Aquarela de poesias

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Poesias para você

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DEPOIS...

                                   DEPOIS...

Depois pode não acontecer, o ser pode dobrar a esquina, pode causar arrependimento, pode travar os sentimentos, pode acumular frustrações.
Depois o amor não vai se render às belezas do rio e do mar.
Depois o cavalo branco do Príncipe Valente vai ficar velho e cansado e ele não vai chegar. E teremos perdido o frescor da juventude. Só restará  a dúvida da idade madura.
Não deixe tantas coisas para depois. Você vai se perguntar porque não fez o que queria fazer. E vai chegar à conclusão de que deveria tê-lo feito. E feito muito mais...
Depois se perde o rumo, se altera o planejamento, some todo o encanto, termina o licor caseiro, esfria a xícara de chá importado, termina aquela safra especial de vinho envelhecido.
Depois os pássaros vão atacar os figos que você pretendia colher para fazer doce.
Depois a hora muda, o humor se transforma, a janta espera à luz de velas e em vão. E aquela tainha recheada não será saboreada.
Depois a oportunidade escapa e a idade avança cortando vales e montanhas, para terminar num beco sem saída.
Depois o sentimento represado perde a força e cai no poço da insegurança para se  esvair em prantos. E vira água parada!
E quanto maior for a indecisão maior a probabilidade de se perder um amor grandioso que vai acabar sendo esquecido ou desacreditado.
Depois a cortina se fecha, os atores saem de cena e os planos feitos caem por terra.
E as promessas, tão repetidas como certeza, se tornam sem sentido. 
Depois as faces coradas perdem o viço, as flores murcham no jardim, as fotos são guardadas em gavetas enquanto uma lágrima escorre pela moldura dourada.
Depois de uma longa espera, a desesperança se instala e o amor se despede do palco e vai procurar outro cenário. E esse, com novos personagens que não se recusem a acolhê-lo.
Depois do desalento a paixão se recolhe primeiro e logo depois o amor.
E o ser se tranca no quarto vazio, com o coração vazio também.
E ao olhar para a cama bem feita, percebe a ausência de um dos travesseiros. E sabe que perdeu seu cobertor de braços e pernas.
Depois o ser indaga a si mesmo:
-  O que explica a minha omissão em relação à concretização de meus sonhos tão esperados? 
Algumas vezes, se o ser tenta recuperar o tempo perdido ,ele se empenha em tornar isso possível. E caminha à passos largos na direção de seu objetivo.
Outras vezes, se recusa a refletir com medo de que essa reflexão exija dele o que ainda não está preparado para assimilar.
E o vazio interior cresce e machuca. Até que um certo dia o ser se descobre solitário, sem sentido e preso em seu próprio casulo.
E o tempo segue, depois...
E depois do depois, o tempo segue sua linha cronológica e deixa de lado a linha emocional.
Depois o amor se torna impossível. Depois vem o adeus final e inexorável, cujo silêncio fala mais alto.
Depois é simplesmente depois...
E o adeus está próximo e nem vai ficar para depois...

KATIA CHIAPPINI

Um comentário:

  1. ANTES DE VOCÊ E DEPOIS DE VOCÊ HÁ UMA LINHA DIVISÓRIA.
    MAS SE NÃO ENTENDER ISSO, A TEMPESTADE E O VENDAVAL VÃO DESMANCHAR ESSA LINHA.

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