Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

NAS ONDAS DO TEMPO

        
                     NAS ONDAS DO TEMPO

Imagino o tempo como se fosse um mar intrigante, ora calmo, ora turbulento.
Na infância o tempo guarda lembranças cálidas das travessuras, teimosias, pequenas rebeldias e a preocupação dos pais em educar os filhos com dignidade e verdade.
Se eu voltar a esse tempo vou lembrar das vezes que me escondi no alto dos galhos de uma árvore que tinha no quintal de minha casa.
Levava um livro para ler e me isolava para que ninguém me interrompesse no meio de um relato emocionante, ou de uma cena de história de terror.
Vou lembrar dos acampamentos, da pescaria, das brincadeiras de rua, dos fins de semana na casa das melhores amigas, das tardes de domingo quando íamos ao cinema ou ao circo que chegara na cidade.
Vou lembrar da disciplina rígida de minha Escola de freiras, das tardes de estudo, na mesma Escola, onde se controlava até a respiração. Onde só depois das tarefas cumpridas e do visto da freira se podia ir para a merenda.
Vou lembrar de que gostava de cantar no Coral da Escola, pois, para afinar a voz, ganhávamos um copo de vinho mexido com gemada. 
E ainda vou lembrar que o tempo da missa parecia encurtar, pois as canções nos distraíam.
Vou lembrar das calçadas recheadas de gente com suas cadeiras de balanço que aproveitavam para saborear um bom chimarrão, entre uma conversa e outra.
Nas ondas do tempo nos reportamos à adolescência.
Os primeiros olhares para o eleito começavam a surgir.
Quartas e domingos eram os dias de receber em casa o eleito e com a supervisão dos familiares que passavam pela sala, como quem não quer nada, mas já querendo observar o clima do ambiente, mais ou menos romântico
Nesse tempo, algumas ondas turbulentas obstruíam os relacionamentos. Intrigas, ciúmes, brigas, imaturidade, tapas não tão suaves, palavras vociferadas com raiva, tudo parecia amplificado e mais sério do que realmente era.
Nas ondas da idade adulta a cena se reporta aos compromissos de trabalho, às obrigações familiares, às preocupações quanto à finanças, negócios, compromissos de toda ordem.
O tempo é de responsabilidade ampliada com o objetivo de prevenir  os gastos com saúde, na  idade madura. Essa que traz as ondas mais turbulentas, os problemas de insatisfação,insegurança, rejeição,solidão e tristeza.
Na idade madura o tempo é condescendente  para as pessoas que souberam viver com alegria e espírito leve.
As ondas vão escurecer para quem se deixou levar por lamúrias e reclamações. Pois, só a sabedoria sobre os valores do espírito levam a viver uma velhice solidária e tranquila, entre os familiares.
As ondas do tempo nos ensinam a ter tempo para evoluir e assimilar com dignidade nossas vivências e experiências.
A qualquer tempo precisamos saber viver o nosso melhor.
Se me perguntassem qual o melhor tempo eu diria que é o atual. 
É o que vivemos hoje.
Só o hoje é nossa realidade. Só hoje podemos nos desculpar, buscar os parentes distantes e resgatar nossas culpas.
Só hoje somos o que somos e não o que nos falta ser.
Hoje, na maturidade, já aprendemos a conviver melhor, a superar desavenças, a não superfaturar detalhes insignificantes para viver melhor.
Hoje deve ser nossa melhor onda porque é o que temos de real.
O passado permanece passado e o futuro não nos é dado adivinhar.
As ondas do tempo são sábias porque nos deixam ensinamentos que vamos assimilando para o próprio amadurecimento e tolerância.
Compete-nos cuidar da saúde corporal, mental, espiritual, emocional.
O mar pode ser tranquilo conforme assimilarmos suas ondas.
As ondas são os desafios aos quais nos submetemos porque fazem parte da jornada.
As ondas do tempo não param e nossos anseios não podem parar também.
A jornada continua e mais vale caminhar do que se preocupar com a chegada. Mesmo porque, quando pensamos ter atingido o objetivo, percebemos que outro já nos chama.
O tempo segue sua jornada, a qualquer tempo.
E viverá melhor quem souber administrar com sabedoria e humildade o seu tempo.
Precisamos nos conservar úteis, renovando os sonhos e a busca constante de novos ideais.
E vamos nos lembrar de que sempre é tempo de prosseguir.
Nossos ideais não ficam nos procurando pela jornada que devemos cumprir. Nós é que precisamos defini-los e persegui-los.
Talvez  estejamos a pensar  que nosso tempo tenha passado, que nada mais há para buscar.
Se esse for nosso dilema, entre o ser e o não ser, entre o fazer algo ou nada fazer, tenhamos a certeza de que tudo está ao nosso alcance, a qualquer tempo. Desde que façamos um contato com o nosso ser interior, para que nos mostre uma nova onda para surfar, em pé e de cabeça erguida.

KATIA CHIAPPINI


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