Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 9 de abril de 2012

PARA REFLETIR: prosa poética

                        TININHA

Não teve infância a menina
Mas conservou o brilho no olhar
Trabalhou desde pequenina
Sem boneca para brincar

Cresceu com o dinheiro contado
Nada pedia-era pobre-
Não teve um vestido bordado
Nem mesmo um anel de cobre

Fazia as lidas da casa
E as lições da escola também
A mãe lhe ''cortava as asas''
Não brincava com ninguém

A menina tininha, um dia
Cresceu, casou como convém
O marido lhe deu regalias
E uma boa mesada também

Tininha se pôs a gastar
Frequentava jantares e festança
Viajou por céu e por mar
Trouxe raridades como lembrança

Era suave e carismática
Católica, gentil, envolvente
Mas tinha o consumismo como prática
Dirigindo-se às lojas, diariamente

Em pouco tempo abarrotou
A casa de três andares
Bichinhos e bonecas colocou
No sofá, nas escadas, aos pares

Construiu outra casa-pasmem-
Colocou enfeites por todo o lado
Na geladeira, na pia, na garagem
Até o gato se mostrou ameaçado

Os brinquedos têm voz, têm luzes
O anjo e o Papai Noel de pilhas
Conversam com Tininha-cruzes-
Substituindo as inexistentes filhas

Tininha a casa eletrificou
Ao sumir o sapo, da entrada
E se levassem seus vasos-pensou-
Ou as miniaturas importadas?

Com o marido, juíz de carreira
Tininha lucrou mais uma vez
Não estava sem ''eira nem beira''
Compraria o baú chinês

É pena não dividir o quinhão
O apego não a deixa crescer
Mora nos fundos, por opção
Na cama estreita vai adormecer

Cozinha no fogão de duas bocas
Os outros dois portam enfeites
Pares de sapatos, bolsas e toucas
Cabides de roupa são seu deleite

Tendo duas casas espaçosas
Tininha foi habitar um quartinho
Os bichos nas cadeiras preguiçosas
E, em todos os cantos, fazem ninho

Os filhos de corda e botão
Aprisionaram  há muito, Tininha
Sua carência gerou compulsão
Já não é mais do lar a rainha

Sem que percebesse a inutilidade
A vida lhe fugiu-que ironia-
Por inconsequência, não por maldade
Sem deixar rastros, marcas ou saudade

Imagino que em sua última hora
E na ausência de amizades sinceras
Abraçada às bonecas diga a N.Senhora:
-Perdão: troquei a vida por quimeras

KATIA
Email: k.treen2@hotmail.com


Um comentário:

  1. Tininha uma amiga querida, compulsiva, que me deu permissão para publicar sua história

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