Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DEPOIMENTO !

     UM DEPOIMENTO INSTIGANTE 

- Namorei uma menina quando eu tinha 21 anos de idade onde os primeiros amores se vinculam às primeiras ilusões.
- Continue, sim ?
- Fui responsável pela imensa tristeza que percebi em seu olhar e que tomou conta de mim
- O que aconteceu ?
- Eu a traí e contei a ela esse deslize
 - E concluiu o que ?
-Ao perceber aquela tristeza no lindo rosto e as lágrimas incontidas jurei a mim mesmo nunca mais testemunhar essa cena.
- Então está me dizendo que esse fato repercutiu em sua vida?
 - Sim, tanto que não fui infiel nos outros relacionamentos que tive
Enquanto Ricardo teclava percebi a veracidade de suas palavras pois poderia ter escolhido muitos outros assuntos para discorrer, naquela noite.
Com certeza lembrou do sorriso sumindo do rosto da menina, do corpo se encolhendo, das mãos se movimentando inquietas, dos passos cambaleantes, do amor se esfacelando, do suor frio se infiltrando na pele e das lágrimas teimosas jorrando e entristecendo o rostinho lindo que já merecera tantos beijos apaixonados.
Tentou abraçar a menina mas ela o repeliu e nunca mais atendeu aos seus telefonemas e mensagens.
Procurou-a, sem êxito, por longo tempo. E o fato de não ter tido a chance de se desculpar, o deixou abalado e contrariado.
Um caso mal resolvido tem o poder de tatuar nossa alma e a lembrança vai e volta, tantas vezes quantas o coração solicitar.
Ricardo, esse amigo, viveu outro relacionamento pelo período de 12 anos e , em momento algum, traiu a confiança da companheira.
Houve a separação, sim, mas a decisão foi consciente, de comum acordo.
Penso que gente de boa formação e de bons princípios adquiridos no seio do lar deveria agir sempre com sinceridade.
Se assim fosse feito restaria, ainda, o ombro amigo e a disponibilidade para auxiliar o outro nos momentos de dificuldade.
Mas não é fácil agir sem atalhos e artimanhas. Ainda se desrespeita o parceiro sem grandes crises de consciência como se normal fosse.
Sabemos que a carência leva o ser humano a enganar e manter uma vida dupla que vai estacionar numa rua estreita ou num beco sem saída.
O ser humano não quer perder o que chama de vantagem: manter a mulher que o espera todos os dias com as refeições prontas e a roupa passada e , ao mesmo tempo, a amante, que por sua vez vive à sombra, cheia de restrições.
E as aventuras passageiras parecem liberar a adrenalina, a endorfina, como o prazer da conquista.
Mas quando passa a tempestade da alma, quando a razão se faz ouvir, já não somos mais os mesmos : as sequelas se multiplicam.
Libertamos a libido para absorver uma pseudo superioridade, em estado latente, que inflama o Ego, mas que acaba por torná-lo inseguro, sem dirimir a própria culpa e os transtornos que isso acarreta para uma vida plena.
Talvez com esse desabafo Ricardo tenha se aproximado mais de si mesmo e da promessa de não praticar nenhuma traição amorosa.
Esse depoimento me impressionou porque, nos dias de hoje, onde as pessoas se tornaram descartáveis, ainda há quem queira mostrar sua transparência e sinceridade, a quem diz amar.
Hoje, aos 42 anos, mantém esse comportamento confiável. Mas sabe que não pode comentar isso com seus amigos sem que seja vítima de risos abafados, de palavras cheias de sarcasmo.
Homens casados se vangloriam , a todo momento, de sua masculinidade e do número de parceiras que constam em suas agendas pessoais. E justificam suas conquistas etéreas com a seguinte frase:
- Isso nada representa para mim.
- Quem acreditaria em Ricardo, dentro do atual contexto ?
Parece que os casais se contentam em brincar de amor, em não se prender às responsabilidades, em viver o momento sem se preocupar com a provável solidão, num futuro próximo.
Não raro encontramos um grupo de homens sentados na mesa de um bar, onde os risos fétidos exalam cachaça e as caras vermelhas denunciam que estão embriagados.
 E se chegarmos mais perto ouviremos comentários levianos a respeito s das mulheres com as quais coabitam e talvez elogios às amantes.
E as juras de amor já perderam seu sentido e são ditas, por dizer, como um verso decorado que se deve declamar para cumprir uma formalidade, mesmo porque nem o entendemos em seu real sentido.
E ser fiel se tornou a piada mais hilariante desse século.
- Você também achou graça ?

                                         KATIA CHIAPPINI
                           Email:katia_fachinello42@hotmail.com 

 DEPOIMENTOS SÃO ATOS DE CORAGEM !
KATIA

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