Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

DIGUINHO E A CRUZ VERMELHA: BREVE CONTO

           DIGUINHO E A CRUZ VERMELHA
                        ( breve conto) 
Diguinho foi um grande amigo, desses que deixam saudade.
Era meu amigo especial e se dirigia, quase todas as noites, até minha casa, para conversar.
Minha família ficava um pouco na sala e depois eu permanecia com ele bem mais tempo. Era casado, tinha três filhos adultos, mas não tinha a devida atenção em sua casa.Talvez porque faltasse paciência e um pouco mais de solidariedade para saber contornar seu grave problema. Quando sentia estrelinhas a se mover na cabeça, como dizia, já sabia que ficaria mais agitado. E se trancava no quarto para não brigar com a família.
Mas, era acometido de ataques epiléticos, desde menino. Havia algumas ocasiões em que quebrava o copo que segurava ou deixava cair qualquer volume que portasse, quando acometido dos sintomas desse mal, agora mais controlado. Mas, desfalecia ou ficava'' sem chão'', ou seja,  o seu raciocínio congelava e ele ficava inerte, por alguns momentos. Eu o levava até uma cadeira próxima quase arrastado, e aguardava passar esse surto. Ficava mudo, de olhar parado...
Um dia, um amigo de Diguinho, levou-o pra visitar uma sede da Cruz Vermelha, que faz um trabalho gratuito na recuperação de drogados, além de outros trabalhos de utilidade pública, em épocas de convulsão social, onde há vítimas de violência.
Diguinho conseguiu um avental branco da Cruz Vermelha e uma identificação.
Começou a dar receitas para os enfermos,  a fazer curativos, massagens e visitas de apoio aos necessitados.
Diga-se de passagem ,que lia muito sobre medicina e saúde, pois seu sonho frustrado era o de ser médico.
Então, se sentia bem e fazia duplos plantões para ajudar nos trabalhos que se fizessem necessários, a cada dia.
Eis que, um dia como outro qualquer, ou quase, uma viatura da polícia recolheu meu amigo, por exercício ilegal da medicina junto à Cruz Vermelha.
Diguinho pediu para fazer uma ligação e falou com meu ex-marido, advogado e amigo da família do indiciado.
Meu marido, imediatamente, deixou o que estava fazendo e foi falar com o delegado, solicitando a soltura de Diguinho. E tratou de apresentar um atestado médico revelando seus problemas e limitações de cunho neurológico, bem como as sequelas que persistiam em persegui-lo.
 Meu ex-marido tratou de pagar a fiança e Diguinho foi solto e se revelou muito agradecido e mais calmo.
Ao sair da Delegacia de Polícia, com Diguinho, meu ex-marido lhe perguntou:
- Mas o que deu em você, Diguinho? Isso se faz?
- Não sei explicar, doutor, mas porque as pessoas em plena sanidade não se dedicam ao voluntariado para ajudar os seus semelhantes?

KATIA CHIAPPINI


3 comentários: