Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 31 de março de 2019

HÁBITOS ANTIGOS MAS SEMPRE LEMBRADOS

                       HÁBITOS ANTIGOS
                           MAS SEMPRE                                                         LEMBRADOS

Hábitos antigos fazem parte de uma era de ouro, onde a conquista se revestia de comportamentos tais, que deixavam as damas encantadas.
Levar a dama até a porta da casa, ao chegar de carro, abrir a porta do carro para ela embarcar e para desembarcar, faziam parte dos hábitos socialmente aceitos e relevantes para causar boa impressão.
Pedir licença para levar a dama ao cinema e marcar a hora da volta, se desculpar por alguma falha leve, respeitar  a dama, dialogar a respeito dos fatos comuns da vida, acompanhar a dama em pequenos trajetos, ficar com ela na parada de ônibus, ir buscá-la na rodoviária, eram todas atitudes desejáveis e esperadas, na época de ouro.
No restaurante o cavalheiro puxava a cadeira para a dama sentar e só depois se acomodava. E a dama escolhia seu pedido, antes do cavalheiro que fazia questão de lhe apresentar o cardápio do dia.
Não era de bom tom discutir em público.
O respeito aos pais da namorada era um sinal de educação.
Nos bailes, grandes orquestras entoavam os sucessos de Glenn Miller , Fausto Pappetti, Ray Conniff, Os Velhinhos Transviados, Românticos de Cuba ,Ennio Morricone, Tijuana Brass, Michel Legrand e de muitos outros maestros de renome internacional. 
Os salões eram iluminados, haviam mesas e cadeiras para acomodar o público e serviço de bar, ficava à disposição dos frequentadores.
Os namorados presenteavam suas damas com flores, bombons e perfumes.
Era frequente assistir a uma serenata, que  transformava a noite em magia, quando o conjunto musical acordava a namorada. E essa, surpresa, ia para a janela sorridente.
Havia a hora do flerte, da amizade crescente, da corte à dama, do namoro e do casamento.O noivo pedia a mão da noiva para o pai dela, durante um jantar festivo.
As cartas de amor eram trocadas, na ausência inesperada. E o papel das cartas trazia um perfume e alguma ilustração na margem da página.Escolhia-se a cor da carta e a textura do papal, com carinho.
Ao invés do ataque descontrolado, do atropelo, da invasão repentina, havia todo um período de convívio, onde os passeios de mãos dadas levavam a crer num interesse maior. E a espera, era parte de um contexto estabelecido entre os casais. Não havia tanta pressa de chegar onde hoje já se tornou o começo, pois os valores se inverteram.
Perdeu-se todo o romantismo de antes. Não há cumplicidade e carinho.Não há a amizade verdadeira. Os relacionamentos trazem em seu bojo uma variedade de outros interesses que minam a relação. Interesses financeiros e de fundo emocional, notadamente.
O casal, outrora, tentava permanecer junto e conversar sobre os problemas, tendo por objetivo a reconciliação. Se dedicavam a estudar as circunstâncias para chegar ao melhor resultado.
Hoje, os relacionamentos se desfazem antes do término do segundo ano, entre os jovens. Mas os motivos são fúteis, porque o interesse pela família, pela união duradoura, parece ter se perdido no passado
É claro que se os motivos forem justificados, não vamos querer que os relacionamentos se perpetuem, gerando infelicidade.
Mas, refiro-me a essa onda de troca troca, a essa mania de descartar pessoas como se fossem objetos, ou pior, dejetos.
E a onda de casais em relacionamentos livres e múltiplos, acaba por acarretar situações de periculosidade, seguidas de vingança e morte.
Quisera ser convidada para sentar no banco da praça, para assistir o espetáculo da natureza, ao entardecer, para ouvir o som dos pássaros, presenciar o balanço das folhas da árvore centenária. Quisera assistir o pouso das borboletas na flor, o sorriso do pipoqueiro, o saltitar dos cães, o riso das crianças ao andar de balanço. Quisera estar ao luar, vagando pela areia da praia, sem perigo algum, com alguém especial.
Quisera voltar à era de ouro, onde se podia ouvir nas rádios o som de boleros, tangos e milongas.
E onde os teatros traziam a representação de obras clássicas, de espetáculos de dança deslumbrantes, de excelentes cantores.
Época onde as damas usavam lindas roupas, portavam luvas e chapéus e sabiam andar com elegância e postura de princesas.
O enxoval da noiva incluía camisolas de linho, roupas íntimas com rendas e roupão de seda natural. E lençóis de cetim, com ponto cheio, bordado nas iniciais do nome do casal. 
Hoje,nem se pode andar de mãos dadas porque estaríamos sujeitos a interpretações maldosas. E as redes sociais estão ávidas por ''fofocas'' e não perdoam os incautos. 
Hoje, a evolução não nos permite sonhar .Não há tempo de devaneios. Precisamos nos adequar ao tempo que corre e nos leva com ele.
Não temos mais o lencinho de linho para secar as lágrimas.
Tudo é descartável, provisório: simples nuvem passageira.
Somos artistas de outros palcos, onde o semelhante nos assusta.
Não sabemos em quem confiar. Não nos atrevemos nem a amar.
Quando formos nos dar conta, já teremos perdido o trem da vida, por medo de arriscar.
Mas arriscar ainda é preciso,pois, do contrário,vamos nos culpar por não tentar viver a nossa verdade.. Por deixar escapar nossos momentos de intensidade, onde gostaríamos de viver os mais secretos desejos.
A decisão é de cada um: quem planta amor colhe amor.
Escolha percorrer sua jornada com bravura e persistência.
E que sua alma gêmea, se estiver em seu destino, seja a de melhor semeadura.

                        KATIA CHIAPPINI


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