( MINICONTO )
Uma moça preocupada com algumas crises de angústia que a levaram ao choro compulsivo, criando sua filha, sozinha e com dificuldades, preocupou-se em buscar ajuda de uma profissional.
Não queria que se desenvolvesse um quadro depressivo e tratou de marcar uma consulta, sem grande demora.
Ela se vestiu com simplicidade, sem adereços, sem maquiagem, penteou os cabelos compridos e os deixou ao natural.
Chegando ao consultório se deparou com a psicóloga, bem alegre, risonha, mostrando o rosto quase plastificado de tantos e frequentes procedimentos estéticos, por certo. Os reflexos no cabelo loiro, o sapato de salto alto e o vestido de corte elegante e excelente caimento, completavam a quadro.
A moça olhava pensativa, observava bem a cena à sua frente. Estava demorando a falar, completamente absorta em seus pensamentos.
Mas pensou e repensou, com seus botões, mais ou menos , o seguinte:
- Mas isso não é justo. Logo eu, com poucos recursos ,vou dar o meu suado dinheirinho, para que essa dama siga preenchendo vincos, rugas, olheiras, pés de galinha e o pescoço enrugado, como o do peru?
E ao mesmo tempo que pensou, levantou-se, inesperadamente, diante do olhar de surpresa da psicóloga, que apenas conseguiu lhe dizer:
-Bom dia!
E,mesmo assim, um ''bom dia'',sem resposta.
A moça saiu ,em disparada, parecendo precisar de um ar puro e de uma meditação, para, só assim, voltar ao normal. Mas, ao contrário disso, desceu o elevador do prédio e acenou para um táxi que passava. E seu destino foi um Shopping-center..
Comprou um vestido novo e um par de sapatos. E completou seu estoque de maquiagem, já bem defasado. Tudo para ser pago com suaves prestações.
Na outra tarde convidou a melhor amiga para fazer um lanche, após uma sessão de cinema.
Ocuparam uma das mesas da sorveteria e cada uma pediu uma taça de Banana Split.
Chegando em casa já estava contente, aliviada, mais tranquila e tendo no bolso o dinheiro que foi e voltou. Aquele, antes destinado a pagar a consulta com a Psicóloga.
Logo, acomodou-se para dormir e ligou o som para embalar os sonhos da melhor noite do resto de sua vida.
Acordou, milagrosamente, curada e em paz.
KATIA CHIAPPINI
Miniconto: A moça e a Psicóloga
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