Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 23 de setembro de 2012

SÍNDROME

                  SÍNDROME DE TIRIRICA



O país está enfrentando a síndrome de Tiririca : a do analfabetismo.
Investimentos anuais precários e verbas retidas no planalto central explicam a falta de incentivo dado à cultura. Professores lutam pela valorização profissional  e pelo direito de ´poder custear cursos de atualização. Os jovens estudam com o fim imediato de não repetir a mesma série e não com o intuito de adquirir conhecimento que lhes possibilite aprofundar o conteúdo das disciplinas escolares. Os concursos públicos se multiplicam e as vagas permanecem em aberto aguardando os candidatos qualificados e cujo perfil seja condizente com o do cargo desejado.Tomamos conhecimento das fraudes, da compra de diplomas e do gabarito das provas .A política se vale do nepotismo, dos cargos de confiança e das contratações desordenadas, onerando os cofres públicos.O político se filia ao partido que lhe oferece mais vantagens e os ideais submergem dando lugar às formas desonestas de se projetar. E ainda questionam a prova da O.A.B, quando se sabe que os bacharéis em Direito nem dominam a língua pátria. Mas é certo, não são só eles.
Ao M.E.C. cabe fiscalizar os cursos e exigir melhores equipamentos nas instalações físicas bem como o bom desempenho da equipe diretiva e do corpo docente. Mesmo porque se tem conhecimento de que requisitos básicos, quando não satisfeitos, levam à cabo a intervenção que determina o fechamento das instituições em pauta.
E nesse contexto sombrio ficamos preocupados com o culto à beleza, com os corpos de academia, com as passarelas da moda, com as exigências do capitalismo, com a programação televisiva que pouco têm contribuído para o aprimoramento cultural. E nossos heróis de barro passam a ser os artistas famosos, os líderes das bandas de rock, os jogadores de futebol, os insólitos participantes do Big Brother, os bêbados e viciados que lotam os bares com uma fantasia de seresteiros. E no centro de tudo isso estamos nós, o homem comum. E, cada dia mais perdidos, ficamos observando os altos índices de violência, que só crescem, na proporção direta do analfabetismo, sob forma de roubo, assalto, sequestro, seguido de morte por motivo fútil. E o que dizer do assalariado ? Esse é sim um herói, tentando vencer, pelo trabalho honesto, embora cercado de uma quantidade de impostos a pagar. Basta olhar para os bolsos, sempre vazios
De outro lado é evidente que o mundo artístico ou o dos esportes ganha a notoriedade que lhes é peculiar.
Mas o que não podemos é estar desatentos ao fato de que, paralelo a isso, temos que descobrir nosso leque de possibilidades, buscando nos aprimorar em profissões liberais ou em cursos técnicos. Esses valores são os que deixaremos aos descendentes, nossos filhos, porque os momentos de fama são ilusórios e de curta existência. De uma sólida formação escolar virá a oportunidade para vislumbrar um futuro promissor. Existe toda a sorte de descaminhos e esses são responsáveis pela dissolução da célula mãe, fragilizando-a em sua base.
Quem de nós não se encontra impotente para inibir as injustiças, como por exemplo, a má distribuição de renda que não beneficia a saúde nem a habitação ? Onde estão as verbas para serem aplicadas em tecnologia e em estudos científicos ?  E o descaso das autoridades quanto ao fato da desumana superlotação das casas prisionais ?
Talvez, um dia, quando uma grande catástrofe assolar o país, e em consequência, ceifar vidas inocentes, talvez então, tenhamos uma reação em cadeia e as autoridades deixem de viver nesse estado de letargia no qual se encontram. Fato lamentável é que só a inauguração de viadutos e rodovias, pavimentação de estradas, obeliscos em praça pública, estátuas e obras monumentais, só essas dão ao político o destaque que pretende conquistar junto aos eleitores.
E ao se aproximar o mês das eleições, a população tem que conviver com a sujeira das ruas, com ''santinhos', cavaletes de madeira sob a vegetação e toda sorte de painéis eleitoreiros. E uma banda sobre um carro de som, com volume estridente, já cedo, aos domingos de manhã, segue sua parafernália de discursos, sempre iguais, que se nos impõem sem pestanejar. E ainda somos invadidos com o horário político e os telefonemas contendo fitas gravadas, que soam fora do horário comercial, em nossas residências.  
A síndrome de Tiririca toma vulto e as paredes das bibliotecas olham para as carteiras e cadeiras vazias de uma imensa sala que deveria estar povoada de estudantes e de profissionais buscando o complemento formativo e informativo para um próspero saber.
Estou a lembrar de que há estudantes que se valem de esquemas desleais, culminando com a compra de trabalhos, que deveriam ser de sua autoria, na defesa da tese universitária. É a força do descaso em relação à educação e o enaltecimento da lei de Gerson : tirar proveito, se valer das facilidades, a qualquer preço. 
Está em desuso a soberania do professor quando se reúne nos ditos conselhos de classe. A direção das escolas sofre a pressão dos pais e da comunidade e os professores aprovam estudantes inaptos para a série seguinte, temendo por seus cargos, inclusive. E os conselhos tutelares se desviam de sua verdadeira função e ingressam nesse esquema desmoralizante. E podemos intuir que esses fatos verídicos desestimulam o professor que trata de abandonar a carreira- triste - 
Então, vamos concluir que Tiririca é mais honesto.Trata-se de um homem de família humilde que não prejudicou ninguém, nem trapaceou. Antes foi um palhaço de mentirinha, caracterizado com roupas de listras, nariz vermelho e a cara pintada com as cores da alegria do circo. 
Hoje é um palhaço de verdade, instrumento das decisões de seu partido, sem voz própria, sem vez como político : um marionete bem treinado, como convém. Será que está confortável com sua consciência ? Será sua conta bancária o suficiente para lhe garantir a paz de espírito ? E em nome dela a quantas mazelas irá se submeter ? Mas se quiséssemos  tirar partido do fato de que Tiririca  foi o deputado federal mais votado na época, poderíamos  lhe dar uma sugestão previsível : transformar essa experiência que lhe beneficiou, num exercício de cidadania. A meta principal seria, nada mais nada menos, do que a intensificação da luta pelo famigerado analfabetismo, tirando das ruas legiões de crianças que anoitecem sem alimento e maltrapilhos, tentando levar um troco para suas casas. E ficam nas ruas até conseguir o suficiente para não apanhar dos pais sofridos e por essa razão, revoltados e violentos. Tiririca também sofreu discriminação ao longo de sua vida e se não lhe foi dado o estudo básico, sabe bem avaliar o que isso significa em matéria de frustração para uma criança : o fato de não ter sido alfabetizado.
Pediríamos à Tiririca, a determinação necessária para tentar, pelo menos ,erguer uma bandeira, em prol da alfabetização em nível nacional, pois esse câncer social se alastra de norte a sul e corrói as esperanças de um povo. De um povo bom, que nem se revolta !
Antes, segue trilhando seu caminho, afastando espinhos, pedras e secando as feridas na terra árida dos sertões sem promessa.
Ou ainda, apressando o passo, já pesado, para se embrenhar nos campos e lavouras de muitos hectares de terra hostil, sem trégua e sem fim. E sem incentivos agrícolas. Sem falar no trabalho escravo de menores em mineração, sem proteção alguma,  onde a fome, aliada à prepotência, são fatos incontestáveis.. 
Em última análise, sem fim também é a luta pelos direitos humanos e sua preservação. Lutamos, obstinadamente, apesar do sol ardente ou da enxurrada inglória, até o penúltimo suspiro. Porque o último dedicamos a nós mesmos para cerrar os olhos, em paz, devagar, enquanto pedimos a Deus, sua inestimável proteção e um pouco de tranquilidade em meio a tantas tormentas.
Mas tem um simples detalhe :
- O nariz vermelho de palhaço, se não estiver no rosto de Tiririca, hoje em dia, estará sempre visualizado em tom vermelho, em sua alma inquieta : o vermelho da vergonha.
Tiririca, um homem simples em sua origem e creio que bondoso, deve ter se dado conta de que é sim, parte dessa vergonha nacional.       
Não só ele, todo o povo está vermelho de vergonha com a corrupção, agora de domínio internacional, dessa intitulada, pátria amada, Brasil.

EM TEMPO HÁBIL :
Varonil, de encantos mil ? E será que ainda é o meu Brasil ?
Confesso que nem sei mais...nem Tiririca.

                                      KATIA CHIAPPINI   




      

2 comentários:

  1. Tiririca, apenas mais um para seu útil ao sistema atual,
    sistema esse,desprovido de sua honra tão vilipendiada em nossos dias sombrios.

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