Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 15 de maio de 2016

A CARTA

                             A  CARTA

Quando meu pai escreveu uma carta para eu ler, era véspera de meu casamento. Ela deveria me servir de conselho nas horas difíceis. As mensagens eram lindas. Os conselhos eram sábios. O carinho era visível e a preocupação de seguir sendo a presença mais importante em minha vida, também.
Até que, seguindo as linhas, me deparei com os seguintes dizeres:
- Minha filha, para ser feliz no casamento, fique ao lado de seu marido, mesmo contra seus pais.
Fiquei muito contrariada com essas palavras que li com os olhos já marejados. Jamais aceitaria esse conselho porque nem me seria possível digeri-lo.
No mesmo dia rasguei a carta que li só uma vez.
Quando minha mãe e meu irmão me falaram dela, indagando sobre seu conteúdo, falei:
- Não tenho mais a carta porque caiu numa poça d'água, enquanto eu a lia.
E, ainda hoje, depois de um casamento que chegou aos 33 anos de vida em comum, mas que poderia ter durado só três, não me vejo acatando essa orientação de papai.
Com exceção desse fato, meu pai era um homem sábio, paciente e responsável por seus deveres junto á família: mamãe. meu irmão e eu.
Passados 45 anos desse fato eu tomei conhecimento de uma história impressionante que passo a narrar.
Uma filha brigou com seus pais, depois de ter morado com eles por 35 anos, por motivos relacionados com o fato de estar seriamente envolvida em seu relacionamento. Mas o motivo era passível de diálogo adulto e sem necessidade de demonstrações de destempero por parte da filha.
E a filha casou com seu noivo e abandonou a sua família de origem. Mais tarde teve uma filha e não a deixou conviver com os avós maternos.
E se recusou a abrir a porta quando seus pais a procuraram depois de um tempo transcorrido. O marido dela apoiava essa decisão e se mostrou pouco receptivo ao diálogo.
A mãe dessa moça, profundamente triste e vendo que suas investidas não tiveram sucesso, desenvolveu um câncer e inspira cuidados. Mas conta com o carinho do marido e de dois filhos que cuidam dela com desvelo.
A filha,se engasgou com a própria raiva, com sua culpa enclausurada, e teve um câncer diagnosticado, igual ao de sua mãe, com as mesmas características. E três meses após conviver com a doença veio a falecer.
Um pouco antes disso, quase morrendo, pediu uma folha de papel e um lápis e escreveu:
- Não quero meus pais aqui no hospital e nem telefone no quarto.
Então , pensei: 
- Nunca reneguei os meus pais e estava certa!

KATIA CHIAPPINI

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