Aquarela de poesias

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Poesias para você

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

LEMBRANÇAS DA CHÁCARA

               LEMBRANÇAS DA CHÁCARA

Como é possível alguém declinar do conforto da cidade grande para se estabelecer numa chácara?
Atualmente, algumas famílias estão abrindo mão da poluição sonora e ambiental para morar em zonas rurais, em verdes campinas, preservando a qualidade de suas vidas.
O homem parece querer fazer as pazes com o seu ''eu essencial''.
Assim, não me parece tão difícil entender essa decisão se formos levar em conta os inúmeros benefícios de uma vida ao ar livre.
Morar em chácara é como estar perto de Deus, do azul celeste, das matas verdejantes, do colorido da paisagem, num eterno ''vernissage'' que a dinâmica natural nos sugere.
Fauna e flora exigem todo o empenho para que se transformem em sustento diário dos moradores e agregados da chácara.
Os ipês explodem em amarelo, azáleas se jogam entre as gramas, jasmins exalam seu aroma e as glicínias exibem suas cores de um róseo violeta.
No verão, a sombra das parreiras e o verde acinzentado das velhas figueiras, oferecem um belo contraste com as flores que desabrocham, até no roseiral abandonado.
No inverno, as árvores que derrubam as folhas, como cinamomos, nogueiras e ameixeiras, ficam esperando a estação primavera para vestir novas roupagens.
Amo o verde constante do laranjal, cuja folhagem perene é como a dos pinheiros e ciprestes.
E a claridade pelas frestas da janela, desperta-me pela manhã como se fosse o chamado da vida.
Gosto de despertar antes do Sol para vê-lo espalhar seus raios sobre todas as coisas e sobre todas as pessoas, sem excluir nenhuma delas.
Gosto de apreciar o pôr do Sol, onde a mutação das cores se revela intensa, para logo sumir no horizonte, pra chamar a estrela Vésper, a primeira estrela do entardecer.
O silêncio fala por si e traz a ausência dos sons urbanos.
Mas o silêncio da chácara é pontilhado de assobios, trinados, rufar de asas, zumbido de abelhas.
A noite vem revelando o som dos grilos, o resmungo dos sapos, a luz dos pirilampos, o olhar da coruja, espreitando entre as árvores.
Folhas e galhos provocam um rumorejar macio impulsionados pelo balanço do vento.
A chuva beneficia a plantação e nos brinda com murmúrios de acalanto.
A névoa faz desaparecer os cerros e a amplidão do espaço aumenta, e parece que vislumbramos outros mundos.
Morar na chácara é voltar para o interior, descobrir o sentido de viver, comungar com a simplicidade, vivenciar a liberdade e fortalecer a fé.
Nas paredes internas da casa há uma memória viva espalhada pelas telas, fotografias, quadros e aquarelas.
Em cada rosto saltam lembranças inolvidáveis, tanto de alegria como de mágoas sofridas.
Entre elas, as minhas próprias lembranças se confundem e constam numa imensa galeria de heróis de barro que já lograram  fazer parte de minha cascata de sonhos.
E que não mais me entristecem!

KATIA CHIAPPINI 

3 comentários:

  1. Lindo texto! Foi num lugar assim que me criei e vivi por alguns anos de minha vida, onde também trabalhei como professora municipal bem no interior de Rio Pardo.

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  2. Sim,são lugares abençoados pela natureza e que nos fazem bem à alma, querida Maria do Carmo. Obrigada!

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