Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 24 de março de 2012

UM PEDIDO DE RESPEITO AOS AVÓS :1

           A saga de um avô

A idade retira do físico
E ao espírito compensa
E o avô de aspecto saudável
Nem cai de cama
O neto troca o canal de TV
Pois em si pensa
E o velho pra não se indispor
Nada reclama

O ônibus passou correndo
E não estava atrasado
O ancião sinalizou
Mas permaneceu na rua
Saiu do supermercado
Com um volume pesado
Tentou pedir ajuda e ouviu:
-Vovô fica na tua

Atravessou na faixa
Arrastando as pernas
E causou pânico
No motorista estressado
Ouviu impropérios
Como se viessem das cavernas
Esses homens de terno
Supostamente educados

Pensou assistir um filme
-Bom divertimento-
Driblar a solidão
Estar com toda gente
Trocou de calça
E esqueceu o documento
E lhe negou o desconto
O indesejável gerente

Sentou com a senha
Aguardando o chamado
E funcionários do Banco
Cortaram-lhe a frente
Ficou junto ao caixa
Para ser lembrado
Mas foi repreendido
E sentou novamente

Pediu o orçamento da TV
Já com o fio exposto
Trouxeram o aparelho
Consertado, para cobrar
Na praça recebeu
Uma bolada no rosto
E a mãe da criança
Desviou o olhar

Saiu com a filha
Para o rancho providenciar
Pagava as contas
Da princesa, no ato
Ouviu desaforos
Ao se desequilibrar
Ao perder o salto
Já gasto do sapato

Quis participar
Da eleição-não minto
Votou, mas saiu da sala
Com a cédula na mão
O mesário o reconduziu
Novamente ao recinto:
-Coloque o voto na urna
Seu velho trapalhão

Pensou em colar na testa
Uma faixa provocante
  -S.O.S maturidade-
Seria a inscrição
Para que não o tratassem
De forma abusiva
E respeitassem sua idade
E  sua limitação

Mas isso são devaneios
O amor virou miragem
Tem um teto e um chão
Mas na alma o abandono
Decidiu-se pelo asilo
Talvez haja vantagem
Em receber sem implorar
Em não ser um cão sem dono

Sentindo-se pela família
Certamente abandonado
Via-os em sonhos
E acordava constantemente
Não estava em dívida
O dinheiro vinha disfarçado
Em forma de cheque
Silenciosa e simplesmente

Foi ,aos poucos,definhando
E se ausentou da vida
Entrou em depressão
Cantarolava impropérios
Entrou em pânico
Sem fé, sem guarida
E fez de sua morte
Um indecifrável mistério

Quem não se doa
Amor não recebe
O filho ingrato
O mesmo passará
O momento senil
Atinge o rico e a plebe
E a vida faz justiça
-Quem viver verá-

KATIA

Um comentário:

  1. IMPRESSIONA-ME O DESCASO COM O IDOSO. NESSA PROSA POÉTICA TENTO DEMONSTRAR ALGUMAS FACETAS DESSA REALIDADE. O OBJETIVO É CHAMAR ATENÇÃO PARA A FALÊNCIA DO SENTIMENTO DE CONSIDERAÇÃO E RESPEITO QUE CEIFA A ALEGRIA DOS ÚLTIMOS DIAS DE NOSSOS AVÓS.

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