Aquarela de poesias

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Poesias para você

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

PARADOXOS DO AMOR!

                     PARADOXOS DO AMOR
           

O amor é o primeiro sentimento da humanidade e estará presente em toda a trajetória até o último suspiro.
Não há canções que não falem dos males do amor, de seu encantamento, de seu sofrimento, da saudade que não estanca, do bem-querer. Não há pintores que não revelem as moças de olhar sofrido entre suas obras.
As artes se valem dos temas de amor, os poemas mais tristes são os de amores desfeitos. Os contos, crônicas, ensaios e romances privilegiam a diversidade amorosa, em todas as eras. A literatura nunca deixou de falar de amor.
Mas ainda não aprendemos a amar, verdadeiramente.
Na sociedade atual fala-se muito mais de sexo do que de amor.
Talvez isso se explique pelo fato de ser o amor um sentimento que não se deixa decifrar e que foge da compreensão racional, por sua complexidade. Talvez esse vazio se deva à dificuldade de expressão no mundo contemporâneo.
Os centros urbanos criaram a solidão dentro da multidão. As pessoas estão lado a lado, mas o egocentrismo as afasta.
O trabalho na sociedade capitalista é estimulado pela competição e pelo individualismo. Exige um ritmo  exaustivo e se persegue o lucro muito antes da valorização do ser. E num trabalho alienado, repetitivo e rotineiro, mas com metas a cumprir, nem sempre é possível extrair algum prazer. Mas a sobrevivência faz com que o nosso trabalho nem sempre seja o de nossa escolha.
Do ponto de vista da política a situação não é reconfortante. Pisamos sobre ovos para dançar conforme a música e mascaramos nosso eu verdadeiro para preservar nosso lugar ao sol. As forças da opressão se revelam no medo, no ódio e na perda da própria identidade.
O amor é o desejo de união com o outro. Mas exige reciprocidade e afinidades. Ao mesmo tempo que quero dar prazer, preciso ser gratificada quando o recebo de volta. É preciso cativar para ser amado. O fascínio é gerador de poder .Um poder de atração de um sobre o outro. Mas, tal ''cativeiro'' não pode ser entendido como perda de liberdade. A união deve ser enriquecedora da personalidade. Precisamos crescer como seres humanos e nos conservarmos autênticos. Se concordarmos com a submissão não seremos felizes nas relações amorosas.
Se o amor se tornar possessivo, exclusivista e dominador, será, no mínimo, imaturo.
E o amor pode ser nocivo e castrar as expectativas.
Se um dono de cão  colocá-lo no colo para passear e só deixar que ele pise no solo para fazer suas necessidades, sendo o animal perfeito, estará impedindo sua locomoção .O cão vai perceber que outros cães correm e pulam, sendo seguidos por seus donos e contidos pela coleira, apenas. A carência afetiva do dono irá prejudica a liberdade que o animal deveria ter: a de correr atrás de uma cadela e balançar o rabinho de contente, por exemplo.
Nesse caso o amor em excesso se tornará nocivo porque tolhe, cerceia e inibe. É um amor egoísta.
O mesmo ocorre quando as madames levam seus pequenos e mimosos cães de estimação num carrinho de bebê e os conservam presos no interior, sem acesso ao solo, à terra. E as orelhas vão se manter murchas, os olhos tristes, a energia armazenada e, quem sabe, o cão se mostrará, em decorrência disso, agitado ou nervoso. 
Nem as pessoas, nem os animais aceitam a falta de mobilidade sem que se frustem e modifiquem a conduta.
Não se permita manipular por amor, nem por ciúme exacerbado. Se o sentimento não decorrer de uma liberdade responsável, não vai acrescentar valores, nem enriquecer o sentimento de cumplicidade, doação e entrega voluntárias.
Etimologicamente, o termo ciúme significa ''zelo''. Isso quer dizer que devemos ter cuidado com o amado. Significa medo de perdê-lo.
Ao contrário do ciúme cego que pretende o domínio integral em relação ao outro.
A literatura nos diz que, Marcel, personagem de Proust, inquietava-se de tanto ciúme em relação à Albertine, que só descansava quando a contemplava adormecida, ao seu lado.
Passamos a deduzir que o verdadeiro amor deve ser uma união de dois seres que concordem em preservar a própria identidade.
O amor é um convite para sair de si mesmo. Se a pessoa estiver centrada em si, dificilmente terá a clareza suficiente para ouvir os apelos do outro e criar com ele a empatia.
Essa pessoa vai acreditar em suas inverdades e suposições. Vai se contentar em culpar e julgar o outro de modo a distorcer a realidade, por se recusar a analisar os argumentos que não sejam os seus próprios.
Basta lembrar da lenda onde ''Narciso', ao ver sua imagem refletida na água, se apaixona por si mesmo. Isso causa sua morte porque se esquece de se alimentar, tão envolvido se acha ao fitar a própria imagem, mais bela do que todas, segundo seu ufanismo e vaidade.
O narcisista''morre'' na medida em que torna impossível aceitar a ligação fecunda com o outro.
O exercício do amor envolve confiabilidade e respeito. O verdadeiro respeito é a capacidade de ver uma pessoa como tal, reconhecendo sua individualidade singular. Não se trata de medo, nem de não querer contrariar por receio de ser advertido.
''Respicere,''em latim significa, significa ''olhar para''. Mas olhar para que a outra pessoa se desenvolva em todas as suas potencialidades e não que seja o que queremos que ela seja.
O paradoxo do amor é equilibrar o desejo de união com o reconhecimento de que é preciso preservar a própria individualidade. E permitir o exercício da individualidade nessa parceria afetiva. Amar é chegar antes que o outro chame. É intuir.
Os sentimentos são ambíguos. Ora amor, ora ódio. Ora prazer, ora um sentimento de dúvida para com aqueles que escolhemos, conscientemente, mas de cuja escolha resultou o abandono de outras possibilidades, de outras realizações pessoais. postas em segundo plano. Mas tanto o homem não deve abandonar o jogo de futebol com os amigos, como a mulher não precisa abandonar suas amigas e as voltas no Shopping, para um lanche informal.
O não saber administrar essa ambiguidade com maturidade leva certas pessoas a desistir do vínculo e optar pela separação.
Na vida precisamos saber ultrapassar as dificuldades.
De um lado nos arriscamos à viver a morte dos sentimentos, porque não sabemos como será o amanhã. Mas arriscar é existir, é a entrega total.  Não arriscar é deixar de viver.
De outro lado, o segredo da juventude emocional é se erguer e preservar a fúria de viver: é renascer quantas vezes se tornarem necessárias para buscar a felicidade. É imitar a águia em seu voo majestoso, com suas grandes asas, para alongar a jornada dos ideais sonhados.
Assim, como o amor não se explica com argumentos racionais e fechados, cheguei a uma simples conclusão:
-Adoro você porque é adorável e te amo porque te amo.
E como disse Elis Regina, no disco, já arranhado, que gosto de ouvir:
- És fascinação, amor!

                                    KATIA CHIAPPINI



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