Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

UM PECADO CAPITAL

                                 A GULA



Em minha infância tive a oportunidade de passar minhas férias na praia do  Cassino, Rio Grande, onde o mar tem uma extensão territorial de causar espanto. Meus tios ocupavam uma casa onde o espaço comportava sua família e alguns sobrinhos, filhos das irmãs de minha tia, a dona da casa.
Um dos primos de nome Mario, tinha estatura avantajada e assim costumava repetir, por várias vezes, as porções de comida, nas horas das refeições.
Era costume, nessa época, a dona de casa servir o marido, em primeiro lugar, como chefe da casa, depois os demais presentes e , por último, a si mesma. Nem bem titia terminava de servir, antes que pudesse sentar, meu primo guloso já pedia repetição. Meu tio só observava calado mas atento ao fato, embora não parecesse.
Numa linda noite de verão, fomos jantar fora, na cidade de Rio Grande.
Lá chegando Mario pediu o cardápio, de imediato, sendo o primeiro a escolher e solicitar sua preferência. Fizemos também nosso pedido e a reunião parecia muito agradável e tranquila.
Ouvia-se, no requintado ambiente, uma música suave, vozes educadas falando com suavidade e garçons atenciosos circulando pelo salão.
Mas, eis que Mario estava terminando de comer, quando foi surpreendido pela presença do garçom, que colocou a sua frente, outro prato igual, com as mesmas iguarias do seu primeiro pedido.
Antes que entendesse o que estava acontecendo, ouviu a voz severa de meu tio dizendo:
-Pode continuar e tenha bom proveito.
-Mas eu já estou satisfeito, meu tio.
-Impressão sua, faço questão de vê-lo comer tudo o que está em seu prato.
Diante do olhar dominador de meu tio, não houve outra alternativa para Mario, a não ser a da obediência absoluta.
Ao terminar o sacrifício, Mario olhou para o tio que ainda perguntou :
-Quer escolher a sobremesa ?
-Não, estou bem.
Nem é preciso dizer que Mario não estava bem. Estava sem cor, visivelmente alterado, nervoso, inquieto, olhar aflito, tanto que pediu encarecidamente ao meu tio para voltar com rapidez à casa.
Meu tio apressou o velocímetro do carro e ao chegarmos em casa Mario correu para o banheiro e vomitou todo aquele excesso. Cambaleando, dirigiu-se ao seu quarto e se deitou. Ficou muitos dias sem poder se alimentar. Seu estômago só suportava líquidos, meia maçã ou pera, ou água mineral. Mario emagreceu 8 kg em pouco tempo, até se refazer do ocorrido.
Mas depois disso passou a cuidar da alimentação, contentar-se com o necessário a cada refeição, abandonando , definitivamente o pecado da gula.
Nunca mais teve excesso de peso, fez questão de se disciplinar e praticar esportes.
 Adquiriu bons hábitos, melhor qualidade de vida e emocionalmente evoluiu.
Mario recebeu até um elogio do tio ao se revelar mais comedido na alimentação. Mas não se podia convidá-lo para jantar fora que , de imediato, fazia uma careta horrível, ao mesmo tempo que recusava.
Não sei ,exatamente, por quanto tempo ficou traumatizado, pois voltei para casa após o término das férias escolares.
Anos mais tarde, quando meu tio necessitou de cuidados especiais, lá estava Mario ao seu lado. Tornou-se o ajudante número um de minha tia e incansável em desvelo.
O fato é que Mario perdera seus pais num terrível acidente aéreo e , desde então, fora criado pelo tio.
E foi graças a esse tio que se tornou um profissional competente e apto a sustentar mulher e filhos. Mario se tornou um homem dedicado, educado, atento em relação a sua saúde e companheiro fiel de seu tio, até o fim. 
Como todos nós, Mario pode ter lá seus defeitos, menos um deles : o da gula.
  
KATIA CHIAPPINI
Email: katia_fachinello42@hotmail.com

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