Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ESTÂNCIA SÃO MIGUEL DO SARANDI !


                     Minhas férias na Estância
                     São Miguel do Sarandi!

 Os melhores anos de minha vida foram os que passei, em períodos de férias escolares, na estância de meus tios Léo e Bebê.
Ao chegar em Livramento, eu e meu irmão passávamos alguns dias na casa de meus avós maternos.
Depois meus tios nos levavam para a estância, de uma beleza indescritível : uma paisagem inigualável que nunca saiu de meu olhar.
A estrada era precária, cheia de acidentes de percurso. Íamos de jipe da cidade para a estância. Quando esse atolava na lama, tinha que ser empurrado por meus primos e meu tio ficava acelerando até conseguir sair do buraco. Minha tia Bebê, com botas longas até o joelho, saía do jipe e entrava no lamaçal para avisar meu tio da profundidade do mesmo. E para dizer onde poderia passar com chance de vencer o obstáculo.
Uma das brincadeiras de minha preferência era fabricar licores caseiros com meu tio Léo. Ele colhia amora, ameixa, pitanga, butiá, em seu próprio pomar. Colocava tudo sobre a mesa agregando o mel, o limão, a canela e a cachaça. Eu costumava competir com meu tio para ver quem conseguia um melhor sabor no preparo do licor e meus primos eram os jurados.
Enquanto meu tio e eu jogávamos moinho, damas ou xadrez, minha tia fazia doces em caldas , renovava o assento das cadeiras de palha, fazia sabão caseiro, requeijão, cucas, linguiça, morcilha e ainda costurava e fazia lindas peças bordadas. Além disso pintava lindos quadros e sua habilidade nas lidas domésticas era um fato surpreendente.
Tia Bebê era uma mãe brasileira, mãe de todos, figura ímpar e de alegria e bondade contagiantes.
Ao acordar, cedo da manhã, meu tio e ela tomavam algumas cuias de chimarrão, antes do café. E ao entardecer repetiam a dose,.nas cadeiras preguiçosas que ficavam a disposição, na varanda. 
Meus primos, meu irmão e eu andávamos à cavalo pelo campo, tomávamos banho de açude, observávamos o trabalho dos peões..
Quando se aproximava a época da exposição em Esteio, grande Porto Alegre, meu tio solicitava nossa colaboração para preparar as ovelhas. Era ´preciso separar pequenas porções da lã da ovelha, abrindo os fios, um a um, com os dedos. A lã ia ficando bem uniforme ,com o auxílio de um pente especial que completava o serviço, deixando todo o pelo espesso, adquirindo volume e beleza. Meu tio ganhou vários troféus com as exposições de seu gado, também no Uruguai.
Outra novidade que conheci na estância foi a chegada dos mascates, que pediam pouso e comida, por uma noite, para mostrar seus produtos. Eles movimentavam as mulheres em busca de tecidos, perfumes, roupa íntima e toda sorte de miudezas que vendiam na ocasião. Os cães saiam pelo campo latindo e avisando a chegada dos mascates e suas enormes e pesadas malas. E as crianças reviravam as quinquilharias procurando algum brinquedo.
Entre outras tarefas junto aos primos eu tinha uma em especial. Precisava distraí-los longe da casa grande, depois do almoço, para que todos pudessem descansar um pouco em seus quartos.
Então, íamos para perto do açude e lá inventávamos brincadeiras para passar o tempo. Brincávamos de pular corda, contar histórias,  de jogar pedras no açude, de teatro e dança. Também cantávamos toadas e repentes que a gauchada cultivava por aquelas bandas da fronteira.
Minha tia ficava agradecida e me dizia, ao acordar da sesta :
- Muito bem, Katiazinha !
À tardinha eu costumava dedilhar o acordeon e os peões vinham com suas banquetas, sentar perto da casa.
A música fazia a moldura junto com a paisagem dos campos sem fim e do pôr do sol. Ficávamos na frente da casa e o toque musical era relaxante e agregador.
Pela manhã, um peão fazia a gentileza de bater na porta de meu quarto com o leite espumante e morno, tirado das vacas bem tratadas  e de raça pura. Eu saboreava com gosto essa preciosidade que não existia na cidade grande.
O almoço era farto com muitas iguarias típicas e a carne de ovelha no feijão deixava-o com um sabor indescritível. Canjica, carne de panela, polenta, sopa de legumes, arroz com linguiça caseira, morcilha, tudo muito bem feito, eram as opções de refeições fartas.
Como sobremesa tínhamos os doces em calda, feitos em tachos gigantescos, pela minha tia Bebê ,com nossa colaboração. Era preciso mexer o doce,  o tempo todo, até ficar no ponto certo.  Fazíamos um revezamento e um esforço coletivo. 
À noite era preciso deitar por volta de às 22 h, porque nesse horário se  desligava o gerador. Ao terceiro toque de um grande sino devíamos estar nos quartos, de dentes escovados e roupa de dormir.
Gostávamos de ver a marcação do gado, a tosa, a vacinação, os filhotes nascendo e todos os cuidados que eram necessários para conservar os animais saudáveis. Havia um pequeno galpão que era depósito de montanhas de feno, onde gostávamos de brincar.
Só ficávamos impressionados ao ver o abate do gado, um por dia, que nos servia de alimento. Havia uma poça de sangue junto aos porcos abatidos mas teimávamos em olhar, porque a curiosidade infantil é um fato.
Todas essas lembranças trago comigo e passar as férias na estância era o melhor momento do ano.  E a casa ficava cheia de crianças.
Lembro-me de meu pai perguntando:
- Não sentiram saudade de casa ?
E eu prontamente :
-Não, papai.
E lembro de uma cena que minha tia me contava e que eu gostava que ela repetisse.
Um dia,estávamos, minha tia e eu, nos balançando na frente da casa e ela me disse :
-Sabes, Katiazinha, como se deu tua chegada aqui?
-Sim, lembro-me de que cheguei à noite e logo fui dormir.
-E lembras o que me falaste na tua primeira manhã ?
-Isso não lembro, tia !
Então ela continuou: 
-Olhaste, da frente da casa, todo o campo, surpresa, e teus olhos giraram os trezentos e sessenta graus e ficaste muda.
-Ah!, lembro que fiquei admirando a imensidão do campo.
-Mas lembras o que me disseste ?
-Não.
Então, minha querida tia falou que eu fiquei estasiada e pulando em frente da casa quando , ao abrir a porta,  me deparei com aquela paisagem deslumbrante e sem fim.
E, antes que pudesse me perguntar alguma coisa, eu olhei para ela com os olhinhos brilhando e disse, aos 7 anos de idade :
- Meu Deus ! que pátio grande eu tenho para brincar !
Depois, titia me abraçou e beijou, calorosamente, deixando escorrer uma lágrima de emoção.
E esse abraço foi o melhor de minha vida. E dele tirei a força que jamais sonhei.

KATIA CHIAPPINI
e-mail: katia_fachinello42@hotmail.com 








2 comentários:

  1. AMO A ESTÂNCIA E TODOS OS VISITANTES DAS FÉRIAS DE JULHO. E OS DONOS DA ESTÂNCIA : TIOS LÉO E BEBÊ.

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