QUASE

                                 QUASE !  

Quase poderia ter sido
Quase passou no concurso
Quase teria vivido
Se seguisse da vida o curso

Quase teve coragem de amar
De não fugir do sofrer
Quase se deixou ajudar
Quase parou de beber

Quase parou de jogar
Quase teve um gesto nobre
Quase parou de acumular
Quase agasalhou o pobre

Quase nunca se arriscou
Quase não soube perder
Quase nem raciocinou
Quase não soube viver

Quase nada olhou de frente
Quase nenhum discernimeno
Quase não aceitou simplesmente
Que se erra a todo momento

Quase nada saiu do papel
Quase nem teve decoro
E tratou a dama do bordel
Como se fosse para o matadouro

Quase caiu no abismo
Quase esqueceu do mundo
Quase sucumbiu no egoísmo
Quase em coma profundo

Quase não soube beijar
Quase o abraço negou
Quase não soube consolar
Quase a mão retirou

Quase nunca amou
Quase não teve desejo
Nem a paixão o perturbou
Quase não houve ensejo

Quase não foi nada
Quase opaco se tornou
Quase alma acamada
Semente que não vingou

Quase se descuidou de ser
Quase se tornou fracassado
Quase sentiu sem perceber
O remorso de não ter tentado

Quase nem havia admitido
Que o amor é frágil cristal
Só límpido quando não partido
E não germina no lamaçal

Quase economizou a amizade
Quase a alma não abriu
Quase não falou a verdade
Quase da vida desistiu

Quase viveu de quimera
Quase utopia ou mito
Retomar a vida -quem lhe dera - 
O trem não ouviu o seu grito


Quase nem recomeçou
Quase infeliz quis ficar
Quase morrendo falou :
-Quase vivi sem me olhar.

     KATIA

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