Aquarela de poesias

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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

DIA 17 DE FEVEREIRO: ANIVERSÁRIO DE MAMÃE

      DIA 17/2:ANIVERSÁRIO DE  MAMÃE

Hoje, dia 17 de fevereiro, se comemora o aniversário de nascimento de minha mãe: Eulália Chiappini. Se estivesse viva estaria completando 94 anos de idade. Deus lhe deu a chance de viver até os 90 anos, junto a mim, a todo o momento, no final, pela necessidade da doença. Ontem lembrei e rezei por ela e desejei que esteja sempre comigo. Ainda preciso dela e gosto de pensar que, de onde estiver, está me protegendo.
Estou na praia de Torres, onde mamãe adorava estar, com a família.
Costumávamos comemorar seu aniversário num restaurante que dava vistas para o rio e onde se vislumbra o céu pela janela envidraçada. Eu reunia seus filhos e netos e procurava deixar o ambiente agradável para que seu rosto se iluminasse num sorriso lindo e os olhos brilhassem,verdes e belos.
Mas estou a lembrar como é real a carência na terceira idade. E como se reveste de um valor especial qualquer gesto de carinho.
Vou relatar um fato que nos dá uma pálida ideia dessa afirmação.
Meu filho precisou comprar terno e gravata para comparecer a um evento social que exigia boa apresentação.
Mamãe se prontificou a dar a roupa de presente e nos dirigimos para a loja de trajes sociais masculinos.
Ao chegar fomos atendidos por um vendedor muito educado e prestativo. E mamãe gostou dele, de imediato.
Estávamos, meu filho, minha filha ,minha mãe e eu. Percebemos que o vendedor se ausentou para voltar com vários cabides portando ternos. E os colocou no balcão próximo a nós.
Enquanto meu filho se dirigiu ao vestiário para experimentar as peças, fomos brindados com uma xícara de café expresso, servido por essas máquinas fantásticas. E mamãe acomodou-se numa cadeira confortável. E o vendedor discorria sobre a qualidade dos tecidos, sobre o que estava na moda para os jovens e sobre a tradição da casa. E assim falando acabou por sugerir que mamãe comprasse uns dois ternos completos, dois pares de calças avulsas, gravata, camisa branca e um par de sapatos. E tratou de repetir o cafezinho. E esse tratamento vip fez de mamãe uma pessoa sem resistência e acessível a qualquer sugestão.
Quando nos demos conta, o filho saiu com todas as peças que o vendedor havia sugerido e mamãe assinou um cheque e mal olhou o valor total. E meu filho havia escolhido um par de sapatos de cromo alemão.
Levamos mamãe em casa, agradecemos os presentes e a deixamos com um ar de satisfação indescritível.
No ano seguinte, meu filho pensou em comprar só mais um par de sapatos, menos imponente, que combinasse com as calças avulsas que comprara. E mais uma gravata e uma camisa branca.
Minha mãe se arrumou toda e fomos buscá-la para mais uma ida às compras com meu filho.
Fomos no mesmo estabelecimento. Mamãe, imediatamente, olhou por diversas vezes para todos os lados. Não conseguiu fixar o mesmo vendedor do ano anterior. Ficou decepcionada e agitada.
Soube que a loja tinha transferido esse vendedor para outra de suas filiais. Um outro vendedor atendeu mamãe. Era sério, de poucas palavras.
Meu filho tratou de escolher, rapidamente, um par de sapatos e se deu por satisfeito. Percebeu que mamãe demonstrava inquietude e que não estava à vontade. Andava de um lado para outro.
Tratamos de finalizar a compra, sair da loja e deixar mamãe em casa. Essa estava quieta e bem séria.
Quando a deixei na porta de casa e fui me despedir, mamãe disse:
-Minha filha, a loja já não é mais a mesma.

KATIA CHIAPPINI 



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