Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 24 de julho de 2015

MINHA VOVÓ D.GLÓRIA

                            VOVÓ GLÓRIA

Minha vovó Glória morava em Santana do Livramento, fronteira com Rivera,Uruguai.
Eu a visitava durante as férias escolares. Como a casa era grande, meus primos e eu, formávamos um bando de crianças ao seu redor. Mas a vovó mantinha um controle sobre a disciplina, de modo que não eram contestadas as suas orientações.
Era uma mulher de valor, carinhosa mas firme nas determinações.
Quando vovô precisou de ajuda, ela mesma se prontificou a atender na farmácia que ele administrava. Eram duas casas: uma farmácia e uma drogaria. Vovô passava o dia correndo de um para outro estabelecimento porque era necessário atender às solicitações de cada dia.
Mas minha avó subia na escada e procurava os medicamentos para os interessados, dava injeções, media a pressão, fazia curativos de urgência e atendia o balcão. 
Mas fez mais do que isso: zerou os cadernos com anotações de pessoas que estavam comprando fiado e cujo pagamento tardava a ser feito. Subiu em sua bicicleta e percorreu a cidade para efetuar a cobrança. E, para sua surpresa, conseguiu convencer os devedores a acertar suas contas.
Desse modo permitiu a meu avô fazer caixa e recuperar os débitos. 
Quando adoeceu, ao final da vida, sempre teve um filho morando com ela. Os filhos se revesavam e atendiam suas necessidades sem que nada lhe faltasse. Sua bondade foi recompensada e valorizada, merecidamente.
Eu era a neta mais velha e ao chegar era solicitada para controlar a gurizada. Então, brincávamos de teatro no pátio de vovó até que ela levantasse de seu descanso, feito após às refeições.
Nunca esqueci de seus beijos e abraços quando eu me deslocava para a Avenida Sarandi para comprar os doces de confeitaria que ela gostava. Eu a presenteava com prazer e ela agradecia com um especial sorriso. Seu rosto era lindo e quase sem rugas. E ela se maquiava logo ao acordar e passava um batom suave nos lábios. Usava perfume e fazia questão de cuidar de sua aparência.Erguia seus longos cabelos grisalhos em forma de coque que ela mesma fazia, sem pedir ajuda a ninguém.
Como dona de casa era completa e desempenhava várias funções.
Sabia matar galinha, torcendo o pescoço, fazer linguiça, requeijão, sabão caseiro, ajeitar as galinhas para chocar os ovos, matar porco e aproveitar a banha. Fazia doces em tachos no fogo de chão e nos chamava para ajudar a mexer os doces. Fazíamos fila e cada um deveria ficar por quinze minutos mexendo o tacho.
Vovó Gloria sabia fazer colchas de tricô e de croché com perfeição. E costurava as roupas das filhas e confeccionava todas elas.
Era uma mulher de verdade como''Amélia'' da canção. E era uma mulher de boa vontade e temente a Deus.
Éramos muito amigas. Como vovó se recolhia cedo, me pedia para acompanhar meu avô ao cinema. Eu adorava essa missão porque meu avô queria ir todas as noites assistir  um ou outro filme filme. Naquela época os filmes mudavam diariamente e podíamos rodopiar de um cinema a outro e escolher o filme preferido.
Lembro-me ,especialmente de'' Violetas Imperiales ''com Sarita Montiel. Vovô viu esse filme por diversas ocasiões e eu sempre o acompanhava. A música do filme foi sucesso também.
Meus avós envelheceram juntos e nunca vi meu avô levantar a voz para ela. A amizade e o respeito eram incríveis.
Vovó Glória sempre dizia para mim que as mulheres da família eram de mais personalidade do que os homens.Todas nós, mulheres, descendentes de vovó Glória temos essa determinação para trilhar a jornada com espírito de luta, sem nos deixar abater pelas intempéries que a vida se nos apresenta a todo o momento.
Ao se aproximar o dia dos avós. em 26 de julho, quero registrar meu amor e admiração à querida vovó Glória, meu exemplo de caráter e bondade. Mas, quando dizia ''não'', não importava a idade dos filhos ou netos, era respeitada e suas reivindicações eram tomadas como uma ordem.
Feliz dia dos avós aos leitores de'' INSPIRAÇÕES''e a todos os demais netos que renderão suas homenagens aos seus avós.
Cuidem de seu amados avós como foram por eles cuidados: é o meu desejo, nesse dia.
Minha mãe ,filha de minha avó, disse-me ,ao envelhecer e já doente:
- Sabe, filha, do que me arrependo nessa vida?
- Sim, mamãe,diga:
- Eu me arrependo de não ter voltado mais vezes à casa paterna.

                                   KATIA CHIAPPINI


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