Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 18 de outubro de 2016

QUERIA NÃO FALAR DE AMOR...

            QUERIA NÃO FALAR DE AMOR...

Queria esquecer um pouco da palavra amor porque minhas lembranças me magoam, as vezes.
Mas pela manhã ligo a televisão para orar com o pastor e ele só fala de amor.
Leio o jornal e percebo que se mata por males de amor, o que está virando moda:uma total inversão de valores.
Vou lecionar e um aluno me diz:
- Professora, sabia que encontrei meu amor?
Ao cumprimentar uma amiga na rua, ela me diz:
- Katia, reza para que eu faça as pazes com meu amor.
Ao entardecer vou dedilhar o piano e encontro entre minhas partituras alguma peças famosas que lembram o amor: tema de Romeu e Julieta, Valsa do Adeus, tema do filme Suplício de uma Saudade, tema de Candelabro Italiano, Amor perfeito, Pour Elise, Branca, Folhas Mortas, o tema da Dama das Camélias e Violetas Imperiales. Esse é o nome do filme com  Sarita Montiel, que interpreta a canção do mesmo nome.
Após o jantar vou para as Redes Sociais e leio poemas de amor, mensagens e pensamentos românticos que invadem toda a tela.
Ao entrar no bar para completar minhas compras escuto:
- Hoje vou beber todas porque meu amor me deixou. 
E mesmo que não fale com pessoa alguma, em minha casa, surpreendo-me, pensando em amores mal havidos.
Percebo que é impossível passar um só dia sem pensar no amor. Ele está em toda parte. Está no sorriso largo da moça, na alegria do rapaz, no olhar do namorado para a namorada, no beijo roubado, no abraço demorado, nas mãos dadas do casal de idosos.
Está entre as crianças inocentes, entre pais e filhos, entre amigos que se encontram depois de algum tempo. Está entre colegas de trabalho, entre os desafortunados que moram na rua. Esses, que se apoiam e dividem o pouco que têm para que todos se alimentem e não morram de fome.  
O amor pode construir, destruir, ruir, ou nos erguer. Cabe a nós saber como lidar com nossos amores. É uma arte conservar um amor.
Mas falar de amor não é amar.
E amar, verdadeiramente com doação, respeito e comprometimento se tornou um conjunto vazio.
Hoje amar se confunde com ficar, com zoar, com fazer festa, com se esbaldar na noite, com pegar, se identifica com os dias de Carnaval, pois após as quatro noites as máscaras caem.
O amor perdeu o sentido, a identidade, o vínculo, os laços de um verdadeiro afeto. Hoje é sinônimo de aventura, loucura, satisfação tátil e volátil.
E a esperança de encontrar um amor grandioso, é tempo ocioso .
E à medida que caminhamos para construir um belo sentimento de amor, já estamos antevendo e acreditando em mais uma  história de desamor.
Eu não queria falar de amor...

KATIA CHIAPPINI

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