Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pepita

Cheia de graça, pelo negro, focinho empenado e orelhas atentas, lépida e faceira, é pepita, uma linda cadelinha. Se não fosse pura de raça o seria de sentimentos.
Depositária de todas as atenções de um casal e suas crianças, conserva-se tanto fiel como companheira .Em sua desenvoltura e percepção apurada, dispensa o uso da coleira. Quando vai passear , se aloja sob o banco do motorista, se sair de carro. Exercita-se todo o dia porque acompanha as voltas de rua e vai passear na praça com as crianças .Seus donos, quando vão às compras, não a deixam em casa. Certa ocasião roubou a cena quando se encontrava numa galeria de lojas de roupas e calçados, bem como de máquinas eletrônicas ,que fazem a alegria dos adolescentes. Com seus jogos de lutas terrestres ou espaciais, corridas de carro e toda sorte de brincadeiras virtuais ,as máquinas eram o alvo das atenções dos frequentadores da galeria.
Pepita, também frequentadora do local, observava uma das máquinas, em especial, onde se podia dançar, sendo que os passos exigiam uma sincronia perfeita ,incluindo piruetas e , a certa altura, simulavam um sapateado. A música ia do erudito ao popular, passando por variações de ritmo e de som. Podia se ouvir Beethoven, Mozart, Vivaldi, Bach, em temas conhecidos.
Bastava colocar a ficha na máquina e observar as setas que indicavam a coreografia que exigia passos lentos em seu início, para logo apresentar maiores dificuldades. Havia mesas e cadeiras para acomodar as pessoas, que podiam aproveitar a ocasião para lanchar , se quisessem. Os bailarinos jovens se sucediam ,individualmente ou aos pares ,executando com precisão os movimentos e eram aplaudidos ao final da dança.
Pepita observou essa cena durante alguns dias consecutivos junto com seus donos que elogiavam a beleza plástica dos participantes. E eis que resolveu revelar sua linda figura, por inteiro.
Em instantes desafiou toda a platéia e saiu, como num passo de mágica, da observação para a ação. Não demorou para se fazer notar e provocar o riso das pessoas. Os donos de Pepita, olhando ao redor, viram com surpresa, o espetáculo que a cadelinha oferecia ao público.
Logo mostrou-se gigante, majestosa e empinada, sustentando-se nas patinhas traseiras e latindo alto como se cantasse. O som lembrou o uivar do lobo, agudo e prolongado.
O corpinho faceiro saltitava e rodopiava, em frenesí, rápido como a lebre, ainda apoiado nas duas patinhas, desafiando qualquer lei de física.
Por muito tempo permaneceu em sua dança triunfal ,tanto quanto durou a execucão da Marcha Triunfal de Verdi, motivo de sua inspiraçao e de seu momento de fama.
E dessa vez, os bailarinos da máquina não ouviram os aplausos. Pepita os mereceu, sendo o centro das atenções.
Formou-se um círculo ao seu redor e as cadeiras ficaram vazias, pois ninguém queria perder os detalhes dessa insólita façanha.
A natureza animal preparou o cénário que transformou em poesia o dia das pessoas presentes.
Pepita nada exigiu e nada cobrou para celebrar a vida. Depois disso, quando escuta música, Pepita late, se agita,se requebra e se empina, para traz, dando a si mesma um fragmento da alegria que sentiu e guardou, nem sei onde, nem porque, nem por quanto tempo.
Mas o fato é que Pepita, hoje, não pode passar perto de uma pessoa de triste fisionomia.
Ela levanta a patinha e acaricia a perna da pessoa, como se suplicasse um sorriso , que para o animalzinho , é a melhor dádiva.
E quero crer que se pudesse perguntaria:
-Há quanto tempo você não dança?

KATIA CHIAPPINI

                  

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