Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

sábado, 28 de julho de 2018

A ESCOLA DE OUTRORA

                    A ESCOLA DE OUTRORA

 Saudade de minha escola, onde a professorinha dava um banho no aluno da ´periferia, lavava seu rosto, catava os piolhos nos cabelos, colocava remédio e mandava escovar os dentes.
E só depois de limpinho. esse aluno tão sofrido ia assistir as aulas.
Saudade da professorinha que aconselhava seu aluno, atravessava a rua com ele, dava-lhe um beijo e um abraço, ao chegar na escola.
Saudade do aluno respeitador e defensor da professorinha.
Saudade das flores que os alunos traziam no aniversário da professora, da caixa de bombom, do perfume.
Saudade da cordialidade entre professores e alunos, entre os funcionários da escola e direção.
Saudade das comemorações por ocasião da aposentadoria das colegas, do aniversário da diretora, dos quitutes da dona Maria do bar da escola. Saudade dos encontros, acampamentos, dos pais dos alunos e seu total apoio aos professores.
Saudade dos amigos da comunidade que ajudavam a enfeitar a escola nas festividades, voluntariamente.
Saudade dos conselhos de classe, onde cada professora tinha autonomia para dizer se determinado aluno deveria ou não ser aprovado, sem sentir pressão externa para aprová-lo de qualquer jeito.
Saudade do tempo em que a professora podia advertir o aluno, suspender por um dia, chamar os pais sem medo de ser desrespeitada.
Saudade do aluno bem educado e amigo das professoras.
Saudade de uma época em que não se ouvia palavrões na sala de aula porque os pais ensinavam no lar os bons princípios e atitudes.
Saudade do clima cálido e carinhoso entre as colegas que não se negavam a substituir outra colega caso essa precisasse levar o filho ao médico. 
Saudade da alegria, da descontração, dos líderes de turma que auxiliavam a divulgar os projetos da escola e que não tinham pressa de ir para casa, se fossem solicitados para permanecer mais um pouco, após o término das aulas.
Saudade das quermesses, da colaboração ao final da festa para deixar tudo limpo e arrumado.
Saudade do padre da paróquia que levava a turma para um piquenique anual e os professores como acompanhantes.
Quantas lembranças permeiam a mente, quanta magia havia em ensinar. Quanta confiança havia entre pais e mestres, ambos visando o bom aproveitamento do aluno.
Quanta dedicação à missão de informar e formar o aluno.
Todos sabemos que o salário sempre esteve em desacordo com essa tarefa sublime que cabe ao professor.
Mas, sabemos também que só irá se dedicar ao magistério quem tiver amor ao ser humano, quem, verdadeiramente, se empenhar em educar, dar carinho e uma formação de acordo com o espírito cristão, com respeito aos valores intrínsecos e essenciais do ser, aos que não contrariam a própria consciência.
Saudades de voltar para casa acompanhada pelos alunos, receber balas e lembrancinhas com as quais me brindavam.
Da professorinha de antigamente bem pouco resta.
Mas é dela que estou lembrando, é dela que me aproximava com carinho, ternura e amizade.
Mas, se ela mudou não a culpem. 
Culpem a inércia dos governantes, a má distribuição de renda que não mais a contempla com um salário digno, culpem o descaso das famílias para com a educação de seus filhos, culpem essa pseudo-evolução que involui a olhos vistos, porque faz com que a tecnologia nem sempre seja uma aliada, porque o mau uso que dela fazem deturpa os jovens, polui a civilização.
Não culpem a professorinha que se cansou de lutar, mas que ainda luta, que trabalha em três ou quatro escolas para complementar a renda, que implora por valorização.
A professora ainda tem esperança, ainda quer ver seu aluno em cursos técnicos ou universitários.
E só por seus alunos ela levanta a cabeça e segue sua jornada. E tenta fazer o melhor, para cumprir com sua missão.
E, apesar de tudo, em cada professora há um anjo que zela por sua comunidade, há uma voz que não se cala, há uma alma sublime que palpita e há uma súplica para que lhe dirijam novos olhares.
Mas, a professorinha de outrora, ainda mora em nossos corações.
Se pudessem voltar ficariam tristes ao ver as condições de trabalho das professoras de hoje.
Entretanto, um elo pode torná-las próximas a qualquer tempo: o desejo de ensinar e semear bons frutos, apesar de tantos inços e espinhos invadirem os caminhos a percorrer.
Meus sinceros cumprimentos às professoras, verdadeiras heroínas, em tempos tão difíceis.

                                    KATIA CHIAPPINI
                         ( PROFESSORA APOSENTADA )

                           


3 comentários: