Aquarela de poesias

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Poesias para você

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

500,OO REAIS: LEIA E VEJA SE CONCORDA!

            500,00 REAIS:PERDA OU GANHO ?

Dona Vilma era uma senhora bondosa e sua serviçal também o era.
A patroa procurava ser paciente com a empregada, mesmo sendo essa, um pouco vagarosa nas lides domésticas. A estreita convivência de 15 anos desculpava alguma irritação que era compensada pela dedicação e lealdade. Dona Vilma morava sozinha. O marido tinha falecido e seu único filho havia se casado.
Ao sofrer uma intervenção cirúrgica precisou diminuir sua atividade e passou a necessitar de mais cuidados.
Fátima tornou-se imprescindível na casa de três amplos andares.
Os dias iam se sobrepondo num panorama sempre igual. A rotina da casa estava a exigir um fato novo. Esse não tardou a acontecer e justifica o seguinte relato.
- Vamos aos fatos:
No ano de eleições, os cidadãos deveriam cumprir o dever do voto.
No dia, conforme o combinado,  o filho de dona Vilma foi buscá-la já demonstrando impaciência e apressando a mãe. Ela saiu às pressas e esqueceu de guardar a bolsa. Tinha saído com uma pasta com os documentos, algum dinheiro e a chave da casa.
Após cumprir com seu dever eleitoral voltou para casa e a revirou com vigor e persistência e não encontrou a bolsa que deixara sobre a mesa da sala.  Na bolsa havia a importância de 500,00 reais, além de documentos pessoais. Isso aconteceu num domingo.
Na segunda feira esperou Fátima chegar e comentou o fato. Ela ouviu com tranquilidade porque não trabalhava aos domingos.
Algumas semanas se sucederam e ambas não tinham encontrado a bolsa perdida.
Fátima ia pernoitar com seu único filho e motivo de preocupações.
A diretora da escola já havia relatado alguns comportamentos inadequados do adolescente. Esse estava comprometendo seu aproveitamento escolar e se não tomasse jeito o ano estaria perdido. Com pesar e tristeza, apesar dos conselhos maternos,Fátima constatou que o filho virara delinquente. Costumava sair de casa pela manhã para retornar tarde da noite.
Em certo dia,Fátima, já em casa, ouviu os passos sorrateiros do filho e se escondeu para espiar o movimento dele. Esse entrou em seu quarto e logo saiu novamente.
Fátima, desolada, foi remexendo nas sacolas que o filho trouxera e encontrou muitos volumes: par de tênis, calças, camisas, bermudas e um boné de marca.
A medida que conferia as peças sentiu uma onda de frio, um arrepio diferente, a respiração ofegante e as pernas trêmulas com o susto. 
E teve certeza de que ele desviara os 500,00 reais de sua patroa porque numa dessas manhãs chuvosas, ela esquecera de pegar a chave da casa de sua patroa.
Naquela noite não conseguiu dormir e estava ansiosa para chegar no trabalho, no dia seguinte.
Ao voltar do supermercado com sua patroa ouviu uma vizinha dizer:
- Comadre, alguém entrou em sua casa no domingo da eleição sem arrombar a porta.
- Foi meu filho, gritou Fátima, repentinamente.
- Como? o que estás dizendo?
E assim a empregada, constrangida, contou de sua desconfiança, quase uma certeza. 
A seguir teve uma crise de choro, abraçou a patroa e pediu desculpas pelo filho.
- Mas Fátima, basta que me devolvas a chave da casa.
-Mas e meu emprego? o que vou fazer da vida ?
- Fátima, não vais perder o emprego.
-Meu filho não será denunciado, já que a vizinha o reconheceu ?
- Não será necessário Fátima.
É preciso dizer que a patroa levou em conta que tinha outros empregados circulando pela casa porque estava fazendo reformas no imóvel. E, de certa forma, foi um alívio saber que poderia seguir confiando neles.
Depois do ocorrido, Fátima se tornou a melhor e a mais fiel amiga de dona Vilma. Revelou-se cuidadosa quanto ao horário dos remédios da patroa e renovou seus esforços para bem servi-la e torno-se mais atenta às ordens dadas.
Por outro lado a patroa recebeu de volta seus documentos, celular, óculos importados e cartões de crédito. Fátima disse ao seu filho que nada aconteceria se devolvesse os documentos e volumes que estavam na bolsa.
Dona Vilma pensou que não seria fácil conseguir outra pessoa dedicada como Fátima. E não seria um transtorno se dispensasse o pessoal da obra, caso não descobrisse o responsável pelo roubo?
A importância subtraída, a curto prazo, representava uma perda.
Mas a mesma quantia, a longo prazo, seria a responsável por outros ganhos mais significativos, como o da amizade posta à prova.
Dona Vilma agradeceu o fato de não estar em casa durante o ocorrido porque qualquer reação dela poderia gerar violência.
O intruso poderia estar munido de faca, canivete ou arma de fogo, já que estava afastado da moral e dos bons costumes.
Dona Vilma escolheu percorrer o caminha da lucidez, da diplomacia e da inteligência E não percorrer o outro caminho: o da raiva ,ódio ou vingança.
Percebeu que ela e todos sairiam ganhando no balanço final.
Tudo voltou ao normal, menos os 500,00 reais, aliás, a menor das perdas.
Quando Fátima recebeu seu pagamento, após esse fato, sugeriu que a patroa descontasse 100,00 reais mensais até completar toda a quantia subtraída. A patroa não aceitou essa ideia e deixou a moça ciente de que não tinha porque se não se preocupasse com isso.
Dona Vilma disse:
- Fátima, já fui paga antes mesmo que percebesse. 
E completou:
-Nenhum carro forte blindado seria suficientemente grande para transportar meu pagamento.
Fátima, comovida, abraçou a patroa e falou:
 - Pode contar comigo,sempre.
O filho de Fátima está foragido e acabou abandonando a casa da mãe para se juntar a um bando de contraventores.
E dona Vilma convidou Fátima para morar com ela, sem prazo de validade e, patroa e empregada, estão juntas até hoje e se tornaram amigas inseparáveis, sempre respeitando as boas regras de convivência. 

                                  KATIA CHIAPPINI 




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