Encontrei meu ex-aluno de ensino fundamental, atendendo no bar onde costumo pedir um suco de laranja, após praticar natação.
Não nos víamos desde os anos 70.
Meu ex-aluno percebeu que eu ficava escrevendo enquanto esperava o preparo do suco. Perguntou se eu era escritora e falei que participava de coletâneas em minha cidade.
No outro encontro no mesmo bar,presenteei o meu ex-aluno com um polígrafo que fizera, contendo umas 150 poesias autorais.
Resolvi comercializar esse material para levantar uma pequena importância que seria utilizada para participar de trabalhos literários em que uma cooperativa, da qual eu era um dos membros, se envolvia, também financeiramente. Pois esses livros eram feitos por editoras locais, com produção cuidadosa, capa primorosa, nos moldes dos demais livros vendidos em livrarias.
O aluno agradeceu a dedicatória e o presente, prometendo ler, com atenção,todas as poesias.
No outro dia voltei ao bar no mesmo horário e antes que pedisse o suco ele foi explicando:
- Professora ,sabe o que aconteceu?
- Se falar, vou saber
- Meu pai,professora, meu pai...
- O que ele fez?
- Disse que ia ficar com o polígrafo até ler todas as poesias.
Eu sorri para ele ,deixei o assunto no ar e não comentei nada a respeito.
Mas na tarde seguinte eu trouxe outro material, já autografado, para presentear também, o pai do meu ex-aluno.
Ele ficou satisfeito, me beijou e agradeceu.
Fiquei a pensar que não havia vendido esses polígrafos porque a intenção era presentear o meu querido ex-aluno. Mas acabei por fazer uma dupla distribuição de meus poemas.
E, sem sombra de dúvida, o reencontro com o meu ex-aluno e o valor estimativo que ele daria aos meu versos, seria e foi, bem mais significativo, do que uns poucos trocados que eu pudesse vir a receber.
KATIA CHIAPPINI
Meu ex-aluno!
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