Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 28 de junho de 2016

HOUVE UM TEMPO

                        HOUVE UM TEMPO

Houve um tempo em que eu acordava cantarolando. E até minha secretária do lar fazia seus afazeres entoando lindas melodias
Houve um tempo em que a noite era esperada para reunir a família ao redor da mesa, onde jamais eram permitidas discussões, onde pais e filhos falavam sobre seu dia, sobre planos, sobre as providências a tomar.
Houve um tempo de bonança, de descobrir um novo modo de olhar, de um diferente caminhar, de sonhos que se realizavam sem frustrações.
Houve um tempo de passear pelo jardim, de colher frutas no pomar, de colocar um vaso de flores na mesa da sala de jantar, de receber a vizinha para um chá da tarde.
Houve um tempo de fazer trilhos de mesa, de tricô, de croché, para presentear os entes queridos.
Houve um tempo de escolher roupas com rendas e babados, quando a imaginação se voltava para os momentos de intimidade.
Houve um tempo de presentear com bombons, flores, perfumes, discos, livros, vinhos, um cartão com dedicatória e passagens para descobrir o velho mundo, numa segunda lua de mel.
Houve um tempo de colocar fotos no álbum de família, de ilustrar o diário com adesivos, de enviar cartas de amor.
Houve um tempo de receber o último telefonema do dia, antes de dormir, ouvindo palavras sussurradas do outro lado da linha, que aterrissavam diretamente no coração.
Houve um tempo de transgredir em nome do amor, de correr na chuva de mãos dadas, de rolar nos cômoros de areia, de nadar no açude da estância, de preparar a fogueira para o acampamento de verão.
Houve um tempo em que a sedução percorria fixamente outro olhar.
Houve um tempo de solicitar a próxima dança, de acariciar os cabelos, de puxar suavemente o rosto amado para deixar marcado um terno beijo vermelho-paixão.
Houve um tempo de amar sem hora marcada, sem consultar a previsão do tempo, sempre favorável.
Houve um tempo de esperar debruçada no parapeito da janela e de observar fauna e flora.
Houve um tempo em que a alegria, com suporte na lealdade, pedia licença para reinar absoluta e a tristeza concordava sorrindo.
Houve um tempo de subir nas árvores e balançar seus galhos para colher pitangas e amoras para fabricar um licor caseiro.
Houve um tempo de percorrer os milharais e de sentar, na frente da casa, na cadeira preguiçosa, olhando os parreirais frondosos.
Houve um tempo em que não se vivia esperando que se cumprissem as promessas de amor: simplesmente, se amava.
Saudades desse tempo, onde se olhava nos olhos, se cultivava a seara dos sentimentos e se dava atenção aos entes queridos.
Saudade desse tempo: o da melhor semeadura

KATIA CHIAPPINI

6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    Respostas
    1. Houve um tempo em que eu era criança, corria e chutava a bola nos pés de bergamoteiras!

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  2. Sim,tempo de brincar com funda e bolinhas de cinamomo, lembra?

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  3. Reminiscências em tom poético! Parabéns pelo lindo texto, Katia! Um abraço da Beatriz

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  4. OBRIGADA ANTÔNIO SEVERO E BEATRIZ. SÃO LINDOS TEMPOS QUE PERMANECEM NA LEMBRANÇA...

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