Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 19 de março de 2024

LEMBRANDO GESTOS DE OUTRORA

      LEMBRANDO GESTOS DE OUTRORA 



A donzela choramingava e ensaiava um choro pálido só para ver se o cavalheiro iria lhe alcançar um lenço para conter as lágrimas. Mas, não o fez.

O carro parou e a donzela permaneceu no carro e aguardou para ver se o cavalheiro iria se dar conta de oferecer seu braço. Não se prontificou.

Havia um tempo em que o namorado acompanhava a dama até a porta de casa e só depois voltava para dar partida ao veículo.

Um tempo em que o cavalheiro esperava na rodoviária pela moça a quem oferecia carona.

Um tempo em que a conta do restaurante era paga pelo cavalheiro.

O namorado incorporava os hábitos da família e visitava a namorada nas quartas- feiras e aos domingos.

Nesse tempo, o namorado acompanhava a namorada à missa dominical, junto com a família dela.

Os costumes eram outros em toda a sociedade.

Os donos de mercados pequenos aceitavam vender fiado. E a conta era cobrada aos finais de cada mês.

As casas permaneciam com portas e janelas abertas durante o dia.

Ao amanhecer a dona de casa já liberava a entrada para receber o jornal, o leiteiro, o açougueiro, a assinatura da revista chamada de Seleções, contendo assuntos diversos.

Cruzeiro e Manchete eram as revistas da época de minha vovó. Eram semanais e de folhas grandes e bem ilustradas.

Os vizinhos se encontravam na hora do chimarrão e a reunião era feita nas calçadas em frente da casa.

As crianças ficavam brincando de amarelinha, de esconde-esconde, de pular corda e de brincar de roda.

Durante as refeições a família toda se reunia e o chefe da casa sentava na ponta da mesa. Era o primeiro a ser servido e a dona da casa servia todos, antes de se servir.

Havia máquinas manuais para confeccionar as roupas que eram feitas em casa. Todas as mulheres aprendiam costura, bordados e trabalhos manuais diferenciados.

Não acontecia das damas de sociedade se depararem com o mesmo vestido nas festas de gala.

Os hábitos se modificaram em nome da modernidade.

O romantismo se perdeu e as relações amorosas se modificaram

O momento é outro com sua evolução científica e tecnológica, com novas descobertas e possibilidades.

Mas as conversas com as comadres ao entardecer, as visitas feitas regularmente aos amigos e familiares tomaram outro rumo.

Entre um e outro modo de proceder, em qualquer ocasião, precisamos retornar às origens, ao abraço carinhoso, â visita aos nossos avós e padrinhos.

Mas, os tempos mudam, as pessoas mudam.

E sempre é tempo de rever conceitos, viver praticando o bem, buscando a cumplicidade amorosa, mantendo o respeito aos pais e professores.

Se a família se desmembrar, não sabemos como serão nossos filhos e netos.

Talvez fiquem perdidos sem parâmetros a seguir, sem ambições saudáveis, sem vida interior, sem identidade.


KATIA CHIAPPINI

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