Aquarela de poesias

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Poesias para você

quarta-feira, 8 de abril de 2015

VOVÓ CAROLINA.

                       VOVÓ CAROLINA

Faleceu a vó Carolina nesse mês de Abril de 2015, aos 94 anos de idade.
Vovó Carolina poderia ficar por mais de 24 horas falando de sua vida no interior  e nas dificuldades pelas quais passou ilesa e de cabeça erguida. 
Seu nome foi uma referência, tanto em Ouro Verde como em Abelardo Luz, em Santa Catarina, onde viveu e criou seus 4 filhos.
Nessa época ficou sozinha com os filhos pequenos quando o marido foi para a guerra. Mas isso não a abalou.
O local era primitivo e as tarefas domésticas se multiplicavam e o corpo ficava exausto no fim de cada dia.
Havia um ponto de ônibus, uma pequena rodoviária no local. E a vó preparava o almoço para os transeuntes. Eram muitos ao dia e precisava ser pontual no atendimento porque as pessoas precisavam seguir viagem.
Ela levantava cedo e sabia que precisava lavar a roupa, longe da casa, deixar quarando, voltar para estender, voltar para recolher.
Um cachorro, que não a deixava sozinha, ficava cuidando para que ninguém roubasse as roupas.
Vovó Carolina fazia pães, cucas, matava porcos e galinhas ,tirava leite da vaca e recolhia os ovos para acondicionar e vender. Durante o dia fazia sabão, requeijão, linguiça, morcilha, doces em compota, tortas, pudins e toda sorte de guloseimas e especiais manjares.
De tarde descansava na cadeira preguiçosa e  rezava, o que lhe servia de consolo: dedilhava um rosário até completar todo o trajeto das contas.E um rosário equivale a três terços.
Vovó Carolina fazia colchas de tricô e de croché. Costurava para os filhos com perfeição. Fazia trilhos de mesa, capas de almofadas.
Mas, na parte da noite, ainda tinha energia para jogar baralho em família. Essa era a sua melhor hora e a dos convidados também. Quando chegava uma certa hora, lá ia a vó fazer um sopão para servir no intervalo, entre uma e outra rodada.
Mesmo sendo mal alfabetizada, vó Carolina e vô Avelino fizeram questão de mandar os filhos estudar em Porto Alegre. Todos tiveram o estudo universitário que lhes garantiu o sustento próprio e a independência desejada. 
Os filhos sempre ajudaram os pais financeiramente e, em certa ocasião, deram um Fuska para seu Avelino.
Morei com vó Carolina quando ela se deslocou para Porto Alegre, por um período de três anos, quando ela já tinha mais idade. 
Mas, quando morou no interior de Santa Catarina, não deixou de me atender no parto de meus três filhos, mesmo deixando o marido adoentado.
Foi uma grande mulher a vó Carolina. Eu casei com o seu filho mais velho, mas não era só uma nora. Ela me considerava como filha e fazia questão de dizer isso. Eu a levava ao cinema ,teatro,ao shopping e em qualquer lugar que precisasse ir. 
Quando eu vinha da escola, onde lecionava, tomávamos o café da tarde juntas .Ela gostava de me convidar para ver uma novela ou outra. E, aos domingos, íamos à missa na Catedral. Nos dias de semana, lá pelas 18 horas, eu a acompanhava, novamente, e ela prestava atenção ao sermão do padre e gostava de comentar comigo.  E frequentávamos, ainda, os chás da paróquia e os galetos que a comunidade oferecia, com massas e vinho. E desfiles de moda, no salão paroquial.
Vovó Carolina gostava de me ouvir ao piano, principalmente com o som da música folclórica italiana, música sertaneja e valsas antigas, tais como,''Saudade do Matão'', Desde L'alma, Branca. E boleros,tangos, milongas e guarânias.
Vovó Carolina deixou um vazio nos corações .Mas seu exemplo de mulher batalhadora foi o que ficou marcado em nossas almas.
Vó Carolina era madrinha de quase toda uma comunidade, no interior, porque era chamada para fazer partos. Se movimentava para atender a qualquer hora. Ia de charrete ou carroça ,trepidando pelas estradas de terra, com sol ou chuva. Nunca se recusava a trazer mais um ser inocente ao mundo.
Eu a amo e vou sempre lembrá-la em minhas orações .Ela nos deixou para descansar ao lado de Deus-Pai. Mas tenho a certeza de que irá nos proteger de onde estiver.
Rezava todos os dias e teve uma morte rápida, sem gemidos e dores.
Não precisamos chorar por ela, e sim, agradecer a Deus por tê-la conhecido.  Poder conviver com sua sabedoria intuitiva e com sua força moral e bons princípios, foi um privilégio.   
E ela, por sua vez, já agradeceu, de todas as formas, com o seu viver de mulher correta e dedicada à família. E havia o prestígio das comadres que levavam a ela os seus afilhados, para conhecê-la.
Saudades ,de teus filhos e netos, querida vó Carolina!
Que  Deus esteja te protegendo com seu manto celestial, em tua nova morada!

                                             KATIA CHIAPPINI

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