Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 8 de maio de 2017

O CARROCEIRO

                          O CARROCEIRO

Em minha rua passa um carroceiro bem vestido, calçando tênis bem limpo, jeans, camisa e jaqueta. O cabelo é bem penteado e o sorriso cordial. Recebe algumas mercadorias para vender, dos próprios amigos que fez na rua. Mostra-se educado, ajuda as senhoras a carregar o rancho e uma moça cega a atravessara rua. Essa última é massagista e atende algumas pessoas que moram em meu edifício.
Mas eu o conheci bem maltrapilho, juntando lixo sujo e mal acondicionado. Pois não escolhia e levava tudo o que encontrasse, em sua carroça.
Devia passar frio porque não tinha agasalho para se abrigar do frio, calçava chinelo velho, desbotado ou uma alpargata com furos no pano.
Começou pedindo aos moradores que deixassem jornais e caixas de papelão, na calçada. Combinava o horário e passava para recolher. Pedia garrafas de plástico e de vidro, latas e tampinhas. Aos poucos, com seu sorriso  e sempre um ''bom dia'',para cumprimentar, começou a conquistar mais pessoas e a recolher mais volumes.
Paulinho era mesmo muito bem humorado. Com essa postura conseguiu que um senhor idoso lhe alcançasse uma xícara de café da manhã e uma fatia de pão com manteiga.
No prédio onde moro, ele atendia algumas pequenas necessidades dos moradores, pois a síndica lhe dera licença de assim proceder.
A carroça era toda trêmula, toda desequilibrada e ficava pesada para os braços magros de Paulinho.
Quando mamãe era viva e tinha um jardim na frente da casa, eu pedia para Paulinho, cuidar das mudas, das flores. Ele plantava, regava, retirava inços e deixava o jardim com a grama aparada .  
Com o tempo, conseguiu ajeitar seu modesto rancho, trocar o telhado, fechar as goteiras e reforçar a madeira das portas e janelas.
Hoje, tem uma carroça nova, de melhor qualidade.
Conseguiu um apadrinhamento que o auxilia para que possa estudar e aprender as primeiras letras.
E sua jornada parece ter tomado o rumo certo.
Paulinho acorda cedo e sai com a carroça para seu trabalho diário. Não há chuva ou mau tempo que o faça ficar em casa.
Merece tudo o que ganha. Merece cada atenção, cada prato de comida, cada camisa, cada cobertor.
Paulinho descobriu que a sua carroça está caminhando em direção ao céu, porque Deus está olhando por ele. Mesmo que antes disso, ainda tenha uma longa distância até cumprir o destino de melhor escolha e de melhor acolhida. Paulinho agradece, todos os dias, por seu humilde meio de vida. Ainda tem um ganho pequeno por dia, quando vende o que recolhe para a reciclagem.
Mas ele trabalha, não rouba, não destrata o seu semelhante e sabe agradecer e orar.
Paulinho tem nas amizades seu motivo de alegria.
Ele percebeu o que muitos homens ainda não entenderam:
- A felicidade está no acolhimento dos afetos e não no dos objetos.

KATIA CHIAPPINI

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