Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 21 de abril de 2012

O CAFEZINHO

             UM CAFEZINHO ESPECIAL

Coronel Juvenal, um homem letrado, era temido na região. Orgulhava-se de exigir obediência e respeito da mulher e filhos.O seu lugar, à cabeceira da mesa, não era ocupado por ningúem. Por ocasião das refeições o primeiro prato a ser servido era o dele.
Após ensinar as primeiras letras aos filhos, tratou de enviá-los à capital, para aprimorar sua formação.
O Coronel Juvenal era perfeccionista e costumava discutir com a mulher e os filhos sem motivo.A família procurava atendê-lo em seus caprichos.
Morava em zona de campo, possuia gado e lhe fazia bem cuidar da terra e das plantações.
Como apreciasse o chimarrão bem quente, exigia o mesmo do cafezinho.Não adiantava dizer que esse mau hábito era prejudicial à saúde. Tanto a mulher como os filhos costumavam passar o café para servir ao Coronel, quase sempre ouvindo suas reclamações:
-Esse café está morno.
Após algumas tentativas o café era aceito, embora o rosto do patrão denotasse contrariedade.
Os anos se sucederam e dois dos filhos do Coronel casaram e deixaram o lar paterno.
Transcorridos mais alguns anos a mulher do Coronel veio a falecer.
O Coronel ficou apenas com Diogo, o  filho mais moço, indispensável auxiliar na administração dos negócios.
Diogo fazia a compra dos mantimentos na cidade próxima, distribuía o salário para os empregados e se colocava a disposição do pai para o que lhe fosse pedido. E instruia o capataz sobre as lidas diárias.
Certa manhã estavam na varanda da casa e o Coronel pediu seu habitual café para o filho.
Diogo não estava conseguindo chegar na temperatura certa, mesmo colocando todo seu empenho na preparação do indispensável cafezinho.
E o Coronel, pela centésima vez falou:
-Diogo! que droga de café é esse?
-Meu pai, estou tentando acertar
-Mas está frio, não escaldaste a xícara?
-Espere, vou tentar novamente.
E lá se foi Diogo, já nervoso, pois o fato se repetia, sem trégua, indefinidamente.
Andou pela casa, de um para outro lado, avistando, ao mexer nas gavetas, uma enorme pinça cirúrgica.
E foi acometido de certa inquietação por imaginar o que aconteceria se colocasse em prática uma idéia que lhe veio ,assim, de repente. Mas investiu na idéia e tratou de pô-la em prática.
Colocou um par de luvas e ajeitou a chaleira no fogo, com água para passar o café. Ao lado, noutra boca do fogão, encheu outra panela d'água. Acendeu o fogo das duas bocas e esperou a chaleira  ferver e a panela auxiliar mostrar o vapor d'água que não tardou.
Diogo colocou nessa  panela o bule e a tampa dele, a colherinha, a xícara e o pires, deixando todos os ítens  ferver bem.
Ficou observando e pensando:
-Se todos os utensílios estiverem escaldados, o cafezinho só poderá ficar bem quente.
Passando do pensamento para a ação retirou o bule e o colocou no fogo baixo.
O pó de café coado foi caindo no bule e para que não fervesse apagou o fogo. Após passar o café Diogo pegou a xícara e o pires com a pinça e colocou antes esse  e depois aquela na bandeija. A quantidade de açúcar, tres colheres, foi misturada ao cafezinho, já servido.
Diogo levou a bandeija para a sala onde estava o Coronel:
-Pronto, meu pai, eis o seu café.
-Até que enfim, Diogo, quanta demora!
E resmungando o Coronel pegou a xícara já sentindo o calor da alça.
Levou o primeiro gole à boca e deu um grito como daria um animal selvagem, se fosse molestado.
-Diogo, queimei minha boca, o que fizeste?
-Só estava tentando agradá-lo, meu pai.
-Mas isso é um deboche.
E cada vez mais transtornado retrucou:
-Diogo, seu incompetente, agora não poderei me alimentar, até que fique curado.
-Ótimo meu pai.
E completando falou Diogo:
-Quem sabe agora possa alimentar seu espírito com um misto de tolerância e reconhecimento pelos inúmeros serviços que lhe tenho prestado.
E diante do olhar assustado e penetrante do Coronel fez-se ouvir:
-Caso encerrado, não quero ouvir mais nada a esse respeito.
E tem mais um aviso que vou lhe dar,meu pai:
-Faça seus próprios cafezinhos a partir de hoje mas não me ofereça nenhum deles.
-Por que isso agora, meu filho?
Então, com olhar incrédulo, o Coronel ouviu de Diogo:
-É simples , meu pai. Quero poupá-lo do desprazer de me ver recusá-los, caso não estejam de meu agrado, dia após dia, por anos a fio, como o senhor fez comigo.

KATIA

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