Tornou-se usual apontar os defeitos dos outros, sem dó nem piedade, ao invés de tentarmos descobrir os nossos próprios.
Esquecemos de fazer nosso exame de consciência e nossas reflexões sobre nossos atos.
Quem nunca deixou roupa sobre a cama, ou não se esqueceu de pendurar no varal a toalha molhada?
Quem nunca se mostrou grosseiro, impertinente, irritado, sem razão aparente?
Quem nunca fez uma promessa, só por fazer, sem intenção de cumprir?
Quem nunca esqueceu a data do aniversário do seu parceiro ou a data do casamento?
Quem nunca usou palavras ásperas para se arrepender depois?
Quem nunca exigiu do parceiro procedimentos e ações que de si mesmo nunca exigiu?
Nos relacionamentos entre patrões e empregados, entre amigos, entre familiares, parece-me que desculpamos certas atitudes que não desculpamos, ao viver na mesma casa com nossos companheiros.
Os casais podem estar juntos por um bom tempo, e mesmo assim, continuar a fazer picuinhas, provocar, um ao outro, por não terem
maturidade. E,faça chuva ou faça sol, fazem questão de ''montar um barraco''.
Hoje, os ânimos estão alterados. E, por qualquer motivo, ouvimos falar em separação, o que deveria ser falado após esgotados todos os recursos e argumentos, entre os casais.
Não assimilamos a importância do diálogo e, de imediato, colocamos a culpa no outro, que carrega a própria culpa e a nossa.
Se negarmos nossas falhas, não poderemos pensar em mudança de comportamento em prol de uma tranquila vida a dois.
E os relacionamentos se fragilizam por motivos fúteis.
Mas, há uma diferença fundamental entre os que se amam e os que não se amam mais.
Quem ama busca ajuda externa, se empenha em acertar e em seguir as orientações do terapeuta ou do psicólogo.
O amor leva os casais a valorizarem o companheirismo, a cumplicidade e a dedicação do dia a dia.
O amor faz com que os espinhos e inços sejam aparados e que as pedras sejam desviadas do caminho e não jogadas, no outro, num ato de desrespeito sem volta.
Quando o parceiro tem um gesto de carinho é preciso elogiar, agradecer e mostrar que valoriza a atitude.
Ninguém é o culpado absoluto.
Há acertos e erros em todos nós.
Ninguém pode se achar o soldado de passo certo, quando for o único a pisar diferente dos outros, na marcha da vida.
E para manter um diálogo proveitoso, é preciso saber ouvir, saber falar, saber deduzir e assimilar as palavras ditas e seu sentido.
Viver bem o relacionamento é trabalho árduo. Nada é fácil.
É preciso saber a hora de ceder e a hora de exigir.
Não pode haver uma relação de submissão, onde um parceiro possa se sentir inferior ao outro. Não pode haver sentimento de propriedade ou dominação, e sim, um convívio harmonioso e equilibrados,com base no respeito mútuo.
Quem nunca pediu desculpas que aprenda a fazê-lo.
Quem nunca perdoou que comece agora, pois está perdendo tempo e espaço em terreno infértil.
Quem nunca abriu mão de seus conceitos para assimilar outros que agreguem melhor entendimento, entre os casais, está perdendo a ternura, a humildade, a serenidade do bom samaritano.
Mas, não estou pregando um relacionamento viciado, truculento, onde já se tentou tudo o que foi possível, sem efeito prático.
Cada um precisa buscar ser feliz. E, ser feliz sozinho é uma opção.
Há relacionamentos instantâneos, onde o sexo vem primeiro e o carinho nem vem mais, porque um dos travesseiros ficou intacto.
Então, é preciso construir pontes, conhecer o interior, os bons sentimentos, as intenções, os planos futuros, para ver se o nosso lugar está reservado e se vem de um planejamento que inclua os dois, num só passo, num mesmo compasso.
É preciso esquecer os eletrônicos e sentar para fazer as refeições e colocar os assuntos em dia.
É preciso voltar ao tempo da conquista, das flores e bombons, dos perfumes, dos colares, brincos e pulseiras e das delicadezas mútuas.
Os relacionamentos não evoluem se os casais se descuidarem com sua aparência, se as roupas estiverem com pingos de gordura, ou amarrotadas, se aquele chinelo velho e rasgado não for substituído.
O cuidado precisa envolver corpo, espírito, mente saudável, gratidão, respeito e cooperação.
Não somos totalmente perfeitos, nem totalmente imperfeitos.
Nossas diferenças serão respeitadas ,se houver um verdadeiro amor.
Quem nunca pediu para voltar?
Se pedir, reconsidere e aceite o bom pastor, já arrependido.
Uma nova chance, só uma, está de bom tamanho.
Tal qual o filho pródigo, que o pai acolheu e perdoou, devemos
deixar brotar os bons sentimentos e recuperar nossa vida a dois.
Agir com tirocínio e ouvir as razões do outro é sinal de amadurecimento.
Quem nunca quis ser feliz? Então, busque a felicidade
Quem nunca lutou para ser amado? Então lute com todas as armas
Quem nunca esqueceu de viver o amor? Então não mais esqueça.
Quem nunca... ?
Nunca.
KATIA CHIAPPINI
QUEM NUNCA?
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