Aquarela de poesias

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Poesias para você

domingo, 3 de agosto de 2014

O BEIJA-MÃO!




                            O BEIJA-MÃO!

Em épocas idas o beijo na mão era um gesto usual de delicadeza ou revelador da importância de um vulto da nobreza ou do clérigo.
As famílias mais antigas ensinavam a beijar a mão do pai, ao deitar, pedindo a bênção. O padrinho de meu filho tinha o hábito de oferecer a mão estendida, esperando ouvir:''bênção, padrinho'', junto ao beijo na mão.
Beijar a mão podia se revelar um gesto de ternura ao se despedir da amada e, antes de tudo, era um gesto de respeito.
Ao entrar no elevador, ainda hoje, um senhor mais maduro, um verdadeiro cavalheiro, costuma tirar o chapéu ao ver as damas. E esse é outro gesto que vem de tempos idos e hoje menos comum.
Mas o que vou relatar agora é a história de um beijo na mão especial.
Lúcia, minha amiga, precisava vender um sofá. Procurou estabelecimentos que trabalhavam com compra e venda de móveis usados.
Telefonou , por diversas vezes, para uma casa da qual tivera uma boa recomendação. Mas o entregador não tinha conseguido marcar um horário para atendê-la. Havia apenas um funcionário para esse serviço e seu itinerário diário era sacrificado.Lúcia percebeu que para chegar em seu endereço ele teria que fazer um roteiro longo para fazer o trajeto do estabelecimento até sua casa.
Tanto ligou, que em determinado dia, ao entrar em contato, mais uma vez, observou que o caminhão estava próximo de seu endereço.
Então sugeriu ao funcionário que aproveitasse o roteiro e a atendesse, na sequência.
Chovia muito e o homem falou:
- Senhora, estou exausto, sem alimento, com a roupa molhada e louco para chegar em casa para tomar meu café.  
- Mas vou lhe dar uma alternativa.
- Qual?
- O senhor vem retirar o sofá e eu lhe preparo um café.
- Sim, obrigada, aceito.
E assim, foi só aguardar o funcionário que , finalmente, esse bateu à porta da cada de Lúcia.
Ele chegou,  foi logo olhando para o sofá e falou:
- Posso lhe oferecer uns cinquenta reais?
- Eu queria lhe pedir, no mínimo, cem reais, porque o sofá sempre esteve protegido por uma capa e se encontra em estado de novo.
- E por que quer se desfazer dele?
- Porque veio de uma casa, com ampla sala, e aqui no apartamento ocupa quase todo o espaço útil.
O homem observou ao redor e se deparou com uma mesa farta, com todos os ingredientes sobre a mesa: pão, frios, mel, manteiga e um bolo de cenoura. Foi convidado para se sentar..
Enquanto tomava seu lugar à mesa falou:
- Cento e cinquenta reais está bom para a senhora?
- Sim, acho um preço justo.
O funcionário ficou conversando  e se alimentando e o fez com gosto. Lúcia percebeu que ele conversava muito e contava fatos de sua vida sofrida, com descontração.
Ela lhe deu a devida atenção e ouviu seu desabafo.
Ao final, depois de acondicionar o sofá para removê-lo, preguntou:
- Posso beijar sua mão?
E, antes que Lúcia respondesse, fez uma flexão e pousou os lábios em sua mão comentando com surpresa e emoção:
- Durante os meus 35 anos trabalhando em entregas nunca ninguém me perguntou se eu aceitaria uma xícara de café. 
Lúcia sorriu satisfeita enquanto fazia uma ligação para combinar a entrega do sofá novo que comprara.

                                    KATIA CHIAPPINI

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