Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

UM NASCE, OUTRO MORRE

Enquanto lia o jornal me veio a mente a figura de meu tio  Léo  e de minha filha Tatiana, ambas, figuras queridas e especiais.
Tio Léo morava em Santana do Livramento e minha filha em  São Paulo. Ambos eram conscientes de suas responsabilidades.
Pensava em meus familiares distantes quando o telefone tocou. Era Tia Bebê, esposa de Tio Léo, para me comunicar o exato momento do desenlace de meu querido Tio. Solidarizei-me com ela e lembramos de alguns traços de sua personalidade. Embargamos a voz ,juntas,o que me levou a desligar o telefone para retornar depois. Não demorou mais do que um segundo e atendi o telefone novamente. Imaginei que minha Tia esquecera de referir algo importante.
Mas se tratava de minha filha Tatiana, feliz, bem agitada, o que me levou a perguntar:
-Estás grávida, minha filha?
-Sim ,mamãe, liguei justamente para te dizer a novidade.
Fiquei feliz com ela e o sentimento de tristeza se transformou em alegria: em cada segundo, uma surpresa diferente.
Tio Léo foi como um segundo pai. Adorava fazer licores caseiros. Recolhia as frutas do pomar e as colocava em cima da mesa da copa, junto com o mel, limão, canela, leite condensado e cachaça: todos ingredientes para que se fizesse um bom licor. Eu e o tio criávamos sabores exóticos e ele tinha prazer em me convidar para essa fabricação caseira que aqueceria o inverno dos pampas, de uma família que convivia a beira da lareira ,com o churrasco e o chimarrão. Passei todas as férias de inverno em sua estância me deliciando com os atrativos da vida em campanha.
Meu tio completou 90 anos de idade e visitei-o poucos meses antes de seu falecimento. Partiu como um passarinho cansado, deitando a cabeça no colo de sua mulher, como se dormisse, tendo um dos filhos ao seu lado.
Na estância tínhamos a roda de chimarrão, o churrasco, a canjica, o feijão com carne de ovelha, o leite morno tirado da vaca de raça, os doces em calda e toda a sorte de iguarias que só lá eu saboreava e que só lá existia e se tornava um carinho para os frequentadores da casa.
Tati, minha filha, costumava levantar a ponta da toalha que cobria o tacho  de cobre para roubar alguns figos em calda, especialidade de Tia Bebê e, assim sendo, eram reservados para após as refeições, criteriosamente.
E para falar em Tati, vou me reportar a ela que reside, já há quatro anos, em São Paulo. Agora já sabemos que será mãe de um menino.
Tati é formada em engenharia mecatrônica e professora universitária. Concluiu seu mestrado na UFRGS, casou e tem uma filha ,linda, de nome Helena.
O fato de poder acompanhar sua evoluçaõ no terreno profissional  e no campo pessoal compensa a saudade que sinto de nossas caminhadas, ao longo do calçadão, da usina do gasômetro, às margens do Guaíba. Fico imaginando o mistério que cerca nossas vidas e a impossibilidade absoluta de alterar a hora do nascimento ou a hora da morte.
Ao mesmo tempo que Tio Léo me deixou um vazio porque tínhamos mútua estima soube que o preencheria com um pequeno ser, meu netinho, que logo viria ao mundo.
Nessa fase de uma etapa mais madura, o carinho dos filhos e netos é a poção mágica que nos impulsiona e aquece tornando nossos dias com real sentido e nossos esforços recompensados.
Quando meu netinho nascer serei mais vovó, mais amada, mais feliz e minhas faces receberão mais beijos, como ouso prever.
Um morre e outro nasce.
Cada desesperança se esconde atrás da esperança, cada tempestade antecipa a bonança, cada chuva antevê a estiagem. E a cada dia bem vivido se sobrepõe a certeza de um sono tranquilo e de um novo despertar.
Se fôssemos seres perfeitos como se daria o processo da evolução? Como corrigiríamos nossos erros do cotidiano? E como evoluir nas áreas científicas e tecnológicas? E como teríamos acesso às descobertas da medicina que concorrem para que tenhamos uma vida mais prolongada e com qualidade?
Olhando a nossa frente, vemos nosso caminho; para o lado, nosso semelhante; para traz, a bagagem cultural que o passado nos trouxe; para cima,nosso pensamento se volta para Deus, a quem devemos ser gratos.
Um morre e outro nasce.
É meu desejo, Tio Léo, que seja feliz em sua nova morada de luz. Saiba que foi meu tio preferido. E sei que era também uma sobrinha especial, tratada com toda consideração ,amizade e amor.
.É meu desejo, Bruno, meu netinho, que seja feliz em sua chegada. Saiba  que virá para renovar a esperança e a fé no vínculo familiar.
Quando eu falar com meu neto, quero ensinar a ele os verdadeiros valores cristãos e lhe dizer:
-Ame sua mãe, que me ama, como amo a minha, que por sua vez, sempre amou minha vó Glória, a mãe dela.
Apagou-se aos 90 anos uma estrela madura para que outra estrelinha nova pudesse empurrar com os pézinhos, a barriga de sua mãe, para aumentar de volume e conter seu próprio tamanho até a hora de vir ao mundo: protegido e amado.
Assim como nascemos para morrer, morremos para renascer como espíritos de luz, em algum  tempo e lugar.
Tio Léo estava no tempo de partir. Bruno está no tempo de chegar para conhecer seus pais e se aproxima para receber o abraço de Tati,Tiago e Helena.
Em nossas vidas temos um ciclo a cumprir entre o tempo de chegada e o tempo da partida. E uma missão que nos foi determinada nos desafia ao longo da jornada: cada um tem a sua.  Nossas escolhas é que nos diferenciam. Assim, a medida que evoluimos, vamos cumprindo essas tarefas e marcando o caminho para que os descendentes o trilhem com orgulho, pois nosso exemplo não será esquecido.
Não somos totalmente felizes e nem totalmente infelizes. Mas nesse instante, onde os vínculos familiares se fortalecem, estamos todos irmanados .
Para nós, os envolvidos no mistério do surgimento de uma nova vida, somos totalmente  BRUNO.

JUNHO/23/DIA DO NASCIMENTO DE MEU NETINHO:  BRUNO
Dedico esse texto aos pais: TATIANA E TIAGO e a minha netinha HELENA, quando souber ler.

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