Aquarela de poesias

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Poesias para você

sábado, 20 de novembro de 2021

VISITEI UM ASILO

VISITEI UM ASILO


 Visitei um asilo!

Pode ser uma imagem de texto que diz ""A beleza só importa nos primeiros 15 minutos.Depois você tem que ter algo a mais para oferecer"."
VISITEI UM ASILO!
Quero relata uma experiência que tive ao visitar um asilo.
O motivo da visita era procurar por uma amiga que cantava na noite, antes de ser internada pela família. Eu queria descobrir como ela estava se sentindo nessa nova moradia.
Descobri que estava numa suíte e nada lhe faltava no local.
Mas, de imediato, minha amiga cantora pediu que eu a acompanhasse ao piano, já que a sala de música ficava livre para quem quisesse dela desfrutar.
Fomos até a sala, abri o piano, acomodei-me na banqueta.
Ela cantou uma canção romântica e seus olhos deixavam ver a alegria e interação com o momento.
Logo, logo, a sala foi invadida por outros internos, que, ao ouvir o som do piano, se deslocaram, deixando a sala da TV, onde estavam.
Minha amiga, depois de um tempo, pediu que eu continuasse tocando porque ela iria descansar a voz e queria sentar ao meu lado para ouvir as melodias que me pedira para interpretar.
Os ''visitantes'' começaram a cantar as canções que conheciam e a se emocionar. As palmas se multiplicavam e o entusiasmo tomou conta do recinto.
A energia se elevou e os ''velhinhos'' sorriam ,cantavam e se abraçavam emocionados.
Minha intenção de ver minha amiga se transformara de tal forma, que me dei conta de que não só essa era minha missão solidária do dia, como também, levar o toque do piano aos queridos e esquálidos ''velhinhos''.
Fiz uma pausa para o lanche que a instituição mandara servir e nos dirigimos ao refeitório. Lá, conversei com os internos e percebi que muitos deles tinham sido despejados na instituição porque deles as famílias queriam se ver livres, para não cuidar de suas especiais necessidades. Descobri que um dos motivos alegados para a internação de algumas pessoas era a incompatibilidade de gênio.
Outros, tomavam a iniciativa de falar sobre o assunto porque eram deixados sozinhos durante todo o dia, quando os membros da família se locomoviam para mais um dia de trabalho.
Outros eram interditados com atestado médico falso, porque a família já estava de olho grande para desviar os bens do idoso.
Algumas velhinhas me pediram para voltar uma vez por semana para tocar piano e conversar com elas.
Um senhor bem aprumado, juiz de direito aposentado, confessou-me que estava ali para não sofrer com tantas discussões, cada vez que ele ia sugerir uma ideia, ou quando pedia para dar uma volta de carro, ir ao cinema ou a um restaurante com a família, o que não ocorria, porque faziam de conta que ele era menos do que um fantasma.
Visitei esse asilo e me tornei popular. Era recebida com muitas demonstrações de carinho.
Deixei que aquela comunidade sofrida desabafasse suas mágoas. Procurei dar alguma mensagem e acalmar aqueles corações que já batiam sua desilusão pelos corredores da amargura.
Senti que fazia parte do grupo e meu toque, ao piano, operava milagres porque as fisionomias transbordavam serenidade e aconchego.
Certa ocasião, uma senhora me puxou pelo braço, quando eu saía da sala do piano, ao final de mais uma adição, e disse:
- Vou contar uma coisa
-Sim, diga
- Vejo minha família chegar. E os vejo pela fresta da janela de meu quarto.
- E o que acontece?
- Eles dão o cheque na secretaria, uma vez por mês, mas não se dirigem aos meus aposentos para me visitar. Fico triste e não contenho as lágrimas.
E me abraçando falou:
-Mas a vida continua...
Visitei um asilo, mas, antes, tenho visitado cada alma sofrida e levado, por breves momentos, um aconchego musical e solidário a todos eles.
Visitei um asilo e voltei muitas vezes. Entro na instituição com um aperto na alma, mas saio com a sensação de missão cumprida, por iniciativa própria, por um sentimento solidário.
Levo flores para minha amiga cantora e converso com ela antes de descermos para a sala de música.
A tarde passa sem que se perceba e os velhinhos nem querem me deixar sair, porque começam a pedir ''bis'' para cantarolar as canções.
Visitar nosso interior, nossa essência, nossa centelha divina, é de nossa responsabilidade. Vamos nos descobrir mais humanos e capazes de começar um trabalho voluntário, alguns dias da semana.
Espero ter visitado as almas de meus queridos leitores.
Desejo que reflitam sobre o valor da doação desinteressada de si mesmos.(as) O ego não irá nos dominar se não deixarmos.
E posso garantir a descoberta de uma satisfação sem preço, que nos leva a trocar sorrisos, abraços, beijos incontidos e muita gratidão.
Saímos de cada visitação, criaturas conscientes e prontas a interagir com o semelhante, como forma de agradecer a Deus sua benevolência e bondade para conosco. E as graças alcançadas e todas as preces acolhidas, serão maiores, quanto maior for nossa dedicação ao próximo.
Visitei o asilo,visitei minhas profundezas de alma, reformulei meus propósitos e tornei-me mais madura emocionalmente.
KATIA CHIAPPINI
Adélia Einsfeldt e Miranda Heloisa
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