Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 7 de setembro de 2013

A VITRINE !

                  A VITRINE REVELADORA

Gina era uma estudante universitária, quando se deixou cortejar pelo professor. Resistiu aos seus galanteios por um certo período de tempo e se deixou levar pelo interesse da família  em relação a esse namoro.
Gina era uma moça criada no interior, uma jovem de 16 anos, cheia de amigos, com a beleza própria da idade, com todo o vigor físico e os impulsos do coração. Queria acertar ou errar por conta própria, mas, ao mesmo tempo, preservar os princípios de uma educação tradicional. Mesmo que prestasse atenção ao professor, observava outro jovem que teimava em lhe cortejar.
O professor, por outro lado, mais atento, soube se insinuar até convencer a moça a aceitar a sua corte. O fato é que vieram a se casar e Gina teve três filhos desse relacionamento.
O admirador fiel, cansado de esperar por ela, também constituiu família. Mas Gina sempre soube que era amada por esse jovem.
Certa ocasião, disse a ele que se rompesse com a então namorada, aceitaria sua corte. Ele  convidou-a para caminhar, e sem que Gina soubesse, passou, de propósito em frente a casa da namorada que o esperava no portão.
Gina ficou envergonhada e se retirou do local e depois desse dia não conversou mais com seu admirador. 
Gina tomou a decisão de permanecer casada e se dedicar aos filhos.
Em sua linha de raciocínio, para preservar seus princípios recebidos no seio de um lar cristão, não poderia cogitar de se separar.
Mas a verdade é que se decepcionara com o marido já nos seus primeiros anos de casada. A diferença entre eles era de 20 anos e o marido se mostrou autoritário, ciumento, pouco sensível aos seus anseios.
Gina  formou-se em Letras e veio a lecionar as disciplinas de Língua Portuguesa e de Língua Francesa. O trabalho passou a ser sua terapia e afastava um pouco os desmandos do marido.
Como se casou bem jovem, não percebeu nos traços da personalidade dele, esse misto de prepotência e pedantismo e mesmo o descaso que sofreu desde os primeiros anos de casamento.
Mas a vida segue seu curso e nos reserva surpresas.
Certo dia foi atender o telefone e reconheceu a voz  do antigo admirador dos tempos de Escola Normal. Ele não se fez de rogado e foi logo querendo saber como estava Gina e passou a indagar fatos de sua vida.
Muitos anos tinham transcorrido e os filhos de Gina e os do antigo namorado estavam adultos. Gina respondeu laconicamente e sem nenhum pretexto desligou logo.
Passados alguns dias atendeu um novo telefonema. Era ele comunicando que soubera, um a um, do nascimento dos filhos de Gina e que nunca tinha deixado de acompanhar a vida dela e todos os seus passos.
Dessa vez Gina não desligou logo porque percebeu que ele não era feliz  e nem dono de si mesmo, por inteiro. Deixou-a perceber que seu casamento era só de ''fachada''. É como  se quisesse dizer que sua alma tinha ficado no passado, quando a conheceu.
Em dado momento Gina pediu que não voltasse a ligar e se despediu do seu, ainda, admirador.
Algum tempo transcorreu e Gina se dirigiu ao Shopping da cidade.
Estava olhando a vitrine de uma grande loja e nela os vestidos da nova coleção de verão. Ao fixar os olhos na vitrine, ao invés de apreciar a mercadoria, viu a si mesma. E, para seu espanto, reparou na imagem de um vulto refletida na vitrine e olhando para o lado percebeu que era ele, sorrindo para ela.
Em seu pensamento voltaram as lembranças dos dias de faculdade, dos passeios com as amigas de classe, quase sempre, tendo a companhia do admirador. Percorriam a praça central, frequentavam a confeitaria dos estudantes, as festas da escola, os bailes da primavera e a balada nos finais de semana.
Pensou :
 - Quem sabe se minha felicidade não estaria depositada nos braços desse rapaz ?
Voltou ao presente, rapidamente, lembrou agora de seu casamento e dos muitos dias de tristeza que a cercavam. E de um marido desatento que , infelizmente, era o seu.
Era possível constatar a diferença entre ambos, mas impossível prever acontecimentos futuros, se ao casar era quase uma criança.
Depois fixou os olhos pensativa no rapaz ao seu lado,,junto à vitrine da loja. Esse aguardava uma oportunidade para se manifestar e Gina ouviu-o dizer :
- Diga para mim por que razão está tão distante ?
-Estou bem, obrigada, e você ?
Parecia um pouco nervoso com a visão de sua eterna musa, quando falou: 
-Deixe eu confessar algo que guardo comigo e depois disso prometo não mais te perturbar.
- Sim, estou atenta.
O rapaz foi ficando com as faces rubras, levemente trêmulo, e depois de um breve silêncio, enquanto admirava  Gina, colocou as próprias mãos, sobre os ombros dela e ouvindo a aceleração do próprio coração, disse, finalmente, a frase mais surpreendente, que se possa dizer a uma mulher já madura, porque agora, já era mãe e avó.
E a frase ecoou límpida, calando todas as outras; 
- Gina, quando eu parti para a minha lua de mel foi você que levei comigo!
Gina apressou o passo preocupada com os transeuntes. E se ouvissem esse desabafo ?  Em cidade do interior, onde todas as famílias se conhecem, basta um pequeno comentário para ferir a honra de uma mulher e desmoralizá-la sem que haja volta.
Enquanto se afastava não pôde deixar de ouvir a mesma voz, agora quase um sussurro, concluindo : 
- Gina, hoje e sempre eu a levaria de novo !

                                     KATIA CHIAPPINI
                       e-mail: katia_fachinello42@hotmail.com






4 comentários:

  1. A VITRINE COMO PANO DE FUNDO DE UM ENCONTRO REVELADOR.

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  2. A VITRINE FEZ BROTAR OS SONHOS DE JUVENTUDE.

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  3. Katia, como justificar que situações assim aconteçam.... a vida desencontrada. Escreves cada dia melhor, parabéns.

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  4. Querida,isso só quer dizer que não estamos aqui por acaso e o destino nos procura para dar recadinhos, as vezes,não tão agradáveis, mas sempre parte de nosso aprendizado nessa terra.

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