Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 30 de agosto de 2015

DIGUINHO,MEU AMIGO!

                  DIGUINHO, MEU AMIGO

Diguinho era um amigo de família. Seu porte volumoso sugeria um sujeito bonachão, sociável e interessante.
Diguinho gostava de uma boa conversa. Sempre tinha um assunto para dissertar ou uma tese para defender. E amava a boa música.
Meu amigo se queixava que  família não tinha paciência de acompanhá-lo nos serões noturnos, na própria casa, quando costumava ler ou falar de seu dia de trabalho.
Aos 65 anos tinha a saúde debilitada por conta de uma pulmão comprometido, devido ao fumo, desde a adolescência, o que lhe tornava a respiração prejudicada.
Diguinho gostava de ouvir tangos e boleros. E falava com propriedade sobre notáveis músicos, tais como, Gardel ( Uruguai ), Gregório Barrios  (Espanha ), Lucho Gatica ( Chile ),Roberto Luna, brasileiro ( Paraíba ),Francisco Canaro ( Uruguai ) e Astor Piazzolla ( Argentina ).
Diguinho soube que um grupo argentino iria se apresentar em Porto Alegre, sua cidade.
Tratava-se de um espetáculo de tango de renome internacional.
Talvez pelo fato de que era acometido por crises de tosse, que lhe tiravam o fôlego, meu amigo, não conseguia companhia para assistir aos shows musicais.
Então, diante disso, me convidou para ir com ele ao teatro.
Fui retirar os ingressos, antecipadamente, para garantir um lugar na plateia central.
Na noite do espetáculo chamei um táxi e meu amigo veio ao meu encontro com um terno bem talhado e impecável.
Chegando ao teatro tomamos um cafezinho e fomos em busca de nossas poltronas.
Iniciou a apresentação e surgiram no palco os cantores ,a orquestra e os bailarinos perfilados. Por último entrou o maestro sendo muito aplaudido.
Um tango preencheu o espaço e se fez imponente na voz do cantor.
Parecia tudo tranquilo, mas nem tanto. 
Meu amigo, inesperadamente, se dobrou ao meio e começou a ter uma crise de tosse e chamou a atenção de todo o público.
Abri minha bolsa e retirei um vidro de xarope que trouxera.
Alcancei o remédio para o amigo e pedi-lhe que tomasse um gole considerável, pelo gargalo. A codeína, contida no xarope, iria acalmar a crise. E como por encanto ou graça divina se deu o milagre: Diguinho parou de tossir para alívio de todos os presentes
Meu amigo voltou a apreciar o show e nem se mexia de tão atento.
Ao final da apresentação, apertou minha mão entre as suas e perguntou:
- Como foste lembrar do xarope?
E lhe respondi:
- Eu quis garantir o sucesso dessa noite.
Chegando em casa, no mesmo edifício,meu amigo se despediu de mim dizendo:
- Muito obrigada, jamais vou esquecer desse gesto.
E eu, novamente me pronunciei:
- Eu também vou lembrar dessa noite e desse sorriso que observei em teu rosto desde o momento que saímos de casa. E ele ainda te ilumina o semblante.
E Diguinho continuou sorrindo e cantarolando pelos corredores do prédio:
- El dia que me quieras...
E Carlos Gardel também sorriu...

                                      KATIA CHIAPPINI


                                        -EMAIL:KATIA_FACHINELLO42@HOTMAIL.COM


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