Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 11 de julho de 2020

TERCEIRA IDADE CANTA E DECLAMA

    
                         TERCEIRA IDADE
                         CANTA E DECLAMA

Um grupo de senhoras de terceira idade costumava ouvir uma emissora de rádio que convidava cantores e poetas para participar de um momento especial . Quem quisesse declamar, cantar, ler uma mensagem, deveria ligar para a emissora e aguardar completar a ligação para participar, interativamente, do programa.
Foi então que conheci Mharisa Só, cantora, Janete Cecim, acordeonista, Ieda Cavalheiro, declamadora, Ilma Almeida, Tânya Maycá, Carmem Costa; cantoras.
Paulo Boanova, apresentador de T.V, era um dos incentivadores dos eventos.
Angélica Queiroz se apresentava com suas duas filhas, entoando românticas canções. Formava-se um lindo trio e valia ver a alegria das meninas.
As senhoras de meia idade passaram a acompanhar o programa que iniciava à meia noite e se estendia até 3 horas da madrugada, inicialmente.
Algumas confessaram que tinham insônia, outras depressão, outras solidão, de modo a se sentirem incomodadas e tristes.
Mas com o decorrer das noites, as damas notívagas iam se sentindo acompanhadas com os poemas e canções.
O repertório era saudosista, dos tempos em que o romantismo era enaltecido nas palavras e gestos.
Tempos em que os namorados presenteavam suas amadas com flores, bombons, perfumes e mimos delicados.
Essas lembranças ficavam presentes a cada música entoada, a cada poema declamado.
O apresentador animava as damas e tinha paciência e aguardava que encontrassem a fita cassete ou o CD  que elas mesmas tinham gravado para participar do programa, ou guardar como lembrança.
Por ocasião do almoço mensal, podíamos prestigiar as nossas damas artistas que se apresentavam, ao vivo acompanhadas pelo violonista da noite de Porto Alegre, nosso querido Silfarnei Alves.
Bruninha, sua filha, ficava na entrada e recolhia uma importância em dinheiro: uma parte para o restaurante e outra para o incansável violonista.
As damas e cavalheiros não precisavam se preocupar em saber se o  tom da música era um dó maior ou um si menor.
 Silfarnei e seu violão se encarregavam de buscar o tom e ir em frente, perseguindo os participantes 
Entre os frequentadoras dos almoços mensais lembro-me de algumas pessoas que prestigiavam todos os eventos.  Carmem Marisa, Jane Ortiz,Beatris Ribeiro Ribeiro, Elena Cordonez, Salgadinho, Adão Madruga, Silvio, Graça Garcia, Ana Maria, Ana Lúcia, Heloisa Mailaender, Maria Rocha, de apelido Lulu, Adélia Sampaio, entre tantos outros. 
Izabel Santamaria, cantora lírica, nos surpreendia com seu alcance vocal e com um repertório impecável, sem reparos.
A radialista e cantora Dilma Rodrigues já tinha vários CDs gravados.
O apresentador e responsável pelo programa da madrugada, na Rádio Pampa, de Porto Alegre, era Dr Venzon, também presidente, por longos anos, da Casa do Poeta, entidade tradicional da cidade.
Nossa fotógrafa oficial era Lourdes Rosa que além de congelar esses momentos a cores, também fazia exposição de seus trabalhos por ocasião dos almoços. E Adélia Sampaio também se envolvia em fixar os momentos das apresentações dos artistas. E conseguia belas fotos.
Por longos anos nos reunimos para essas comemorações e os risos talvez atravessassem a rua de tão descontraídos.
O dono do estabelecimento e esposa assistiam toda a movimentação e aplaudiam as damas e cavalheiros, em suas performances.
Minha amiga Carmem Marisa também tirava umas fotos minhas para que tivesse um material disponível para ilustrar os currículos das coletâneas das  quais eu ainda faço parte.
Ela e eu chegávamos mais cedo para escolher um lugar confortável e ficávamos aguardando a chegada dos demais.
Alguns radialistas amigos de Dr Altair eram convidados para participar desses almoços. Costumavam se pronunciar ao microfone, se apresentar ao público e divulgar seus programas radiofônicos. 
Damas se perfumavam para o evento e escolhiam um figurino bem apropriado para se sentirem mais rejuvenescidas e gratificadas com os elogios que iriam merecer.
Ainda encontro algumas pessoas dessa época, outras me comunico pelas redes sociais, outras ainda habitam minhas lembranças e trazem sensíveis recordações.
Eu me apresentava, iniciando o programa, com uma peça musical, ao som do piano. E recebia a aprovação dos ouvintes e do apresentador, com o qual falava um pouquinho sobre o estilo da música que iriam ouvir.
Foram eventos especiais para todo o grupo: um momento único, misterioso, alegre e feliz.
Aprendi que em qualquer idade precisamos nos permitir atuar, ,acrescentar mais vida ao nosso redor, nos comunicar e buscar qualidade na existência, através das amizades. E, talvez, ser receptiva a um amor maduro e muito paciente, porque ciente de nossas limitações e implicâncias justificadas.
Dona Ruth, por exemplo, conheceu um senhor, nessa ocasião, e veio a se casar, pouco tempo depois de conviver nesse universo de empatia, respeito e cumplicidade.
Hoje, descobri um CD de Ilma Almeida, com músicas de seresta, seletas, e ao ouvi-lo me veio, bem nítida, a lembrança dos programas radiofônicos para damas de terceira idade , bem como, recordei, com saudade dessa convivência harmoniosa.
E o CD de Ilma Almeida vai se juntar aos meus discos preferidos,para tranquilizar meu espírito, na hora de dormir.
Esse é um hábito antigo que tenho, de modo que passo do estado de alerta para um sono reparador.  Quase sem perceber, a música preenche a minha alma e acorda só os melhores sonhos que desejo ter. 

KATIA CHIAPPINI

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