Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

sábado, 23 de março de 2013

O AMOR COMO ILUSÃO

                       AMOR PLATÔNICO

O amor é um sentimento que, em sendo platônico, prefere amar a perfeição no mundo efêmero e não perfeito. Prefere amar a virtude, o caráter, a beleza interior, contemplar sem tocar.
É o caso, por exemplo, de um homem que vê uma mulher e tem uma atração inexplicável por ela. O homem a vê numa emissora de televisão, com impecável postura, atuando no noticiário. Passa a assistir o programa diário e não admite ser perturbado. Ao descobrir que ela fará um seminário para os profissionais de comunicação, garante seu lugar na primeira fila. E ali fica embevecido.
O homem é casado e tem filhos e netos e cumpre, religiosamente, suas obrigações com o núcleo familiar.
Descobre que a moça é casada mas ama a visão de seu rosto na tela e essa imagem não lhe deixa o pensamento e preenche uma lacuna em seu coração.
E a moça nunca lhe dirigirá a palavra e não saberá de sua existência e muito menos desse amor que nada insinua.
Outro exemplo é o da moça que encontra um moço no chat da sala de bate papo.
A comunicação é diária e já se estende por seis longos anos.  Mas , em determinada manhã, o moço não desperta para lecionar o primeiro período de aula e jamais isso tinha lhe acontecido.
Desse dia em diante passam a se falar três vezes na semana.
Parecia que tudo levava a uma continuidade. Mas a moça percebeu que, em nenhum momento, o moço falava em conhecê-la pessoalmente. Aos poucos, foi se afastando do convívio virtual até que, um dia, resolveu não conversar mais com o moço.
Mas, vez por outra, se surpreende, ao verificar em seus e-mails, a mensagem apaixonada, desse moço, o qual sofre de um amor platônico.
As razões desse procedimento podem se prender a algum trauma do passado. Ou o moço tem outro relacionamento em paralelo.
Ou tem medo de se aproximar da moça e se decepcionar. Nesse caso, não só perderia a possibilidade de amar como a de se manter conectado com ela, como um bom amigo e confidente.
Outro tipo de amor platônico é o do aluno por sua professora. Ou o de uma jovem pelo seu analista quando ela confunde a atenção que recebe do profissional, com outros sentimentos. Quem viveu essa situação acredita, naquele momento, que vive uma grande paixão.
 E  assimila esse sentimento com determinação e faz dele sua verdade maior.Quem viveu esse tipo de amor sabe que ele tem expressão, personalidade. E se torna tão intenso como se tivesse vindo à tona. A saudade da ausência é igual, o ciúme se faz presente e o sofrimento castiga.
Mário  Quintana, poeta gaúcho, de notável sensibilidade, sentiu esse amor por Bruna Lombardi, uma linda moça de olhos azuis, artista, poetisa, diretora de cinema e escritora. E muito amiga do poeta com quem esteve por diversas vezes, enquanto esse viveu.
Há o amor não correspondido, onde uma das partes jamais se declara por saber que seria infrutífero.
Outra forma de amar é a dos casais que iniciam o namoro e depois se separam e tomam, cada qual, o seu rumo, por circunstâncias imprevisíveis, sem que haja tempo de concretizar o relacionamento.
E muitos anos depois se reencontram, ambos viúvos ou separados, unindo os elos da corrente antes desfeita. O amor toma forma, renasce das cinzas e da saudade enjaulada por tanto tempo. Pois quem sabe, chegou a hora de ser feliz. E o que permaneceu no tempo foi essa energia cósmica, esse amor espiritual e a lembrança de um sonho desfeito. O amor ultrapassou o contato físico e ficou aguardando a definição e mesmo, não é preciso analisar ou compreender e sim sentir o tremor nas pernas e o acelerar do coração, quando se torna pequeno para conter a emoção.  
Há casais, cuja convivência estreita, faz com que um homem se apaixone pela mulher de seu amigo. E para não ferir essa amizade,o homem silencia e sofre.
Há os casais que se correspondem por cartas e que acumulam muitos quilos de amor e que sabem, que por algum impedimento intransponível, jamais vão se encontrar. E só as cartas trocadas vão permanecer como prova desse amor insólito.
Em todos esses amores platônicos, mesmo dentro de um quadro opaco, sem moldura e de triste paisagem, os homens preferem amar e sofrer do que não ter sonhos a vivenciar, embora etéreos.
A carência leva o homem a se contentar com arremedo de amor, com migalhas de afeto, com falsas ilusões. Ele prefere acalentar essa miragem porque não quer estar indefinidamente sozinho, que é a sua realidade. E se sua imaginação e sensibilidade forem aguçadas, sempre resta um jeito de se valer de um amor platônico.
Talvez até seja mais convincente do que os amores atuais, advindos de um casamento aberto. E que também não trazem felicidade.
O amor platônico é só seu e sua essência o acalenta e sua imagem permanece com você pelo tempo que quiser. Não podem tirar de você esse sentimento e nem arrancar do peito o seu sonho.
Não deixa de ser uma fuga do mundo real, se formos aprofundar.
Quanto mais o homem se aproxima da tecnologia que avança a passos largos e dos avanços da ciência, mais se afasta de si mesmo.
E o amor platônico,nada mais é, do que uma forma que o homem encontra de permanecer em conformidade com seus conflitos, sem correr mais riscos. Percebeu, que em sua essência, vive um momento de solidão, dentro de um mundo politicamente incorreto, aparentemente feliz e supostamente perfeito.


                                  KATIA CHIAPPINI

De que vale tanta evolução se não podemos compreender nossas angústias e se nem temos tempo de ser feliz ?

3 comentários: