Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 29 de julho de 2014

A VALIDADE DE UM AMOR QUE SE PERDEU!.

      VALE AMAR PARA PERDER TÃO CEDO?
                        ( Para meu pai)
Já me perguntei muitas vezes se vale amar para depois perder uma pessoa querida, tão cedo.
Por que amar se a perda é tão sofrida Será que vale à pena?
Mas a perda é inevitável e imprevisível.
Amei meu pai de todo o coração por sua bondade e carisma. Era um homem benquisto no trabalho, em casa e pelos irmãos. Onde quer que fosse era bem acolhido e nunca fez nenhum inimigo enquanto viveu.
Embora pudesse ter conhecido a primeira neta- e amava crianças-não teve esse prazer. E esse sentimento de lástima tenho eu ao lembrar disso. Papai faleceu pouco antes de nascer minha filha.
Então, fico a pensar nas contradições da vida e em seus inúmeros acontecimentos que não temos como evitar.
Imaginei que levaria meus filhos na casa do vovô. E que os encheria de beijos e abraços e contaria lindas histórias ao redor da mesa da sala de jantar ,ou junto à cabeceira da cama.
Assim como eu que sempre fui amada por ele, meus netos o seriam.
Mas talvez fosse covardia fugir do amor paterno com medo de perdê-lo um dia. E ficar encolhida em um canto qualquer.
Só sabendo sorrir, como tantas vezes o fiz com meu pai, poderia suportar a sua perda. E preciso ter a vida iluminada pelo sol para aprender a suportar a negritude da noite na alma.
É como suportar a dor de uma separação pensando na alegria do encontro. Só que a morte é o maior dos desencontros e bem mais difícil de assimilar, quando se trata de um ente querido.
Só depois de pensar um pouco, meditar com tranquilidade, consegui entender que a dor da perda é parte da felicidade.
Quem perdeu é porque um dia foi feliz. Quem nada arriscou não perdeu mas não ganhou momentos de felicidade.
Em certa ocasião, perdi, antes de nascer, meu primeiro filho. Era jovem e tentei me conformar porque teria outros filhos.
Mas fui feliz enquanto uma vida germinava em mim, enquanto tinha essa expectativa.
Então penso que felicidade e dor não andam muito longe uma da outra. Ambas são parte da vida.
Mas não queria ter perdido meu pai com 55 anos, ainda em  perfeita saúde.  E trabalhando saudável e sem nunca ter ficado de cama por doença, até ser surpreendido por aquele infarto.
Fez um transplante com o Dr Zerbini, em São Paulo. Mas , na época, já se soube que havia restado só um coração de passarinho.
Ficou com falta de ar, a mesma de antes, e percebemos que o caso era muito grave. E durou poucos meses depois disso e veio a falecer.
Mas como saberia eu do seu abraço carinhoso, do afago nos meus cabelos, dos poemas que escrevia e lia para mim, de sua rara bondade?
Como desfrutaria de seu carinho, de sua companhia e de seus conselhos? O que teria para recordar?
Embora tivesse sentido muito sua perda, valeu tê-lo comigo sim, até a inevitável perda.
Há um pensamento lindo que diz:''os barcos estão seguros no porto mas não foram feitos para isso.''
Só estaríamos seguros de perdas e sofrimentos se nada tivéssemos para amar. E temos que viver com o presente maior de Deus que é poder desfrutar do tempo presente: o único que temos. E não ter medo de se arriscar, de mostrar a face para o que der e vier.
E antes de tudo, o amor é essencial para sabermos que não estamos sós. E o amor entre pai e filha é o primeiro elo de uma corrente que se tornará sólida e que será origem de outros amores futuros.
Assim, valeu em minha vida esse amor que sempre tive de meu pai.
Ele não era para mim algo a temer e nunca quis ser. Sempre soube se impor pelo amor e não pelo temor. Ele conversava, aconselhava e argumentava até que eu o entendesse. Nunca precisou me bater e nunca teria coragem de exercer sua autoridade dessa forma. Ele era o equilíbrio emocional da casa porque mamãe era mais nervosa, de gênio forte. Ele sabia lidar com ela que se deixava envolver pela sua maneira firme mas sábia de argumentar, sem levantar a voz.  
Como se aproxima- e já estamos quase em agosto- o dia dos pais- lembrei-me de sua passagem rápida por esse mundo. Mas a dor de perder sua companhia foi, sim, compensada pela felicidade de compartilhar meus melhores momentos com ele. 
Nos primeiros tempos foi muito difícil. Mas, dois meses depois, nasceu minha primeira filha e minha alegria voltou a reinar. Dizem que Deus tira algo e nos dá uma compensação: outro ganho.
E sempre lembro de contar aos meus filhos algumas passagens que revelam a sabedoria de papai e o modo de contornar qualquer problema com calma, sem querer dominar e nem assustar sua família. E falo de sua paciência, sua virtude principal, para harmonizar qualquer circunstância com turbulências à vista.
Nesse dia dos pais vou lembrar, mais uma vez, de que valeu, sim,ter amado meu pai.
E sempre lembro que a perda do primeiro filho também foi superada pelo fato de ter conseguido ter meus três filhos saudáveis.
Amem seus pais enquanto estiverem desfrutando de sua companhia.
E não percam a fé, seja qual for a circunstância.
 Ela é uma aliada e junto com a esperança nos faz mais fortes para qualquer recomeço. 
E recomeçar é saber tomar o rumo da própria vida e almejar pequenos fragmentos de felicidade . E como não se sabe se a vida nos será breve ou longa, pelo menos, vivamos com intensidade o amor filial: base e fundamento de todos os outros que se sucederão.
FELIZ DIA DOS PAIS!

                                KATIA CHIAPPINI 


                                            e-mail:katia_fachinello42@hotmail.com


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