Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

sábado, 23 de fevereiro de 2013

O PODER DA PALAVRA

            PALAVRA: TRANSFORMADORA

Em certa ocasião, quando fui diretora de escola, deparei-me com uma gangue que pretendia vender drogas, passando-a pelas grades do portão, na hora do recreio. Ninguém queria se envolver e tomar providências e nem estudar uma solução. Mas tive a certeza de que deveria agir, sem demora, de algum modo.
Então, uma tarde, chamei o líder da turma que já se aproximava do portão e pedi que entrasse no pátio. Levei-o ao refeitório da escola e ofereci-lhe um lanche completo e reforçado que a merendeira havia preparado a meu pedido. Enquanto ele comia, com sofreguidão, pedi-lhe que se afastasse do portão, porque haviam crianças das séries iniciais no pátio, naquele horário. E os pais estavam preocupados com a visão daquela turma que não frequentava a escola e a aglomeração estava, além de tudo, atrapalhando o trânsito. E as brigas , entre eles, assustando os pequenos que nem queriam mais vir às aulas.
O líder da gangue ouvia minhas palavras e depois de se deliciar com a merenda me disse: 
- Professora, vou ficar na quadra seguinte com minha turma.
- Mas por que não ir para bem mais longe?
Então ouvi essas palavras dele:
- Como poderia deixar a senhora sem minha proteção ?
E diante de meu olhar de surpresa completou:
- Sou seu guardião agora e se precisar é só mandar chamar.
Claro que nunca o chamei mas me envolveu um sentimento de admiração ao constatar que minha atenção, carinho e a delicadeza com que me dirigi a ele, fez brotar um fragmento de consciência em seu ser tão conturbado, mas, certamente, ainda com a centelha divina num coração atormentado pelo abandono.
Quem tem o poder da palavra tem uma importante ferramenta a sua disposição.
A palavra é transformadora, incentivadora, escrita ou falada, deixando sua marca por onde passa.
Um homem cego, de idade avançada,  sentou-se na calçada de uma praça pública e aguardava , pacientemente, que lhe colocassem qualquer moeda, numa lata, que trazia para arrecadar doações em dinheiro.
No chão havia um pedaço de papel com os dizeres:
- Sou cego, deixe-me sua colaboração.
As pessoas, apressadas, passavam a passos largos e poucas paravam para ajudar o deficiente visual.
Após um tempo, que eu observava a cena, passou uma estudante com seus livros na mão. Parecia ter pressa mas andou alguns metros e voltou para ler o que dizia no cartaz amassado e sujo.
Saiu novamente e minutos depois voltou com um cartaz maior com alguns dizeres escritos com capricho e com uma ilustração feita, como se fosse moldura de um quadro. E se afastou mais uma vez, não sem antes colocar o seu cartaz no lugar do outro, que pelo aspecto, já merecia uma lata de lixo.
Então os passantes liam e colocavam moedas no recipiente, e em pouco tempo, o cego tocou na lata e percebeu que estava cheia.
A moça,curiosa, voltou mais uma vez, e o cego a reconheceu pelo faro aguçado e perguntou-lhe:
- O que você escreveu no cartaz ?
A moça falou:
Você percebeu a beleza desse dia ensolarado e os pássaros cantando ao meu redor ? pena que não posso ver porque sou cego.
O cego se emocionou e deu um beijo no rosto da moça, agradeceu e ela seguiu, finalmente, para assistir suas aulas.
Outro dia fui ao Mercado Público de minha cidade e um jovem mal vestido e não muito asseado se dirigiu a mim e disse :
- Tia, me compra um leite e um pão
Eu falei a ele:
- Sabe, em vez de dizer tia, vó, meu chapa, cara, cidadão ou qualquer palavra sem brilho, você experimente dizer:
- Moça, por favor, quer me dar algum alimento ?
O jovem ficou pensativo enquanto eu observava um senhor que acabara de comprar uma barra de chocolate. 
Então me veio uma ideia e eu disse:
- Vá ali, aquele senhor acaba de comprar uma barra de chocolate e quem sabe, se pedir com jeito, ganhará um pedaço.
Fiquei observando o jovem se afastar para falar com o homem e percebi que ganhou dele a metade da barra.
Voltou feliz e perguntei-lhe:
- Como foi que falou com o homem?
E o jovem com um sorriso nos lábios disse; 
- Moço, quer por favor, me alcançar um pedaço pequeno de seu chocolate ?
E assim me despedi do jovem que deve ter percebido que dizer moço ou moça, é bem mais agradável de ouvir, mesmo porque, ocorre que nem sempre somos tão moços assim.
Ele me deu a mão, apertou-a e agradeceu a sugestão e eu deixei com ele o número de um telefone de um órgão estatal que poderia ajudá-lo.

                                  KATIA CHIAPPINI




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