Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 30 de dezembro de 2018

CARTAS PERFUMADAS

                     CARTAS PERFUMADAS

Saudade das cartas que os namorados trocavam com tanto carinho!
Elas compensavam distâncias e fortaleciam os laços.
Nos dias atuais o computador escreve os textos e a tecnologia  se encarrega da troca de mensagens.
Mas só nas cartas havia o perfume de sândalo, a marca de batom que o beijo deixava, encabulado.
Só nas cartas de papel de linho se acariciava cada linha, se elevava a carta até acariciar o rosto, num gesto algo tresloucado e impulsivo. O toque e o manuseio da carta serviam de consolo aos apaixonados, dando-lhes um novo alento.
As palavras escritas incendiavam a imaginação e os sonhos atrevidos tomavam formas secretas.
Quando amareladas, ainda podiam guardar ,entre as folhas, uma pétala de rosa separada de um ramalhete que continha as flores do primeiro encontro. A pétala de rosa ficava quase transparente, mas embora bem sequinha, era  testemunha preciosa de belos momentos românticos.
Os blocos de carta eram estampados com imagens, em sua margem. Os adesivos eram escolhidos de modo a cultivar preciosos momentos entre os casais.
Havia caixas esculpidas em madeira, forradas com veludo, contendo as cartas de amor, como se fossem valiosos tesouros.
Hoje as mensagens de computador estão repletas de palavras vazias, fúteis ou interesseiras.
E ânsia de se ver desligado do destinatário, leva a escrever qualquer bobagem, só para se ver livre da cobrança do parceiro.
Lembro-me de um namorado de adolescência que me escrevia durante as férias escolares, pois eu costumava viajar para a casa de meus avós. Foram breves encontros para tomar um sorvete, passear na praça ou ir ao cinema. Mais um flerte do que um namoro.
Após algum tempo decorrido, encontrei esse ex-namorado. E ele me confessou que ainda tinha as minhas cartas guardadas. 
E eu, sem pensar, falei:
- Sinto não poder dizer o mesmo.
Logo percebi que deveria ter ficado calada e me despedi, apressada e sem jeito.
Em outra oportunidade encontrei outro namoradinho de férias que já era um amigo querido.
Também nos reencontramos e ambos já tínhamos casado e tínhamos filhos.
Conversamos um pouco sobre família, trabalho, planos de vida.
Quando ele e eu nos afastamos, cada um tomando o seu rumo, ele me fez um sinal para esperar. 
E, bruscamente falou:
- Quase esqueço de dizer que guardei suas cartas.
Fiquei curiosa e perguntei: 
- E você, ainda as lê ?
 - Com certeza! Sou saudosista e gosto de reviver o passado. E me apraz guardar na memória os dias mais felizes e as lembranças inesquecíveis de minha vida.
E assim dizendo, me deu um beijo no rosto e se afastou, com um sorriso encantador e os passos lentos, quase flutuantes. 

KATIA CHIAPPINI


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