Aquarela de poesias

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Poesias para você

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

BONS TEMPOS !

                   TEMPO DE FACULDADE!

Costumava intercalar temporadas de um convívio familiar na estância de meus tios em Livramento, com as temporadas de verão, na praia, junto aos meus pais e irmão. Esse foi um tempo feliz.
Depois entramos na adolescência e intensificamos os estudos. Logo veio a idade adulta e durante a mesma tive outros momentos felizes que se reportam ao convívio na faculdade. As colegas tinham sonhos, ambições e uma certa ansiedade de conseguir um lugar ao sol. Nessa época tive amigas inseparáveis e uma turma confiante e
 identificada com os compromissos assumidos. Lembro de um diálogo que tive com elas :
- Katia, você não acha que chegou a hora de namorar ?
- Não me vejo tão apressada, nem considero que seja urgente.
- Mas não pensa que podemos ficar para ''titia''?
- Quando chegar o momento o candidato vai se apresentar a mim.
- Sim, mas vamos ao baile da Arquitetura ?
- Claro, está combinado.
Interessante foi constatar, anos depois, que nenhuma de minhas amigas havia se casado e que estavam se aperfeiçoando em suas profissões, preferencialmente.
Eu, de temperamento tranquilo, encontrei meu namorado e marido, quando fui ler a lista de conteúdos programados para o vestibular, sua data e horário.
Olhando para a lista afixada na parede e sentindo outro olhar, ao meu lado, conversa vai e conversa vem, consegui minha primeira carona até minha casa. Convidei uma amiga que ficou depois de mim, em sua casa.
Estudamos junto para o vestibular .
Casei durante o terceiro ano de faculdade.
Papai me disse, certo dia, essas palavras:
- Katia, minha filha, já estás formada em Pedagogia
- Sim, meu pai.
- Sabes que faltam 15 dias para o vestibular de Direito ?
- Mas papai, estou lecionando e seguindo uma carreira.
- Eu sei, mas podes tentar, com certeza.
 - Mas o que você tem em mente ?
- Bem, a primeira faculdade foi para adquirir qualificação e a segunda pode ser para arranjar marido.
E, realmente, o marido se apresentou a mim, no primeiro dia, como relatei.
Estou a lembrar do ambiente sadio e culturalmente intrigante, onde nossos conceitos eram postos à prova, a todo instante. Os professores eram admirados por sua postura .Ao entrarem no recinto, levantávamos para cumprimentá-los. Após formados, haviam encontros anuais e festivos, ao final de cada ano.
O ambiente universitário é um modo de ensaiar para enfrentar os desafios da vida cotidiana.
Em minha casa, onde nos reuníamos para estudar por ocasião das provas, era servido um lanche reforçado, no meio da madrugada.
Eu não dizia o que estava preparando e intercalava o lanche trivial com sopas, pizza caseira, omelete e outras guloseimas.
Era comum emprestarmos os cadernos aos alunos que, por motivo de força maior, não frequentavam algum dia de aula. Os professores atendiam até no intervalo e seguiam, sentados em suas mesas, a dar explicações para que não ficássemos com dúvidas.
Tive um colega de 55 anos, prefeito de uma pequena localidade no interior do Estado. Ele ficava uma semana em Porto Alegre, frequentando as aulas, e outra em sua cidade,atendendo na prefeitura. E se formou em tempo hábil.
Houve um tempo em que briguei com o primeiro e único namorado, colega de aula e marido. Então pedi que assistisse as aulas em turno inverso, o que era possível, na época. Mas descobri que ia todas as manhãs, no meu turno, durante o recreio, para ver onde eu estava e seguir meus passos.
Nessa época os trotes não eram agressivos. Desfilávamos cantando e pintados pela rua da praia, em perfeita e total harmonia. Éramos recebidos pelos professores, perfilados, no pátio da faculdade com uma salva de palmas e abraços de confraternização.
Os cursos não eram feitos por disciplina. Iniciávamos juntos e nos formávamos juntos, numa única colação de grau.
Era um tempo feliz e de maior apoio, de amizades sinceras, de professores idealistas, de bailes afinados por excelentes conjuntos musicais. Tempo de rodar pelo salão em ritmo de valsa, bolero, samba, tango, milongas, xotes e chamamés. Era tempo de conviver com homens românticos, de flores, perfumes, bombons de gramado, cartas manuscritas, diários, declarações de amor ensaiadas no melhor estilo e serestas que acordavam o bairro todo.
Era um tempo em que se visitava os pais da noiva que eram convidados para jantar num bom restaurante.E isso fazia parte do conjunto de amabilidades.Era tempo de pedir permissão para namorar a moça e de combinar o horário de deixá-la em casa.
Era tempo de prolongar a lua de mel, do casamento na igreja, do 
curso de noivos, de desfilar no tapete vermelho em direção ao noivo ansioso, porque o atraso da noiva era um fato comum.
Um tempo de sedução e de sentir a mulher não só como fêmea, mas como uma pessoa por inteiro, em sua essência. E,fundamentalmente, como companheira e cúmplice de todas as horas.
Estou finalizando com um pensamento que gostaria de compartilhar com os leitores :
- Ha quanto tempo não se deixam envolver pela beleza de um entardecer, num banco de praça, olhando para a leveza dos passarinhos, ao tentar se equilibrar no fio de luz ?

                                  KATIA CHIAPPINI


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