Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 19 de abril de 2014

APARÊNCIAS: NADA MAIS

                         APARÊNCIAS!

Certa ocasião morei num prédio situado num local privilegiado.    Havia apenas um apartamento em cada andar. Lá fiz uma festa de 15 anos para uma das filhas e conseguimos colocar 80 jovens, colegas de curso, na sala de visitas. E nem parecia tão cheia quando se observava o ambiente.
Meu quarto, o de casal, era imenso, com armários embutidos, bem como a parte elétrica.
Mais impressionante era a vista da Praça da Matriz, do Teatro São Pedro, da Catedral, da Assembléia Legislativa, do Tribunal de justiça e do Palácio Piratini.
Vislumbrávamos a vegetação imensa, com árvores frondosas, os monumentos históricos, as pombas procurando restos de pipoca que as crianças deixavam cair no chão.
O pipoqueiro era uma figura folclórica, com um violão desafinado, mas que servia para que pudesse cantar as modas de viola, com aquela voz estridente que o sorriso feliz compensava.
Os pássaros se penduravam nos fios de luz, os cães passeavam faceiros com seus donos, a garotada circulava de bicicleta ou sentava nos degraus dos monumentos para ouvir música e conversar, distribuídos em tribos diversas.
Ao entardecer tínhamos o espetáculo do pôr do sol para deleite dos olhos e encantamento da alma.
O edifício é de esquina. E eu morava no oitavo andar. Por todos os lados que olhássemos tínhamos a paisagem da natureza que nada supera e as edificações mais importantes do centro histórico.
Os moradores desse prédio tinham uma certa importância, ou por ocuparem cargo político, ou por serem bem remunerados e possuírem propriedades ou terrenos. 
Eu era a moradora mais modesta: uma simples professora. Mas, com a graça de Deus, privilegiada por amar minha profissão, obter o reconhecimento e nunca visar ,antes, o vencimento mensal. E me colocar a serviço da missão de ensinar e formar jovens autênticos e voltados para o bem.
Morei alguns anos nesse prédio de uma certa imponência, com suas colunas de mármore altas e colocadas na sustentação do mesmo.
Hoje, tempos depois, mora o senhor prefeito da cidade de Porto Alegre.
Eu já não moro mais lá porque o aluguel sofreu um reajuste considerável e precisamos tomar nossas providências a tempo.
Mas vejam, apesar do conforto convidativo, da paisagem que se descortina, do luxo dos apartamentos e de sua ampla metragem, apesar de tudo, o prédio se encontra desvalorizado e com aparência de desleixo.
Logo, três apartamentos foram postos á venda.
A situação se tornou tensa, no momento atual, porque o prefeito tem sofrido represálias. Ha reivindicações de toda ordem sendo feitas, concentrações de estudantes, de trabalhadores . E alguns assuntos são vinculados à prefeitura.
Isso fez com que fosse necessário cobrir com tapumes as vidraças da frente do prédio, depredadas durante esses movimentos.
Até uma bomba explodiu na frente do prédio e fez com que o prefeito tomasse a si a iniciativa de solicitar proteção ao governo do Estado: quis policiamento ostensivo nesse prédio onde mora com a família.
Nesse contexto, como sou desapegada aos bens materiais, agora moradora de um prédio mais simples, agradeço a Deus o fato de não estar mais naquele local. 
Também tenho a vista da Igreja das Dores e do Cais do Porto, aqui, onde estou morando agora. E muito sol, além do espaço que me é suficiente.
Então, o prédio que eu tanto gostei de habitar , ao se desvalorizar, perdeu a confiabilidade.
Onde estou agora, eu comprei um dos apartamentos à vista, já aos 70 anos. E tenho esse bem para deixar aos filhos.
Temos que dar importância aos valores, princípios e bons exemplos.  É o que vamos deixar de fundamental aos descendentes.
Que ninguém brigue pelos bens materiais que eu possa, no futuro, eventualmente, deixar. Prefiro que chorem pela minha ausência por me apreciarem como um ser humano que soube compartilhar o pouco que teve.
Se eu tivesse comprado aquele apartamento e financiado em longas prestações, só pensando em ter um ''status',' já teria me arrependido.
Além de estar com a dívida estaria descontente com os crescentes atos de vandalismo e ainda sujeita a arcar com parte das despesas dos danos ocasionados, advindos desses lamentáveis atos. 
Então, não se deixem levar pelas aparências: são apenas ilusões.
E essas, a qualquer tempo, podem se extinguir por motivos que independem de nossa vontade e interferência.
Assim, não dê aquele'' passo maior do que a perna'' ou'' não vá o sapateiro além do sapato,'' como dizem esses dois ditados antigos e bem apropriados a esse fato, hoje relatado.



                                KATIA CHIAPPINI



                                  E-MAIL: KATIA_FACHINELLO42@HOTMAIL.COM



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