Aquarela de poesias

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domingo, 26 de junho de 2016

A ALIANÇA DE CASAMENTO: MINICONTO

             A ALIANÇA DE CASAMENTO
                          ( miniconto )

A aliança de casamento foi colocada em meu dedo, desde meus 24 anos, nos idos de 1967.
Uma ocasião, quando eu estava grávida da segunda filha, levei um tombo na areia  ,na praia de Torres, Rio Grande do Sul.  A aliança saltou  do dedo e afundou na areia, perto da barraca que nós alugávamos. Falei sobre esse fato para as pessoas que ocupavam as barracas mais próximas e uma amiga minha a encontrou. Lembro que fiquei feliz porque havia recusado a oferta de meu marido, quando soube que queria me dar outra em substituição. 
Por 33 anos ela ficou brilhando em meu dedo anular sem desmerecer em nada. Não a tirava do dedo em nenhuma ocasião.
Mas como a vida nos reservas algumas surpresas, nos separamos, sem ''barraco'',sem ofensas, sem palavrões, sem nenhum tipo de grosseria. Foi uma conversa civilizada, desde que tomei a decisão de pôr em pratos limpos as razões do pedido de separação e divórcio consensual.
Não nos tornamos estranhos um ao outro e sim, combinamos conversar sobre os filhos, sempre que necessário.
O espírito permaneceu, uma ligação de respeito mútuo, de amizade, se manteve por todos os demais anos, após a separação.
Mas, quanto à aliança, a minha, guardei no cofre, no dia seguinte ao da separação, após o ex-marido deixar a casa.
Minha sogra morava comigo na ocasião e sempre fomos como mãe e filha. Ela tinha enorme apreço por mim.
E a cena que guardo na memória é a seguinte:
 - Vó, venha tomar café, está pronto
- Sim, espere, estou indo
Mas preciso explicar que minha sogra participou dos acontecimentos e soube que seu filho sairia  da casa pela manhã com toda a sua bagagem.
Então, ao chegar na cozinha para me acompanhar na refeição matinal, percebeu que eu não estava mais usando a aliança.
Fixou seu olhar no meu dedo e ficou estática ,querendo falar mas sem nada dizer.
Tomei a dianteira e falei: 
 - Vai ficar tudo bem ,querida sogra. Virei tomar o café da tarde com os seus netos e vamos continuar indo ao cinema, ás lojas. E tomaremos um lanche no restaurante como é de nosso costume.
Mas minha sogra se abraçou em mim e nada conseguiu dizer. Apenas suas lágrimas respingaram em minha roupa porque a aliança que nos mantinha em união matrimonial havia se rompido e a aliança de ouro 18, a minha, já perdera seu par e ficara sozinha no cofre das joias, onde a coloquei.
Depois que se refez minha sogra perguntou:
- E o que é feito da aliança de meu filho?
Então expliquei a ela:
- Ele quis que eu a guardasse comigo e foi o que fiz.
Mas ele disse por que?
- Sim, me abraçou forte e falou:
- Sinto muito. Eu já temia esse desfecho, mas quero que saibas que sempre sonhei envelhecer contigo. Que pelo menos, as alianças se conservem juntas, como por tantos anos estiveram! 

KATIA CHIAPPINI

e-mail: katia_fachinello42@hotmail.com

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