Aquarela de poesias

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Poesias para você

quinta-feira, 17 de abril de 2014

NOSSOS IDOSOS

     
                                  IDOSOS!
       

Hoje,16 de abril, quarta-feira, ano de 2014, Porto Alegre, Rio Grande do SUL, deu-se a regulamentação de uma lei que irá dar proteção aos idosos.
Se o idoso necessitar defender seus direitos irá recorrer aos profissionais aptos para desenvolver esse trabalho de cunho social a ser feito na instituição em pauta. Deverá registrar ocorrência contra maus tratos sofridos, perda da liberdade de ir e vir, solidão  ou depressão. A lei deverá aplicar as penalidades exigidas em cada situação.
Mas o que ocorre na prática é que o idoso se submete ao descaso que vem sofrendo só para não ser afastado do seio da família.
Mesmo que por vontade própria ajude a custear despesas de filhos e netos, mesmo assim, não se vê valorizado nem reconhecido.
Os idosos criam e educam 7 ou 8 filhos, por exemplo, mas nenhum deles se prontifica à assumir os cuidados que o familiar necessita a certa altura da vida. Sem vez e sem voz sofre discriminações de toda ordem dentro ou fora do grupo familiar. 
Você deve ter presenciado um idoso caindo, de um lado para o outro, dentro do ônibus, quando esse dá uma arrancada violenta, ou quase deixando uma perna suspensa ao descer da condução. Ou  sendo xingado no trânsito por andar com lentidão.
Conheci um jovem formando em Medicina que não convidou seu avô para as festividades de sua formatura.
Mesmo assim, inconformado com o fato, o idoso se preparou e pediu que o levassem ao local.
Quando lá chegou, já no salão do jantar festivo,o neto reparou que ele estava entrando, olhou bem para o avô e disse:
- Mas o que o senhor acha que veio fazer aqui?
O idoso não respondeu, disfarçou as lágrimas desviando o olhar do neto, caminhou em direção à saída, chamou um taxi e voltou para casa.
Certa ocasião conheci uma senhora que perdeu sua mãe, ainda uma jovem senhora : tivera um câncer fulminante.
Levou o seu pai, um viúvo bem sofrido, para morar com ela.
Mas sempre que  esse se acomodava para ver televisão, uma das netas desligava o aparelho ou mudava de canal.
Para não entrar em atrito com as filhas, essa senhora colocou o seu pai no quarto da empregada, agora vago. E o idoso lá passava os dias para não incomodar ninguém, tendo como companhia uma televisão antiga, sem cor e nem brilho e com um ruído no som.
Com o decorrer do tempo foi se sentindo pouco à vontade e acabou pedindo que o levassem para um quarto de hotel, no centro da cidade.
Lá foi ainda pior. Não havia geladeira e nem ar condicionado ou uma cadeira para se acomodar e ler o jornal.
Havia só uma cama e um roupeiro no quarto minúsculo. E o banheiro era coletivo e no fundo de um corredor.
Então esse senhor passava as tardes sentado num banco da praça da matriz observando o movimento das folhas das árvores, o canto dos pássaros, a cantoria do pipoqueiro que se distraía com seu violão.
Ria para as crianças que brincavam no escorregador ou se balançavam com a ajuda de suas mães. Acariciava os cães cujos donos lhe permitissem fazê-lo.
E, se por acaso outro senhor idoso lhe desse atenção desfilava aquela ladainha de suas mágoas acumuladas.
As netas e a filha não o visitavam nem para levar algumas frutas ou uma cuca apetitosa ou uma barra de chocolate.
Eu fui visitá-lo  num dia em que me encontrava pelas imediações porque conheci o casal na casa da filha, tempos atrás.
Ao me ver ali, sentada aos pés da cama, se emocionou e chorou bem mais do que falou. Se queixou do abandono em que ficara depois da morte de sua mulher, assim, tão repentina. E disse-me que nem teve tempo para absorver sua solidão.
Então, penso que o abandono familiar não deixa muitas opções. Mas a Delegacia do Idoso vai atender os casos de violência, os mais graves, os que saltam aos olhos e que fazem até a vizinhança se manifestar e denunciar. Embora me pareça apenas uma pequena providência dentro de todo um contexto triste e desumano.
Sabemos que o idoso aceita esse menosprezo para estar em família, pelo menos, quando se comemoram as festas de Natal e Ano novo.
Tentam retardar sua ida para o asilo. E se o idoso passar,em vida, sua casa própria para o nome dos filhos, não é raro constatar a venda desse imóvel à revelia dele. Também, esses filhos, forjam um atestado médico ( falso ) determinando a incapacidade do idoso para gerenciar seus bens. Então, diante do exposto, o juiz aceita o pedido e defere em favor dos filhos sem escrúpulos.
Quando instalado no asilo, o familiar vai, mensalmente, acertar o pagamento na secretaria, e nem se dá ao trabalho de visitar o idoso.
E o familiar entra e sai da instituição com seu carro de luxo ileso, pelo menos enquanto a vida não lhe cobrar juros.
E a própria consciência continua desprovida de dignidade, de consideração, de compaixão e de amor.
Mas esse é um cidadão, aparentemente, de bem, bem posto na vida, bem apadrinhado, bem pago, bem viajado.
Mas nunca será bem-vindo por aqueles que conhecerem seu verdadeiro caráter.
      

                                       KATIA CHIAPPINI
   







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