Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

SIGNIFICADO DO ATO DE ESCREVER

      SIGNIFICADO DO ATO DE ESCREVER
             ( poeta Mário Quintana )
Escrever é estar com a vida plena: em estado de graça.
Quando você se aproxima do computador, as letras já estão alinhavadas na inspiração que se projeta, momentos antes, quando o cérebro começa a definir o que deve ser escrito, naquele dia e hora.
Parece que seu dia ficará incompleto sem a manifestação escrita que desvenda seu interior, seus projetos, devaneios, loucuras românticas, sonhos possíveis e impossíveis e futuros mistérios que está buscando decifrar.
Tenho a impressão que escrever preenche qualquer inquietude, disfarça qualquer mágoa.
Percebo que escrever é atingir um público ávido por palavras de estímulo, por histórias eivadas de aventuras, de conhecimento.
Quando você escreve passa a ser uma fonte de interesse. Pois, seus leitores podem colher exemplos a seguir. Ou caminhos a percorrer para alçar voo, para exercitar a concentração, para acalmar o espírito cansado ou em desânimo.
O prazer de escrever está ligado a uma realização pessoal que você descobriu em algum momento de sua vida.
Uma vez escritor, sempre escritor.
Você percebe que não pode parar sem que lhe falte o ar rarefeito, sem que o seu dia seja perfeito.
É quase um estado de levitação. Um devaneio lúcido e produtivo.
Se o escritor começa um texto, conforme seu interesse seja mediato ou imediato, ele pode ficar muitas horas trabalhando nele, sem que perceba que a hora do almoço ou da janta já passou ao longe. E não terá fome ou sede, até que termine a etapa que se determinou a cumprir, naquele momento.
A impressão que passa é que o escritor reage com todo o seu corpo. É possível que grite de satisfação, chore de emoção, ou rasgue seus rascunhos, ou bata na mesa com força porque não encontrou a rima certa. 
É possível que se apaixone pelo personagem que criou e sinta suas dores e desenganos. E nesse estado de sofrimento, talvez crie seu melhor romance de ficção e jogue no texto e no personagem, parte de suas mágoas, não fictícias. 
Pode ser que alguém possa explicar porque há tanta magia no ato de escrever .E como pode haver tanta energia na figura do escritor.
Mesmo nos piores dias o escritor sente palavras palpitando no seu interior e pedindo para pular e preencher as pautas.
O escritor não escreve por ambição ou dinheiro. O verdadeiro escreve pelo prazer de dizer o que quer, sem sofrer perseguição, sem se ver com a liberdade de expressão cerceada. Sem aquele prazo que o editor estabeleceu e cuja cobrança lhe é insuportável.
E as palavras não se tornam só linhas lançadas no papel, mas uma necessidade, porque essenciais à vida.
Escrever com continuidade torna o escritor mais perspicaz, mais experiente e com uma linguagem bem construída, cuidada e futurista.
´Pode ser que o trabalho em excesso deixe o escritor cansado. 
Mas após se refazer, voltará ao texto com novas ideias e mais confiante em sua capacidade de captar mais elementos, abrindo um leque de possibilidades, ao seu redor.
Escrever acalma, faz enfrentar as dificuldades e faz entender que não é possível parar antes do grande final. Então, vale a caminhada porque se a vida é um mistério, pouco se sabe sobre todas as coisas e pouco se descobre sobre o mundo lá fora, ou sobre nós mesmos. E, muito menos sobre onde, em que lugar, quando e como será o grande final.
Ao escrever você deve deslizar livremente, pois as palavras vão possuir uma luz que tudo ilumina e um deleite peculiar que compensa todos os esforços. Pode parecer que o poeta perde tempo, mas cada rima feita com carinho é um tempo ganho em satisfação interior, em entusiasmo justificado e merecido.
As palavras podem ser facho de luz ou balas de revólver.
É preciso ter responsabilidade sobre o que se escreve: ou se abrem portas ou se fecham.
Os corações solitários gostam do silêncio da noite para escrever porque é um modo de driblar a solidão, disfarçar a dor de cotovelo.
Às vezes, o escritor nem se levanta para fechar a janela, onde o vento bate com fúria. Ele tem medo que as palavras possam fugir e isso seria desastroso, porque a inspiração pode se dissipar e tardar a voltar.
O verdadeiro escritor não teme o fracasso, ao contrário, esse lhe serve de estímulo para prosseguir a jornada.
Há escritores que se dedicam a escrever sobre as guerras e viciam nesse tema e se a prenunciada guerra não ocorrer, eles perdem toda a inspiração.
Há outros que escrevem para mostrar que os caminhos podem ser diversos e que podemos mudar a rota sempre que houver necessidade de recomeçar. São os escritores que se voltam para o semelhante e buscam equilibrar as alegrias e dores. E que sabem aconselhar e sugerir procedimentos tais que levem ao indispensável fortalecimento do espírito.
Não há nada que impeça o escritor de escrever. Nem a rejeição e nem o ridículo. E ainda que reprimido e, por vezes, desacreditado, maior será o desafio que lhe acometerá e a vontade de vencer os obstáculos.
Quanto mais o escritor se aprofundar no texto, mais motivação terá para descobrir mensagens, verdades, premissas e novas paisagens poéticas. Escrever é dançar com as palavras e desafiar a si mesmo, num constante fluxo de ideias mirabolantes, alucinantes e nem sempre coerentes. Mas é um despertar de alma que beneficia o corpo. O texto flui e, nesse instante, o mundo se torna mais belo.
E parece que o escritor escuta o canto das cotovias e pintassilgos, o murmúrios de cachoeira, o trepidar das folhas ao vento, a brisa na face, o cheiro da terra molhada e a garoa do amanhecer a pingar no rosto.
Parece que as flores estão abrindo suas pétalas para lhe dar um bom dia. E que o cão, inseparável companheiro, está pulando em seu pescoço para lhe pedir uma rimas como recompensa pela dedicação inconteste.
E escrevendo, o poeta se sente, ora um deus, ora um sábios, ora um predestinados, ora um anjo alado, ora um gênio da lâmpada de Aladim, com direito de fazer seus três pedidos. 
Um escritor deve ao seu leitor apenas o seu texto. Apenas a disponibilidade de comunicar e interagir.
E quem, em sã consciência, se decidisse a fechar a porta para um escritor, melhor seria que lhe presenteasse com sua eterna ausência.

                                  KATIA CHIAPPINI


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