raivosa sobre ele para caçá-lo como sempre fizera. O rato conseguiu fugir.
Afrodite, que  tudo observava, se aproximou da jovem e sem contemplação, transformou-a novamente em uma gata.
Isso nos leva a pensar que sob a pele de cordeiro temos um lobo selvagem se contendo para não se denunciar. 
Essa fábula desenvolve um fio condutor em minha mente derivando-a para algumas considerações.
Fez com que eu me lembrasse de alguns ditos populares que brincam com as mudanças de hábito do ser humano e que se relacionam com suas circunstâncias.
Imaginem se um político, nos dias de hoje, lá de Brasília, frente a um suborno declarado e evidente, iria dizer:
-Dessa água não beberei.
-Agora, imaginem um respeitável padre de uma pequena paróquia do interior e que oculta um filho bastardo,dizendo essas palavras:
-Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o reino dos céus.
Ou levando a imaginação mais adiante, lembrem do caminhoneiro infiel, filosofando, enquanto dirige seu caminhão, na estrada sem fim:
-Olhe para todas as mulheres mas conserve a sua direita.
E para finalizar essas considerações, caros leitores casuais de meu blog, quero sugerir que repassem aos seus amigos a seguinte idéia:
-Não se deixem capitular nos atalhos fáceis da vida, aceitando, sem constrangimento, mais esse dito popular:
-A ocasião faz o ladrão.
Lembrem de Oscar Niemeyer, mundialmente conhecido, por arquitetar e projetar o Palácio da Alvorada, que apenas quis se orgulhar d sua imponente construção a e nunca do império da corrupção em que se transformou seu filho simbólico.
Ele, um senhor lúcido, um gênio da arquitetura, merecia, já centenário, morrer mais feliz.
Então mudar os hábitos é promover uma revolução interior se reportando aos valores paternos, de nossa infãncia, a uma boa formação e sem acatar a permissividade da era dita moderna. A não ser que se queira acreditar que o conceito de desmembramento do grupo familiar e da consequente degradação dos costumes,estejam inseridos no conceito de modernidade.
Queira Deus que Afrodite não nos transforme em gatos correndo atrás dos ratos, memo porque, já não conseguiríamos exterminá-los.
KATIA
Email;k,treen2@hotmail.com
 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

NOSSOS IRMÃOS.

                  O IRMÃO DE TODOS NÓS

Quando assumi a vice direção de uma escola, senti a responsabilidade, inerente ao cargo ,pairando em meus ombros. Procurei realizar uma gestão voltada para os objetivos pedagógicos e direcionados ao bem estar da coletividade. Eram 1500 alunos matriculados e divididos em três turnos. O turno da tarde exigia mais atenção por se tratar de jovens de quinta a oitava série do ensino fundamental, no total de 600 alunos .O horário do recreio merecia cuidados especiais por ser o de maior turbulência. Tínhamos uma auxiliar de disciplina e, mesmo assim, era difícil controlar o horário das aulas, corredores, banheiros, biblioteca, salas de aula, refeitório e todos os corredores distribuídos pelos dois andares.
Certa ocasião estávamos reunidos na sala dos professores e percebi que o assunto girava em torno da suspeita de que , no intervalo, os alunos estavam conversando com elementos estranhos, no portão da escola, pelo lado de dentro da grade fechada. Investigamos a procedência desse grupo e descobrimos  serem de uma gangue que descia do morro para oferecer droga aos estudantes. Fazia parte do plano,em tese, chegar de mansinho nos elementos da bagunça, assim como  eles mesmos, que se utilizavam da mesma tática, para conquistar os alunos.As professoras desconheciam o modo de lidar com a situação e confabulavam, entre si, sem nada decidir .E nem os dois professores de Educação Física, nem o zelador se achavam preparados para enfrentar essa situação .Ao analisá-la, a  única certeza que eu tinha, era de que tínhamos que agir com cautela.
Havia um rapaz mais alto que os demais, magro, de boné, dando ordens e se movimentando com passos rápidos como se não quisesse perder nada do que acontecia ao seu redor. Esse liderava o grupo e seu apelido era ''Branca de Neve'', por ser , justamente o de pele mais escura, destacando-se entre todos os outros mulatos e demais elementos de cor branca. Resolvi agir por conta própria e pensei numa estratégia para solucionar o problema, cara a cara,com o líder e sem subterfurgios. As professoras discordaram de imediato, argumentando que se o ''Branca'' não gostasse de ser interpelado, um surto de impropérios rasgaria o ar ,para fazer eco no pátio do recreio, assustando os alunos. Mas , confiante de que minha idéia poderia dar bons frutos, apostei todas as fichas nela e parti para a ação.
Na tarde seguinte, no intervalo da merenda, dirigi-me ao pátio e avistei a turma, do lado de fora do portão.
Chamei o líder e abri o portão para que entrasse e logo fechei novamente. Preparei um sanduíche, suculento , feito especialmente para a ocasião, seguido de um copo duplo de suco de laranja natural. Ao perceber que ele se alimentava até com os olhos, pedi-lhe, de mansinho, que se afastasse da escola, porque os pais dos alunos, já preocupados, não queriam ver seus filhos falando com estranhos. Apresentei-lhe alguns argumentos, como o fato de estarem promovendo a algazarra, junto ao portão, ao mesmo tempo que atrapalhavam o fluxo normal dos veículos ao permanecerem no meio da rua. Falei sobre o lixo que jogavam na calçada da escola e das brigas que presenciara entre eles mesmos, quando queriam  determinar, cada qual, seu território .
Referi o fato de que alguns alunos, sentindo-se ameaçados, se recusavam a comparecer às aulas. E que era de minha competência, fazer o possível para restabelecer a ordem. Mas , não deixei escapar, em momento algum, que suspeitávamos de tráfico de drogas.
E como quem nada quer, como se a referência fosse casual, nas entrelinhas, tratei de mencionar uma delegacia de polícia que estava situada nas imediações da escola,dizendo que, não raro, um guarda à paisana, fazia a entrada e a saída dos alunos. E percebendo já a reação de meu ouvinte completei, rápida:
-''Branca'', se não deu para perceber nada é porque o guarda faz rodízio entre essa e outras duas escolas próximas.
-Diretora,aqui na frente tem brigadiano?
-Sim, sempre que necessário a Brigada Militar permanece nas imediações da escola.
-Se é assim, vou sugerir a minha turma que saia da frente do portão e ficaremos mais adiante, na esquina
-Mas porque na esquina, não seria melhor ficarem bem mais afastado?
-Não , diretora, tenho uma nova missão a cumprir
-E qual seria?
-Dar-lhe a minha proteção,certamente.
-Não se preocupe com isso, ''Branca''
-Engano seu- faço questão- a senhora permanece seu dia na escola e desconhece o perigo das ruas.
-Mas......
-Sim, como disse, vou estar atento e ninguém vai perturbar seu sossego.
E assim dizendo apertou minha mão e agradecendo o lanche que lhe ofereci ainda disse:
-Diretora, estarei na esquina, me chame se precisar.
Desnecessário se torna dizer que não chamei mais o líder da gangue para coisa alguma, pois para meu alívio e o da comunidade, nenhum elemento de vestes extravagantes e corpo tatuado, ninguém mais chegou  perto do portão da escola.
Mentalizei, muitas vezes, o gesto carinhoso de ''Branca'', ao me abraçar pelos ombros enquanto dizia ser meu protetor, a qualquer momento, independente da circunstância e da hora.
Penso que em cada esquina, em todos os espaços do planeta, há um irmão para cada um de nós que não precisa ser irmão de sangue para ser considerado como tal.
Esse é o irmão ao qual Deus se referiu quando disse:
-Amai-vos, uns aos outros, como Eu vos amei.
Ou ,em outro trecho da Bíblia:
-Ama o teu semelhante como a ti mesmo.
A existência desse irmão percebemos com os olhos da alma. Adquiri a certeza de que , na vida atribulada de ''Branca de ''Neve', não passei em brancas núvens.
Enquanto viver quero lembrar que teria a meu lado, sempre que quisesse,  um protetor insólito, ''sui-gêneris'', pouco convencional , mas cumpridor de sua palavra. Pelo menos, da palavra dada a mim porque lhe tratei com dignidade e consideração, como merece um ser humano. Mesmo parecendo desumano por estar rodeado de circunstâncias adversas e de uma infância desamparada, ali mora um ser humano.
Tenho fé no que falo porque a magia de um sorriso, de um abraço, de uma palavra amiga, de um olhar tranquilo, juntos podem ser como a pedra fundamental, a servir de alicerce para a construção de um novo caminho. Quem sabe um novo ser desperte de seu estado letárgico,com mãos ávidas e nervosas,tentendo nelas prender o primeiro fio de linha do carretel da esperança. e , de um certo modo, de um pequeno fragmento da felicidade.

KATIA

Email:k.treen2@hotmail.com

quarta-feira, 25 de abril de 2012

AMIGOS!

     

                   KATIA E VOCÊ, AMIGO
 
O poema é meu empenho
Se você vier eu venho!
 
 
 3000 acessos a mil
 
                Por esse imenso Brasil.
                      
                                    ABRIL /2012
 

terça-feira, 24 de abril de 2012

DESPERTANDO!


              LAVANDO A ALMA

A dedicação à família e aos trabalho preencheu grande parte de minha vida e disso não me arrependo.
Penso que se tivermos sucesso na profissão mas fracassarmos  com a família, não teremos razões para nos vangloriar.
Ao me aposentar do magistério voltei a tocar piano e a dar aulas desse instrumento para a terceira idade,o que é gratificante, quando se vislumbra o resultado.Mas , divorciada a longo tempo, perdi de vista, minha vida afetiva.
Com o advento do computador passei a exercitar a digitação, enquanto ouvia meus cds preferidos.
Como aprecio boa música ,unia o útil ao agradável e os cds iam se sucedendo enquanto ia abrindo os emails.
Um dia descobri a sala de bate-papo, dos descasados. Entrei , curiosa, conheci pessoas de várias nacionalidades, diferentes profissões e grau de instrução .Meu interesse, para minha surpresa, ultrapassou os limites.
Os internautas desfilavam em minha tela e a cada momento iam somando novas experiências às minhas próprias.
Custei a encontrar pessoas da mesma faixa etária e quando isso foi possível, mantive alguns internautas fiéis e descobri um mundo fascinante a minha volta.
Pecebi que além de mãe e avò poderia exercer minha feminilidade a meu favor. Li belas palavras de estímulo e alguns sentimentos adormecidos vieram à tona.
Surpreendi-me com o fato de que estar on-line nos dá uma nova consciência e interfere de modo positivo em nossa auto-estima. E ser lembrada pelos amigos e receber a atenção dos que enviam emails, é um modo de interagir socialmente.
E depois disso, quando fui a uma festa ,encontrei três cavalheiros interessantes que comigo dançaram, um a um ,fazendo-me companhia por toda a noite.
Desnecessário dizer, que ao final da festa, voltei, como de hábito, para minha casa. Mas , talvez nem tivesse aceitado dançar com os cavalheiros se não me permitisse ser mulher.
Estou lembrando desse fato porque teclei algum tempo com um senhor separado e com o decorrer dos dias percebemos ter a mesma visão da vida e as afinidades se fizeram notar. Embora distantes , um do outro, conseguimos manter uma constância na comunicação. Fomos nos descobrindo como pessoa e deixando transparecer parte de nossas experiências passadas e expectativas para o futuro.
Ao revelarmos nossa idade, percebi que já vivera bem mais do que ele e o panorama se modificou. Houve uma ruptura na sintonia e o misterioso encanto se desfez. Tomei a iniciativa  de deixar a vontade meu amigo virtual e justifiquei minha razões, ao fazê-lo.
Chegar a um nível crescente de afeto e portar vãs ilusões não seria o procedimento correto.Eu já percebera que  havia , da parte dele, a intenção de marcar um encontro ao qual eu não me encontrava preparada para comparecer.
Mas o que realmente importa é eu ter percebido que a idade, embora impiedosa ,não tem o poder de impedir o aflorar de sentimentos profundos, os quais temos obrigação de filtrar para que não se voltem contra nós.
Se houver destino traçado, independente, de nossa vontade, haverá o momento perfeito, para que nos seja dado realizar os desejos mais secretos e discretamente revelados.
O fato de ter conhecido esse especial amigo me deu a oportunidade de pensar a respeito do que poderia ter sido mas jamais será.
Viví momentos preciosos, de mútuo encantamento, onde recordei os arroubos da juventude e aprisionei lindos sonhos , sem que tivesse imaginado serem possíveis no mundo virtual.
É como se uma janela se abrisse para mim e deixasse penetrar uma luz de brilho intenso em mina alma.
E, tenho como certo, que pela tecla, penetrei em outra janela, do outro lado da tela, que deu passagem a emoções fortes, onde o silêncio da noite falou mais alto, cobrindo de paz outro coração.
Esses encontros transformaram nossas vidas e recebemos , um do outro, o mesmo presente: a amizade maior que se guarda no peito, que nada exige e que nenhuma  distância consegue abalar.
Ao refletir sobre essas cenas da vida, fico a me embalar na cadeira de balanço e cerro os olhos em meditação.
E tenho consciência de que embalo também meus sonhos adolescentes, cujas cinzas podem virar fogo e acender as brasas da amizade, do amor e da paixão.
Em útima análise, a amizade, tem nos decepcionado menos e pode ser a base para o despertar do amor.
E, se isso ocorrer, saibamos nos deixar amar, pois só assim, nos permitiremos viver, com algum sentido, essa breve vida e por acréscimo, a paixão.

KATIA
Email:k.treen2@hotmail.com

segunda-feira, 23 de abril de 2012

HISTÓRIA !

                      HISTÓRIA MUDA!

Numa noite linda de Primavera, eu e meu amigo, fomos a um restaurante colocar os assuntos em dia, ouvir música e jantar com mais requinte. Logo escolhemos uma mesa e nos acomodamos. Um casal ocupou a mesa ao lado.
Ela estava toda arrumada, com um colar de pérolas que combinava com o anel e os cabelos brancos muito bem penteados.
Ele, mais simples, no vestir, estava sério
Era um casal maduro e parecia igual a tantos outros que conhecemos.
Ele não demorou a se servir e voltou com o prato cheio.Ela , foi depois dele e voltou com o prato levemente servido, preferindo legumes e carne magra.
A dama, já com idade avançada, fez sua refeição ,rapidamente, e ficou o resto do tempo calada, observando o salão, as pessoas a sua volta e fixando um ponto, ao longe, com olhar perdido.
E durante 60 minutos sua voz não foi ouvida.
Ele parecia não se importar com isso e se detinha a apreciar as iguarias e degustar os alimentos.
Na verdade,nenhum deles estava preocupado em dar atenção ao outro.
Eu observava a reação de cada um deles, olhando discretamente a cena. Mas ao contrário desse casal, eu e meu amigo, estávamos sentindo a energia do ambiente e trocando idéias.
Em dado momento a dama olhou bem para o seu marido e apenas pronunciou, depois de 60 minutos,essas palavras:
-Já estás pronto?
-Sim.
-Então trata de pedir a conta.
-Espera, falta o cafezinho
-Nada de esperar, estou cansada  de ficar aqui sentada, na mesma posição.
E assim dizendo, a dama se levantou da cadeira ,atravessou o salão e foi para a porta de saída.
O homem ,aturdido, levantou a seguir e fez sinal ao garçom que trouxesse a nota. Pagou a conta, não bebeu seu café e foi procurar pela mulher.
Fiquei observando, do início ao fim, surpresa e intrigada, com o fato de ter presenciado  essa história muda mas complexa em sua análise.
Então perguntei a mim mesma:
-Para que ficar junto e compartilhar essa estúpida mudez?
-Como não pensar em vidas separadas e mais produtivas?
-Por que aceitar essa acomodação?
-E quantos anos essa situação iria perdurar?
-Como conviver com tamanha pobreza de espírito?
Certamente, não tenho todas as respostas.
Só tenho a constatação desse momento impressionante, num domingo à noite ,num restaurante de classe A ,onde o ambiente propiciava um agradável encontro e jamais uma'' tomada'' de cinema mudo.
Fiquei a pensar sobre o fato:
-Quantas almas mudas devem transitar por esse mundo, morrendo dia a dia, em seus sentimentos, muito antes da morte do corpo?
-Como alguém pode abrir mão de si mesmo para vagar sem rumo?
-E ainda se contentar em ver o tempo passar sem dar o passo decisivo que só a ele compete, para buscar um breve instante de felicidade?
Talvez a mudez contínua tenha levado aquele casal a perder a própria lucidez.

KATIA

Email>k.treen2@hotmail.com

domingo, 22 de abril de 2012

AMOR!

                         AMOR: BREVE ENSAIO

Estou na idade madura, a de maior discernimento, onde as aparências denotam a perda gradativa da beleza exterior, mas onde as experiências se vestem de sabedoria. Há o toque de recolher dos arroubos juvenis.
Fico a me perguntar porque os casais , onde o desamor já se fez verdade, ainda teimam em permanecer juntos. É comum ouvir dizer:
-Não vou me separar porque a casa onde moramos é nosso único bem.
Ou ainda:
-Não tenho meios para me sustentar e dependo da boa vontade do marido e de sua mesada.
Ou mesmo
-Não vou desapontar meus pais que investiram o que não tinham para realizar o sonho de me ver casada com toda a pompa que a ocasião requer.
E os mais abonados diriam:
-Não quero a marca de desquitado porque junto ao clube que frequento ou junto ao meu partido político eu não seria bem visto.
E os demais, outra parcela de homens abonados diria:
- Não admito repartir o patrimônio.
E as mães assustadas comentariam com suas amigas:
- Preciso do apoio de meu marido junto aos filhos, já adolescentes.
E as mães ansiosas questionariam:
- Enquanto minha filha sofrer de asma, não admito aumentar sua fragilidade emocional, falando de separação.
E os papais mais vividos falariam:
- Como dispensar os cuidados especiais dos quais dependo, se deixar minha mulher?
E outros papais desse universo conturbado diriam:
- Estou carente, não amo minha mulher mas não quero ficar sem ela porque entraria em depressão.
E as moças portadoras de uma educação tradicional diriam:
- Jurei ao pé do altar amar, respeitar e cuidar do meu marido na saúde e na doença, na alegria ou na dor, na tempestade ou na bonança, até que a morte nos separe.
Ainda conhecemos homens que acumularam uma fortuna  invejável e casaram com moças mais jovens.
Esses, comprando os favores sexuais e aquelas, se vendendo por ambição de luxo e riqueza.
E nesse contexto lamentável onde está o amor?
Será que ainda existe a possibilidade de ser feliz no casamento?
E quantos casais seriam realmente felizes?
Se formos considerar que o relacionamento com todos os componentes do romantismo está em desuso, é improvável pensar que os laços matrimoniais ainda tenham real sentido.
Fica mais fácil entender a hipocrisia dos relacionamentos e da sociedade, o faz de conta e a falsidade.
Não vejo mais ofertar flores, nem perfumes, nem uma caixa de bombons, nem o hábito de caminhar de mãos dadas, nem casais caminhando pelas praças, nem o lenço do namorado guardado para  conter a lágrima da namorada, quando essa escorrer pelo rosto. Não mais percebo o prazer da espera prolongada para dar sentido ao encontro. Não vejo a preparação cuidadosa para que o grande dia se complete com especiais detalhes: velas, vinho.toalha de linho, roupa de cama de cetim, a serenata surpresa, ou o banho na cachoeira.
Em outros tempos o amor vinha cercado de ternura, respeito e admiração. E se escolhia aquela choupana, no alto da colina, para presenciá-lo e a imponência do mar beijando a areia.
Conhecer o outro em suas qualidades e defeitos era um pressuposto para almejar um lar sólido. Ao redor da mesa da sala de jantar, pais e filhos conversavam sobre seu dia, seus planos e preocupações. E faziam questão de comentar em família a hora estabelecida para o retorno, no final do dia. Era um modo de confirmar o apreço, uns pelos outros, vivenciando , no dia a dia, os valores recebidos no lar.
Eram feitos planos para os finais de semana, sem esquecer a visita aos familiares ou aquele convite para comparecer ao churrasco de domingo.
As avós recebiam a visita de seus netos e esses a aceitavam em relação aos sábios conselhos que proferia.
Triste realidade essa, onde tudo é descartável, substituível ao primeiro impasse. Encontramos almas penadas se deslocando sem rumo, falando sozinhas, nas ruas, ou se insinuando com pessoas estranhas das quais só querem um pouco de atenção. Outras almas mais sofridas ainda, capitulam ao primeiro gracejo, ao primeiro toque, com apetite voraz e feroz como se fossem filhas das selvas.
A devassidão de uma sociedade sem estrutura sólida parece ser o mal do século. As relações se tornaram instáveis como se núvens passageiras fossem. O afeto sincero foi substituído pela diversidade de parceiros que buscam o prazer pelo prazer.
Constatamos os esforços da medicina para prolongar a vida útil e os avanços tecnológicos, em todas as áreas, em nome da evolução. Mas se o homem deixar de lado a vivência dos preceitos filosóficos que têm por fim decodificar o princípio da vida, se não buscar as respostas para suas indagações existenciais, não passará de um robô teleguiado, infeliz e solitário.
E nesse ritmo alucinante de permissividade consentida e estimulada pelos meios de comunicação, chegará ao fim da caminhada sem deixar saudades. Isso porque terá se tornado invisível em vida.
Então podemos dizer que estar casado é comum, mas estar casado, por amor, virou utopia ou simples miragem.
Salvo melhor juízo, estar feliz se tornou uma impossibilidade física e psíquica.
Mas quem sabe seja válido consultar um oráculo e seguir sua orientação para poder transformar um relacionamento abalado numa colheita fértil ?
Para isso precisaríamos dois corações unidos num só desejo.
Se não houver determinação de ambas as partes para buscar a flexibilidade, possibilitando um bom entendimento, a frase final das histórias de amor -e foram felizes para sempre- não terá sentido.
E a frase inicial -era uma vez- nunca terá sido.

KATIA  CHIAPPINI

Email:katia_fachinello42@hotmail.com

sábado, 21 de abril de 2012

O CAFEZINHO

             UM CAFEZINHO ESPECIAL

Coronel Juvenal, um homem letrado, era temido na região. Orgulhava-se de exigir obediência e respeito da mulher e filhos.O seu lugar, à cabeceira da mesa, não era ocupado por ningúem. Por ocasião das refeições o primeiro prato a ser servido era o dele.
Após ensinar as primeiras letras aos filhos, tratou de enviá-los à capital, para aprimorar sua formação.
O Coronel Juvenal era perfeccionista e costumava discutir com a mulher e os filhos sem motivo.A família procurava atendê-lo em seus caprichos.
Morava em zona de campo, possuia gado e lhe fazia bem cuidar da terra e das plantações.
Como apreciasse o chimarrão bem quente, exigia o mesmo do cafezinho.Não adiantava dizer que esse mau hábito era prejudicial à saúde. Tanto a mulher como os filhos costumavam passar o café para servir ao Coronel, quase sempre ouvindo suas reclamações:
-Esse café está morno.
Após algumas tentativas o café era aceito, embora o rosto do patrão denotasse contrariedade.
Os anos se sucederam e dois dos filhos do Coronel casaram e deixaram o lar paterno.
Transcorridos mais alguns anos a mulher do Coronel veio a falecer.
O Coronel ficou apenas com Diogo, o  filho mais moço, indispensável auxiliar na administração dos negócios.
Diogo fazia a compra dos mantimentos na cidade próxima, distribuía o salário para os empregados e se colocava a disposição do pai para o que lhe fosse pedido. E instruia o capataz sobre as lidas diárias.
Certa manhã estavam na varanda da casa e o Coronel pediu seu habitual café para o filho.
Diogo não estava conseguindo chegar na temperatura certa, mesmo colocando todo seu empenho na preparação do indispensável cafezinho.
E o Coronel, pela centésima vez falou:
-Diogo! que droga de café é esse?
-Meu pai, estou tentando acertar
-Mas está frio, não escaldaste a xícara?
-Espere, vou tentar novamente.
E lá se foi Diogo, já nervoso, pois o fato se repetia, sem trégua, indefinidamente.
Andou pela casa, de um para outro lado, avistando, ao mexer nas gavetas, uma enorme pinça cirúrgica.
E foi acometido de certa inquietação por imaginar o que aconteceria se colocasse em prática uma idéia que lhe veio ,assim, de repente. Mas investiu na idéia e tratou de pô-la em prática.
Colocou um par de luvas e ajeitou a chaleira no fogo, com água para passar o café. Ao lado, noutra boca do fogão, encheu outra panela d'água. Acendeu o fogo das duas bocas e esperou a chaleira  ferver e a panela auxiliar mostrar o vapor d'água que não tardou.
Diogo colocou nessa  panela o bule e a tampa dele, a colherinha, a xícara e o pires, deixando todos os ítens  ferver bem.
Ficou observando e pensando:
-Se todos os utensílios estiverem escaldados, o cafezinho só poderá ficar bem quente.
Passando do pensamento para a ação retirou o bule e o colocou no fogo baixo.
O pó de café coado foi caindo no bule e para que não fervesse apagou o fogo. Após passar o café Diogo pegou a xícara e o pires com a pinça e colocou antes esse  e depois aquela na bandeija. A quantidade de açúcar, tres colheres, foi misturada ao cafezinho, já servido.
Diogo levou a bandeija para a sala onde estava o Coronel:
-Pronto, meu pai, eis o seu café.
-Até que enfim, Diogo, quanta demora!
E resmungando o Coronel pegou a xícara já sentindo o calor da alça.
Levou o primeiro gole à boca e deu um grito como daria um animal selvagem, se fosse molestado.
-Diogo, queimei minha boca, o que fizeste?
-Só estava tentando agradá-lo, meu pai.
-Mas isso é um deboche.
E cada vez mais transtornado retrucou:
-Diogo, seu incompetente, agora não poderei me alimentar, até que fique curado.
-Ótimo meu pai.
E completando falou Diogo:
-Quem sabe agora possa alimentar seu espírito com um misto de tolerância e reconhecimento pelos inúmeros serviços que lhe tenho prestado.
E diante do olhar assustado e penetrante do Coronel fez-se ouvir:
-Caso encerrado, não quero ouvir mais nada a esse respeito.
E tem mais um aviso que vou lhe dar,meu pai:
-Faça seus próprios cafezinhos a partir de hoje mas não me ofereça nenhum deles.
-Por que isso agora, meu filho?
Então, com olhar incrédulo, o Coronel ouviu de Diogo:
-É simples , meu pai. Quero poupá-lo do desprazer de me ver recusá-los, caso não estejam de meu agrado, dia após dia, por anos a fio, como o senhor fez comigo.

KATIA

A GATINHA DE MARY

                A GATA ASSUSTADA

Minha mãe, já acometida da doença de Alzheimer,  precisou de minha presença constante por 7 anos.
Mamãe fazia questão de comemorar seu aniversário em família.
Em determinado tempo, não sendo mais possível comemorar seu aniversário no restaurante que reunia filhos e netos, convidei uma das filhas e as crianças para brindar com ela, em sua casa.
Minha neta levou Mia, sua gatinha de estimação,  pensando alegrar mamãe.
Quando lá chegamos, a gata foi colocada no colo de mamãe que a segurou surpresa e os olhinhos dela criaram vida .Ficou acariciando o pelo de Mia e sorrindo. A gata tentava se esquivar e mamãe,sem se dar conta, apertava seu corpinho miúdo e o pescoço. Quando isso acontecia, minha neta soltava a gatinha que corria, aliviada, pela casa toda. Mamãe, já ausente de si mesma, apenas se movimentava na cadeira, pegava um lencinho que ficava ao seu alcance e o apertava, por diversas vezes, como se quisesse modelar alguma coisa. Ela dobrava e desdobrava o paninho, num gesto repetitivo. Depois fixava seus olhos num ponto distante, por horas a fio. A televisão ligada servia apenas para constar, para criar um ambiente menos triste.
Nessa ocasião os problemas neurológicos de mamãe estavam adiantados e ela apenas repetia as poucas sílabas que ainda sabia pronunciar: sim, não, é. Isso ocorria quando perguntávamos algo a ela.
Enquanto mamãe olhava ao redor buscando ver o paradeiro da gatinha, tivemos  a idéia de brindar com ela mais um aniversário. Minha filha foi procurar as taças de champanhe e a bebida que havíamos colocado no congelador, logo ao chegar.
Minha neta colocou Mia novamente no colo de mamãe.
Ao pipocar da rolha ,mamãe, vendo nossas taças preparadas para o brinde ,ergueu sua taça com uma das mãos e com a outra ergueu Mia.
Então o inesperado aconteceu.
Mamãe colocou o focinho da gata no cálice de champanhe e ria muito ao perceber que essa esperneava, assustada.
Minha filha, os meus netos e eu começamos a rir e mamãe ria mais alto, ainda encantada com a cena. A gargalhada era geral e incontida e tomou conta de toda a casa. Só Mia não achou graça nenhuma, ao contrário, perdeu toda a graça que, porventura, ainda pudesse ter.
Mas minha mãe estava feliz em sua inconsciência e nem percebeu quando Mia desceu de seu colo ao se desvencilhar dela..
Aquele brinde foi muito além do estampido da rolha. Representou mais um encontro de família e foi um bálsamo para mamãe e uma linda cena para seus olhinhos verdes e lindos
A rolha que saltou do gargalo da garrafa não foi mais significativa do que a alegria de mamãe que saltou aos nossos olhos.
Bebemos o champanhe mas saciamos a sede de ternura. O amor entre mãe, filha e netos transbordou tanto quanto o líquido que escorreu no colo de mamãe, já que não conseguiu dominar as próprias mãos, já trêmulas, devido a doença.
Uma gata magrinha ,frágil, sem viço, sem nada de especial, foi motivo de ternura e encantamento naquela tarde.
E assim, comemoramos mais um aniversário de mamãe,cuja alegria maior era olhar as criancinhas e os cães com seus donos passeando na calçada. É que na parte da tarde ela ficava ,em sua cadeira, na frente da casa ,junto ao jardim. E só depois de aparecer a lua no céu e as estrelas a lhe dar boa noite, só depois disso eu conseguia levar mamãe para dentro.
Mas Mia superou o sol, lua e estrelas e foi quem brilhou na tarde do aniversário de mamãe, já com tão poucas chances de se alegrar.
Parece que precisamos de tão pouco para armazenar um pouco de felicidade!
Brindamos em família e agradecemos a Deus pela graça de ainda poder estar com mamãe.
Porque a família´é a eterna âncora a zelar por seus filhos e o maior exemplo para o aprimoramento de um amor maior, pelos  semelhantes, tão diferentes em suas necessidades existenciais.
E Mia? continua miando, já refeita do susto desde que recuperou sua paz

KATIA
Email: k.treen2@hotmail.com

sexta-feira, 20 de abril de 2012

ILUSÕES!

                       ILUSÕES PERDIDAS

Não se pode negar a importãncia da Internet para as pessoas solitárias e notívagas, que entram nas salas de relacionamento para o esperado bate-papo. E nem imaginar o tamanho desse contingente.
Os motivos são diversos, mas basicamente, trata-se de um universo de seres carentes e que se deparam
com outros tantos em condições similares. O anonimato é perfeito para que se exerça a liberdade necessária para abordar, com desembaraço, os mais diversificados assuntos. A comunicação é bem vinda, dando um novo impulso às vidas em conflito e renovando crenças e esperanças. É possível fazer amigos e despertar emoções, há muito adormecidas. E as cordas da alma vão se afinando e se recompondo e ao mais leve toque deixam transparecer a paz que vai se aninhando de mansinho.
 E nesse momento de intensa magia é dado ao internauta uma oportunidade: a de sonhar com as belezas que a natureza nos proporciona.
Os sonhos se voltam para o barulho da chuva no telhado de zinco, o uivar do vento vergando uniformemente o trigal, a batida das ondas do mar nas rochas, o crepitar da lenha se insinuando na mata e a cachoeira de águas prateadas descendo a montanha.
As fagulhas de brasas tomam as devidas proporções e acendem as paixões e os desejos incontidos, mesmo porque as mensagens românticas desfilam aos nossos olhos na tela do computador.
Mas ocorrem desencantos com os desavisados ou ingênuos. Alguns internautas cortam, repentinamente , a comunicação, outros fazem vãs promessas que jamais pensam cumprir. Assim os fracos de espírito podem confundir o mundo real com o virtual e apostar todos os seus dados numa única jogada.
As mágoas e decepções interferem na vida dos incautos que se deixam levar por ilusões pertinentes aos contos de fada ou às fábulas de Esopo.
O perigo vem do fato de que podem se valer de crenças infundadas e praticar atos insanos. O entusiasmo leva à compulsão, de tal forma, que as pessoas vão ao encontro de uma aventura, sem prever os riscos a que estão sujeitas, desembarcando com malas e bagagens, num local desconhecido, na esperança de encontrar seus supostos pretendentes. E não raro servem para uma única noite de prazer.
Ao se verem abandonadas entram em desespero e se perdem de si mesmas .É  que as fagulhas tomam forma e acendem as paixões e desejos incontidos.
A ansiedade, como grande vilã, desequilibra os atos dos apaixonados e o resultado é a perda do bom senso.
Acreditam num arsenal de palavras, previamente decoradas , com sentido de impressionar a presa fácil.
Essas trazem consigo o vazio proveniente da inverdade.
Esquecem que os verdadeiros sentimentos não nascem em espíritos conturbados que desarmonizam hormônios e neurônios fragilizando e confundindo o mundo onde se vive com o de fantasias.
Mas , se por ventura, um grande amor vingar, mesmo iniciado na sala de bate-papo, estará envolto em outras ciecunstâncias: sem atropelos, sem atalhos fáceis, sem se alojar pelo avesso, na superficialidade de um mundo irreal e de suas perdidas ilusões.

KATIA
Email: k.treen2@hotmail.com
 

                                                 ESTAMOS EM PLENA CAMINHADA
                                                 RUMO A TRÊS MIL ACESSOS-VENHA-
                                                 HÁ UM EMPENHO NESSA JORNADA
                                                 AO POEMA-MOSTRE SUA SENHA-